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30 anos: com música sarau e oficina de grafite, CUT mostra que a arte é fundamental para transformar o mundo

Um dia após ato político, Central promoveu jornada cultural em São Bernardo do Campo

Como dizia a ativista Emma Goldman, se eu não posso dançar, não é minha revolução. E seguindo essa máxima, um dia após comemorar os 30 anos, a CUT promoveu no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, berço de seu nascimento, um dia inteiro de atividades culturais.

Shows, teatro, saraus, exposições, oficinas de graffitti, feira e desfile de economia solidária marcaram essa quinta-feira (29) gelada no município do ABC paulista.

Resgate da história

Desde a quarta (28), o local recebe a exposição “A ilustração no movimento sindical – charges, tiras e cartoons”.

Organizado pelo Cedoc/CUT (Centro de Documentação e Memória Sindical), vinculado à secretaria geral da Central, a mostra reúne materiais históricos, que resgatam a história da CUT a partir de livros, periódicos, folhetos, charges, tirinhas e quadrinhos.

O acervo possui produções de 81 cartunistas, entre eles, Laerte, Glauco, Glauber, Oscar, Marcatti, Pecê, Bira, Latuff, Paulo Caruso.

A produção mais antiga é datada de 1978, de autoria dos cartunistas Laerte e Henfil, quando, pela primeira vez, se ilustrou a necessidade da construção de uma ‘Central Única dos Trabalhadores para se contrapor aos poderosos grupos empresariais, organizados e unidos em defesa dos seus interesses’.

Um diferencial dessa exposição é a acessibilidade, por meio de tirinhas sonoras com adaptação radiofônica e filme disponibilizado também em libras.

Historiador, arquivista e coordenador do Cedoc/CUT, Antônio José Marques destaca a importância deste regaste histórico, “pois com o desenvolvimento tecnológico, as publicações e ilustrações sindicais têm desaparecido da forma como eram produzidas antigamente. A partir destas ilustrações fazia-se a conscientização dos trabalhadores e trabalhadoras. Então, recuperar este trabalho é recuperar a história da CUT e destes cartunistas”, afirmou.

A partir do dia 4, a exposição estará na sede da CUT (Rua Caetano Pinto, 575 – Brás) e aberta a visitação pública.

Sem atravessador

No estande da Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)-Conexão Solidária era possível conhecer, degustar e comprar desde alimentos até artesanato produzidos por agricultores familiares.

Segundo Ari Aloraldo, coordenador da ADS e presidente da Associação Conexão Solidária, um dos fatores que dificultam a ampliação da economia solidária é o desconhecimento por parte do próprio movimento sindical. “Daí a relevância de estarmos presentes nesta Jornada, expondo e comercializando os produtos e reafirmando a necessidade do movimento sindical compreender a importância deste segmento para inclusão das pessoas excluídas ou semi-excluídas”, disse.

Gerente da agência, Luciana Moretti explicou a diferença entre os produtos da economia solidária e aqueles que se encontra no supermercado.

“Para começar, esse produtos são feitos em associações, cooperativas ou empresas solidárias que adotam o princípio da economia solidária: tem uma remuneração justa para o produtor, gera renda para a comunidade onde são produzidos, não denigrem o meio ambiente, têm preocupação com mão de obra precarizada. Isso faz com que tenha crescimento baseado na preocupação com a questão econômica, social e ambiental”, explica.

O papel da ADS, destaca, é eliminar o atravessador que se coloca entre o agricultor familiar e o cliente, potencializar a comercialização e buscar mercado para esses produtos. “A grande dificuldade para essas famílias é que, além da produção, precisam se preocupar com a gestão e a venda, que são gargalos da economia solidária.”

De acordo com Luciana, há 100 empreendimentos cadastrados na economia solidária, que empregam até 15 famílias cada.

Mas o papel da agência não para por aí. A ADS também promoveu um desfile de camisetas do projeto “Todas as cores, todos os amores”. As peças foram confeccionadas por trabalhadoras da Cooperativa de Costureiras de Osasco e desenhadas por 10 estilistas famosos. Parte da renda é revertida para a Casa Brenda Lee, que cuida de pessoas com AIDS.

Marize Alves e Elizete Leite fazem parte desta Cooperativa, experiência de sucesso na prática do empreendedorismo solidário e sustentável .

