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Quem sai perdendo com o Ato Médico?

O Projeto de Lei (PL) do Senado nº 268/2002, conhecido como Ato Médico, traz um conceito de doença no qual todas as necessidades de saúde estariam sob o guarda chuva do diagnostico nosológico privativo do médico porque atendem à definição de grupo identificável de sinais e sintomas e alterações psicopatológicas. As consequências disto serão desastrosas para os usuários dos serviços de saúde.

Hoje se trabalha com a ideia de saúde humana e das coletividades como território das humanidades, da singularização da vida e das articulações entre políticas sociais, econômicas e qualidade de vida.

A saúde de qualidade hoje necessita da corresponsabilidade dos saberes presentes nas profissões. Hierarquizar essa relação é ferir a troca solidaria a favor do usuário dos serviços.

No projeto, o que deveria ser privativo do médico é o diagnostico médico ou as necessidades de intervenção médica. O PL reduz as profissões ao estatuto de tecnologias, onde apenas a medicina e odontologia seriam científicas. Cabe ao médico resguardar as competências próprias das profissões já que ele é o que domina o processo de avaliação e indicação de cuidados.

Ponto polêmico

Diagnóstico nosológico e prescrição terapêutica: refere-se ao diagnóstico de sinais e sintomas das doenças. Significa dizer que não é admissível que um profissional da área de saúde trate um paciente, de forma segura e digna, sem saber ou mesmo identificar os sinais e sintomas das patologias. As doenças são, em sua maioria, multifatoriais, por vezes não totalmente conhecidas, cabendo a cada profissional, dentro de sua formação técnica, identificar conjunto de sinais e sintomas para a minimização da patologia do paciente.

Impactos na população

– Precisará passar no médico para depois ser encaminhado a outros profissionais da saúde como nutricionistas e psicólogas (os);

– Pagará uma consulta a mais na rede privada de saúde;

– No SUS, pode haver mais demora nos atendimentos, ou congestionamento nas filas de espera;

– Impacto financeiro sobre a saúde pública e na saúde suplementar;

– Faltam médicos no Brasil, especialmente nas periferias e rincões. Quem vai chefiar os serviços de saúde nesses lugares?

– Perda do olhar multidisciplinar impacta na qualidade dos serviços. Isso fere os princípios do SUS!

– Mina a atuação multiprofissional no cotidiano das unidades de saúde, afetando políticas como Saúde Mental, Atenção Básica e outras nas quais profissionais de várias áreas trabalham de forma integrada, compreendendo processos de saúde, doença, prevenção.

Impacto entre psicólogas (os) e profissionais de saúde

– Psicólogas (os) perderão possibilidade de diagnosticar sobre saúde mental e fazer prescrição terapêutica. Exemplo: Não poderá nem diagnosticar depressão, nem indicar terapias.

– Enfermeiras (os) não poderão fazer um exame de sangue sem autorização de um médico.

– Fonoaudiólogas (os) não poderão diagnosticar problemas de fala nem prescrever exercícios e tratamentos.

– Nutricionistas não poderão diagnosticar distúrbios alimentares e indicar tratamentos.

– Acupuntura será privativa de médicos, por ser considerado procedimento invasivo.

– Só médicos poderão emitir atestados e realizar perícias.

– Só médicos poderão trabalhar na direção e chefia dos serviços de saúde

– Hoje, equipes multidisciplinares definem em conjunto o diagnóstico e o tratamento, somando suas diversas visões de saúde e de doença para chegar à melhor intervenção. Com o PL, isso poderá se perder.

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