Por Norian Segatto
Uma armadilha! Assim a diretora do SinPsi e membra do Conselho Nacional de Saúde, Fernanda Magano, avaliou o anúncio do governo do estado de São Paulo de contratar 550 psicólogas para atendimento na rede escolar estadual. O anúncio foi feito na quinta-feira, 13abr., pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas durante visita à Escola Estadual Thomazia Montoro, onde um aluno atacou colegas e matou a professora Elizabeth Tenreiro há cerca de duas semanas.
“É importante a contratação de profissionais da Psicologia, no entanto ela deve ocorrer dentro dos princípios da lei 13.935, que determina psicólogas e assistentes sociais na educação, mais em uma função de interagir com toda a comunidade educadora e não só nos atendimentos clínicos. É uma armadilha essa lógica de atendimento clínico sem plano de trabalho”, explica Fernanda Magano.
Um aspecto que também chama a atenção no anúncio governamental é que não está especificada a forma de contratação, que deveria ser por concurso público, ou, em caso emergencial, um processo seletivo que tenha como parâmetro a lei federal aprovada. Foi um anúncio feito sem qualquer estudo psicopedagógico, sem um debate profundo com as partes interessadas (professores, pais, alunos, psicólogas) e com a sociedade. Trata-se, assim, de uma medida paliativa de caráter demagógico.
O governo anunciou, também, a contratação de segurança privada para fazer rondas nas escolas. A segurança é importante para todos, mas de um ponto de vista mais amplo, também causa preocupação para aqueles que buscam uma sociedade que não seja movida pelos discursos de ódio e eliminação de quem pensa o contrário.
A sociedade precisa discutir e buscar alternativas ao projeto neofascista de ódio e ataques virtuais e reais, que proliferaram nos últimos quatro anos. É preciso enfrentar a violência com uma Educação que ultrapasse a lógica mercantilista e meritocrática, na qual só é cidadão quem consome; uma sociedade que incentiva o consumo e ao mesmo tempo nega a seus cidadãos as condições materiais para isso, que embasa a vida na lógica da competição individualista, em vez da cooperação solidária, é uma sociedade que faz seus indivíduos adoecerem e, no desespero, tomarem atitudes extremas.
Contratar segurança é importante, mas é combater o efeito, não a causa de episódios como os que estamos assistindo e que já se tornaram uma trágica rotina nos Estados Unidos, berço do individualismo.
A iniciativa da contratação é positiva, mas sem que sejam definidos com clareza como esse trabalho irá atuar no território, em diálogo com a sociedade, de acordo com as diretrizes da lei 13.935, com quais equipamentos e interfaces, estaremos diante de um paliativo populista, que pode se tornar pouco eficaz. Além disso, a contratação de seguranças particulares será um chamariz para setores reacionários e de extrema direita pressionarem o governo para o armamento dessa segurança, o que pode gerar ainda mais tragédias.