O Salão Negro do Congresso Nacional, com suas grandes dimensões, foi pequeno para a festa que centenas de portadores de síndrome de Down e outras deficiências fizeram nesta quarta-feira (21) nas comemorações do Dia Internacional da Síndrome de Down.
A presença de ministros de Estado, empresários, além de diversos parlamentares foi ofuscada pela alegria das crianças, especialmente as portadoras de Down, de poder estar ao lado do deputado Romário (PSB-RJ) e do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), ambos pais de crianças também portadoras da deficiência e engajados no desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade de vida e de ensino de crianças e adultos portadores da síndrome.
“Essa festa não é nossa [deputados, senadores e ministros]. A festa é das famílias que estão aqui”, resumiu o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ao perceber a correria das crianças para tirar fotos com Romário e Lindbergh enquanto discursava. Ele ressaltou a necessidade de se manter os esforços para “a sociedade acabar com preconceitos” em torno dessas pessoas. Segundo Sarney, ainda existem ações que não cabem mais na geração do século 21, como o uso de testes de inteligência.
Sarney destacou que, hoje, está claro para a sociedade que as crianças portadoras de Down são diferentes e assim devem ser tratadas dentro de políticas inclusivas. “Se faz necessário e urgente que os professores sejam preparados para lidar com os portadores de Down.”
Emocionado durante todo o seu discurso, Romário referiu-se a sua filha caçula, Ivy Bittencourt, e aos demais portadores da síndrome de Down como “anjinhos”. O parlamentar e ex-jogador de futebol ressaltou que o nascimento de sua filha, há sete anos, tornou-o uma pessoa mais atenta a causa “e menos egoísta”. Vizinho, no Rio de Janeiro, de portadores da deficiência com mais de 30 anos de idade, Romário disse que colheu relatos dessas pessoas sobre a visibilidade e atenção que recebem hoje.
Ele recordou uma frase sua, pronunciada quando era jogador de futebol, durante uma entrevista, e interpretada equivocadamente. O fato, segundo ele, marcou sua carreira. Hoje, acrescentou, ele pode entender melhor quando disse “Papai do Céu olhou para a Terra e disse: aquele [Romário] é o cara”. O deputado destacou que todos os pais que têm filhos com Down são especiais por conviverem com pessoas que lhes trazem “mais carinho e compreensão”.
Já Lindbergh Farias destacou a importância de se ter um protocolo de saúde voltado para implementação de políticas públicas direcionadas aos portadores da síndrome. Segundo ele, apesar dos avanços já obtidos ainda existem milhares de crianças pobres portadores de Down e que nascem com problemas cardíacos. Agora, a partir desse protocolo, todos os recém-nascidos terão que se submeter a exames de rápida detecção do problema.
O senador fluminense destacou, ainda, o lançamento na internet do portal Movimento Down, que pretende ser referência para todos os que buscam informação, orientação e um espaço de discussão sobre a síndrome de Down. “O portal com acessibilidade facilitará encontros de portadores e especialistas no tema”, ressaltou o parlamentar. Como Romário, o senador emocionou-se, ao citar a sua filha Beatriz na cerimônia.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que, apesar das políticas públicas já implementadas, ainda é grande, principalmente nas áreas rurais, o número de crianças com deficiência que não têm acesso à escola. “Vamos buscar uma a uma dessas crianças. Essa é a orientação da presidenta Dilma Rousseff: nenhuma criança com deficiência fora da escola”.
Mercadante acrescentou que o governo vai oferecer 2.600 ônibus preparados para receber crianças com deficiência às localidades que necessitam de transporte para levar os meninos e meninas às escolas com salas multifuncionais, ou seja, que têm equipamentos próprios para facilitar o acesso de portadores de deficiências.
Outra linha de ação do Ministério da Educação é viabilizar o ingresso dessas pessoas no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Mercadante pediu a Romário e a Lindbergh que o ajudem a fazer um mapeamento das principais habilidades vocacionais de crianças portadoras de síndrome de Down. Com isso, o programa poderá direcionar a profissionalização dessas pessoas para determinadas funções no mercado de trabalho.
Também presente na cerimônia, o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, ressaltou que o Brasil conseguiu projetar, nos debates internacionais, a importância sobre políticas públicas para portadores de Down. Ele disse que o país tem demonstrado engajamento na causa, mas reconheceu que “a luta ainda é grande e deve ser tratada dia a dia na família e pelo Estado”.
No evento, esteve presente ainda o governador de Sergipe, Marcelo Déda, com seu filho mais novo, Mateus, que também é portador da síndrome de Down.
