25,jul.2024 – Por Norian Segatto
Em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, ocorrido na República Dominicana, foi instituído o Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, como forma de expressar as pautas e reivindicações comuns das mulheres negras contra o racismo e as diversas formas de opressão.
No Brasil, a data ganhou maior dimensão com a lei 12.986/2014, que tornou o 25 de julho, Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Rainha guerreira
No portal do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia é possível encontrar algumas informações sobre a vida da Rainha Guerreira, Tereza de Benguela. Reproduzimos aqui alguns trechos.
“O local de nascimento de Tereza de Benguela é desconhecido. Ela pode ter nascido em algum país do continente africano ou no Brasil, mas sua vida faz parte da história pouco contada do Brasil. Tereza viveu no século XVIII e foi casada com José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho até ser assassinado por soldados do Estado. O Quilombo do Piolho também era conhecido como Quilombo do Quariterê (a atual fronteira entre Mato Grosso e Bolívia). Esse quilombo foi o maior do Mato Grosso.
Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou a líder do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas. O Quilombo do Quariterê abrigava mais de 100 pessoas, com destacada presença de negros e indígenas. Tereza navegava com barcos imponentes pelos rios do pantanal. E todos a chamavam de “Rainha Tereza”.
“Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias assinalados de todas as semanas, entrava os deputados, sendo o de maior autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto Antônio Pacheco de Morais, Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executava à risca, sem apelação nem agravo.” – Anal de Vila Bela do ano de 1770.”
Dia de luta
Lembrar Tereza de Benguela e a luta de todas as mulheres negras de nosso continente não é apenas a homenagem de um dia, mas vale a reflexão do quanto ainda estamos distantes de uma sociedade minimamente justa. Comemorar os 22 anos dessa data e os dez anos da lei 12.986 é reforçar o grito contra a impunidade do massacre ao povo negro, pobre, periférico, ao racismo que estrutura as relações de poder da sociedade brasileira há séculos, das desigualdades salariais e de condições de trabalho, da repressão policial, do machismo, do feminicídio.
Conforme pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), divulgado em julho de 2023, a remuneração média das mulheres negras era de R$ 1.948, apenas 48% do que homens brancos ganham na média, 62% do que as mulheres brancas recebem e 80% do que os homens negros ganham. Clique aqui para ver outros dados sobre mercado de trabalho e mulher negra produzidos pelo Ibre.
Nesse 25 de julho ocorrem atos, marchas e mobilizações em diversas partes do país. Na capital paulista, a concentração acontece na Praça da República, a partir das 17h30.