São Paulo – Após 20 anos do massacre do Carandiru, o sistema prisional do país ainda apresenta registros numerosos de mortes. O padre Valdir Silveira, coordenador da Rede 2 de Outubro e da Pastoral Carcerária, aponta que a estrutura precária de políticas em relação à população carcerária se reflete nestes números.“É garantia que o sistema de matança continua. Os dados são maiores do que os de qualquer extermínio na rua, não há população que é tão ‘matada’ quanto à população carcerária”, disse em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Segundo dados da administração penitenciária do estado de São Paulo, no período entre 1999 e 2006, 3.265 detentos morreram sob custódia do Estado. A falta de médicos e judiciário é uma reclamação antiga, e é apontada pela Rede como causa da falta de precisão dos dados. “Não há médicos no sistema prisional. As maiores reclamações dos presos é em relação à saúde e à assistência jurídica”, diz o padre. Ele lembra que muitas mortes são dadas como naturais, enquanto não há médicos para revelaram com mais exatidão a causa destas mortes.
Para Rodolfo Valente, militante da Rede e assessor jurídico da Pastoral Carcerária, relembrar o massacre é lutar para que não apenas os pobres paguem pelos seus erros. “São 20 anos de não-responsabilização dos agentes públicos. Essa política de massacre existe desde que o Brasil é Brasil, e foi aprofundada na ditadura militar, mas que continuam a cada dia que passa”, diz.
O coordenador da Rede 2 de Outubro não acredita que o sistema prisional seja capaz de “recuperar” pessoas que não tiveram acesso a outras escolhas que não a criminalidade. Segundo ele, 70% dos jovens do sistema prisional se tornam reincidentes, mais uma fator que revela a falha do sistema.
O sobrevivente do massacre do Carandiru Sidney Francisco Sales não pede a condenação de seus agressores, mas sim uma nova forma de olhar para aqueles que foram condicionados fortemente à seguirem pelo caminho da criminalidade. “Acredito na capacidade das pessoas de se regenerar, de sonhar”.
O único responsabilizado pelo massacre do Carandiru foi o coronel Ubiratan Guimarães, comandante da operação da tropa de choque, mas foi absolvido no mesmo ano em que foi as assassinado. O julgamento dos outro 28 réus envolvidos com o caso foi marcado para janeiro de 2013.
A Rede 2 de Outubro organiza uma séria de atos para relembrar o massacre. Amanhã haverá um ato ecumênico na catedral da Sé às 15h e em seguida uma manifestação que seguirá até o Tribunal de Justiça de São Paulo e a Secretaria de Segurança Pública. No sábado (6),a partir das 11h, será realizada a Caminhada Cultural pela Paz pela Liberdade, no Parque da Juventude, construído no local onde ficava a Casa de Detenção do Carandiru, após sua demolição.
Ouça aqui a reportagem de Cláudia Manzzano.