A partir de um projeto da prefeitura de Osasco conhecido como ‘operação trabalho’, em 2006, cerca de 98 mulheres tiveram acesso a informações para aprender técnicas de confecção de têxteis e de empreendedorismo.

Em 2007, essas trabalhadoras oficializaram a constituição da Cooperativa de Costura Osasco que ocupou neste primeiro momento um outro espaço da Prefeitura. “Este processo durou pouco mais de um ano e muitas das companheiras acabaram desistindo devido principalmente as dificuldades financeiras. Muitas vezes acabávamos tirando dinheiro do próprio bolso para estruturar a Cooperativa”, contou Marize.

Hoje, a Cooperativa possui 10 sócias. Há três anos, as trabalhadoras conseguiram locar um espaço próprio onde confeccionam camisetas, uniformes operacionais, sacolas retornáveis, que são comercializadas a partir de uma parceria com o Conexão Solidária, outras sociedades e divulgação através do blog. Clique aqui e confira.

“Além de ser uma forma de gerar renda, é uma oportunidade dessas mulheres se sentirem sujeitas de transformação, já que a maioria possui mais de 40 anos e teria dificuldade de se integrar no mercado de trabalho. Muitas já retornaram aos estudos”, narrou Elizete

Por conta da tributação, a Cooperativa vai se transformar em uma microempresa. No Brasil, a incidência de tributos sobre uma cooperativa pode chegar a 21%, enquanto que para uma microempresa varia de 4 a 12%. “Vamos fazer esta migração por ordem econômica, mas manteremos a lógica da gestão cooperativa com a margem de lucro dividida igualitariamente entre as 10 sócias”, declarou Elizete.

Rua ganha espaço

Em um espaço dedicado à música, poesia e grafite, onde os grafiteiros realizavam oficinas e ensinavam ao público como utilizar o spray para pintar os próprios quadros, Carolina Peixoto, gerente da Conecta Brasil, agência responsável pelos artistas, falou de como a arte de rua tem ganhado espaço nas cidades.

“Hoje em dia está tomando proporção maior, conseguimos estar num espaço como esse, sendo remunerados para isso, que é uma das dificuldades do artista independente. Tem crescido, mas ainda falta reconhecimento.

Organizar para se autossustentar

Artesã da Feira do Artesanato de Feital, um bairro de Mauá na região do Grande ABC, Ana dos Santos, conta que o trabalho é resultado da qualificação de moradoras que passaram por um curso no Cras e se auto organizaram há oito meses para enfrentar o mercado. “Algumas meninas fizeram curso e de lá surgiu a ideia de montar a feira juntando todo mundo para estar unido fazendo artesanato”, explica.

Vestido com jaleco de médico para mostrar a vida de um palhaço longe do picadeiro, no monólogo “O mesmo que faz rir é o que chora no camarim”, Bruno Almeida, conta que a ideia de protagonizar um drama veio dos saraus da periferia e da vontade de ir além da risada fácil.

Para ele, artista independente, a proximidade com o púbico é fundamental para quebrar a distância e desmitificar o artista.

“A gente costuma sempre quebrar essa quarta parede, trabalhar palco e público. Se tiver só um palco, a gente vai descer e fazer a peça no meio da plateia. Porque aí eu consigo sentir mesmo o que as pessoas estão sentindo”, explica.

Prefeito de Santo André lembra 30 anos da CUT

Já no início da noite, o prefeito de Santo André, Carlos Grana, um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores, visitou o Vera Cruz e aproveitou para lembrar a distância entre o que imaginavam os trabalhares e a realidade da CUT em 2013.

“A gente não era capaz de ter ideia do que iríamos poder fazer neste país em tão curto espaço de tempo. Queríamos ter voz, ter vez, reivindicar, botar a garganta pra fora em pleno regime da ditadura militar, não tínhamos dimensão do que faríamos em 30 anos. Foi por nossas mãos que se levantou a redemocratização, o Brasil vivenciou uma ascensão social e representa o que representa no cenário mundial. Deixamos de falar o iríamos fazer e mostramos o que somos capazes de fazer com nossos vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e com o presidente Lula. A CUT tem tudo a ver com a história do Brasil, como o Brasil tem a ver com a história da CUT.”

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