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Violência nas periferias é denunciada no Grito dos Excluídos

São Paulo – Entoando gritos de “a juventude que ousa lutar constrói o projeto popular”, 8 mil pessoas marcharam hoje (7) da Praça Oswaldo Cruz à Assembleia Legislativa de São Paulo, no Grito dos Excluídos, que há 19 anos reúne trabalhadores e movimentos sociais em um ato alternativo aos desfiles oficiais de 7 de setembro. Em um protesto pacífico, os manifestantes pediam o fim da violência na periferia, em especial dos assassinatos de jovens negros cometidos pela polícia.

“O Mapa da Violência de 2012 mostra que os jovens negros são as principais vítimas dos homicídios nos centros urbanos, 53% do total”, diz a carta do Grito dos Excluídos 2013, que teve como tema central a Juventude. “Responsável por parte significativa dessas mortes, a polícia paulista mata mais que toda a polícia dos Estados Unidos”, continua o texto.

“O extermínio da juventude negra mata mais do que muitas guerras por aí”, afirmou o coordenador da Central dos Movimentos Populares, Raimundo Bonfim. “A juventude é a maior vítima do capital. Os jovens são os que ficam com os piores empregos, piores salários e piores serviços de educação e saúde.”

Ele lembrou que o Grito dos Excluídos começou em 1995, em protesto ao projeto econômico neoliberal, que ganhava força na época, com o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).  “Queríamos mostrar que havia uma força grande contrária a isso no país. Escolhemos 7 de setembro para lembrar que a independência substancial ainda não aconteceu, e só acontecerá quando todos tiverem acesso a saúde, educação e ao poder público.”

Paralelo ao ato da Avenida Paulista, outro protesto do Grito dos Excluídos reuniu manifestantes na Praça da Sé, encabeçado pelas Pastorais Sociais. Segundo Bonfim, é positivo que aconteçam atos diferentes na cidade em prol dos mais pobres. “Queremos a inclusão, mas não pelo consumo e sim pela cidadania”, bradou.

Protesto em paz

Os manifestantes se concentraram desde às 8h30 e ocuparam a Avenida Paulista, que foi fechada, por volta das 10h. Eles seguiram pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio, com acompanhamento da Polícia Militar e da Companhia de Engenharia de Tráfego, até o Parque do Ibirapuera.

Participaram representantes da Central dos Movimentos Populares, da Marcha Mundial de Mulheres, do Movimento dos Sem-Teto do Centro, do Movimento de Moradia do Centro, do Levante Popular da Juventude e da União dos Movimentos de Moradia.

“A pauta da classe trabalhadora é extensa e queremos mostrar que há uma juventude que luta por ela”, disse a estudante de Direito, Beatriz Loureiro, de 24 anos, que participava do ato na Paulista. “Essa é uma alternativa ao 7 de setembro militarizado. Não faz sentido comemorá-lo assim quando temos uma polícia militar que mata a juventude negra.”

A secretária de comunicação da Central Única dos Trabalhadores em São Paulo, Adriana Magalhães, lembrou que os jovens são os que mais sofrem com a perda de direitos trabalhistas. “Eles são a maioria dos terceirizados e dos desempregados”, disse. “Por isso estamos aqui pedindo o fim do Projeto de Lei das terceirizações (4330).”

O estudante de Economia Matias Domingo, de 20 anos, que participou do ato neste ano pela primeira vez, lembrou que o tema central da marcha é relevante por trazer à tona outros problemas sociais. “A questão dos jovens é transversal. Quando se fala neles falamos de acesso a educação, saúde e cultura”, disse. “Queremos lembrar a direita que o povo não acordou agora. Os trabalhadores e os movimentos sociais estão nas ruas há anos, lutando por direitos.”

A estudante de Direito Yasmin Casconi, de 24 anos, concordou. “Os movimentos sociais nunca dormiram. Há toda uma história de conquistas sociais.” Para o coordenador do Levante Popular da Juventude, Pedro Freitas, a onda de manifestações foi um incentivo para que a juventude participe mais da política do país. “Nossos grupos de discussão tem aumentado”, disse. “Hoje estamos aqui contra o extermínio da juventude negra e pobre e pelas cotas sociais e raciais nas universidades públicas do estado de São Paulo.”

O ato terminou com a ocupação pacífica do Monumento às Bandeiras, em frente ao Parque do Ibirapuera, uma obra que representa os bandeirantes no Brasil colonial. Ele foi tomado por faixas pedindo o fim da violência nas periferias, habitação digna e apoiando o programa Mais Médicos, do governo federal, que prevê levar profissionais para regiões pobres e isoladas onde não há médicos.

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