São Paulo – O racismo historicamente imposto à população negra no Brasil é a principal causa do sofrimento psíquico, que afeta muito mais os negros do que os brancos. O alerta foi feito pela cineasta carioca Janaína Oliveira, mais conhecida como Re.Fem, militante do movimento negro e Hip Hop e consultora de entidades do setor durante sua participação na 2ª Mostra Nacional de Práticas em Psicologia, realizada em São Paulo.
O evento, que termina amanhã (22), celebra os 50 anos da regulamentação da psicologia como profissão no Brasil. O objetivo de sua palestra foi sensibilizar os psicólogos para um atendimento mais adequado a essa população, que aos poucos passa a ter acesso a esses profissionais que cada vez mais atuam em serviços públicos de saúde mental, como os Centros de Atendimento Psicossocial (CAPs).
“O Brasil é extremamente racista; os negros sofrem todo tipo de racismo, sendo desfavorecidos no acesso à saúde, à educação, mercado de trabalho”, destacou Janaína. “Quando não consegue entrar na faculdade, por exemplo, tende a se achar incapaz de passar num vestibular. Do mesmo modo, se sente culpado por não obter um bom emprego, quando na verdade é o racismo que cria condições desiguais de acesso”, disse.
Segundo ela, essa cobrança por melhores resultados num contexto desfavorável, de racismo e discriminação, aumenta a angústia e sofrimento psíquico. “Os psicólogos devem ser sensibilizados para a questão e ser capacitados para atender a essa população de maneira mais apropriada”, afirmou.
A Política Nacional de Saúde Integal da População Negra, promulgada em 2008, é referência para políticas públicas do setor. Segundo o documento, os negros têm o direito ao atendimento psicológico permanente do nascimento ao envelhecimento. “Muito embora os movimentos negros comecem a fortalecer a luta por esses direitos, eles ainda nem começaram a sair do papel”.
No evento, Janaína recebeu o prêmio Paulo Freire, que reconhece o trabalho de pessoas que se dedicam à defesa dos direitos humanos.