Desde a década de 90, o mês de outubro é dedicado à conscientização a respeito do câncer de mama. O chamado “outubro rosa” exalta a importância da prevenção e estimula o autoexame de mama para possibilitar diagnósticos precoces, quando a doença é mais fácil de ser combatida. No entanto, falar de peitos femininos ainda é um grande desconforto para muita gente.
Na última quinta-feira (9), uma exibição televisiva envolvendo seios causou polêmica: a série Malhação, veiculada pela Rede Globo, exibiu uma cena em que a personagem de Helena Fernandes faz o autoexame de toque na frente de um espelho enquanto chora, por medo de estar com câncer de mama. O problema? Os seios de Helena foram filmados e mostrados sem qualquer censura.
É importante analisar a forma como nossa cultura encara os seios femininos: a erotização dos seios é tão comum que acaba se tornando uma imposição, de tal forma que chega a ser impensável que os seios possuam outras funções além do estímulo sexual. Isso não quer dizer que seios não sejam partes erógenas importantes do corpo ou que seja errado sentir atração sexual por eles, mas implica no desafio de reconhecer o corpo da mulher como capaz de desempenhar outras funções além do papel sexual.
Por isso são tão comuns os casos em que mães são constrangidas quando amamentam seus filhos em locais públicos. Para muitas pessoas, é preferível que a mulher fique desconfortável e coloque panos sobre o rosto do bebê – prejudicando sua respiração e bem estar – a correr o “risco” de mostrar um mamilo em público. De modo similar, seios exibidos na televisão durante uma abordagem totalmente voltada para questões de saúde também causam choque e revolta. Para nossa sociedade, o corpo da mulher muito dificilmente está desvinculado da objetificação sexual.
Os prejuízos gerados por essa mentalidade, que reduz a mulher ao sexo, são muito evidentes: além de dificultar o trabalho sério de quem luta contra o câncer de mama e prejudicar a vida das mães que precisam alimentar seus filhos, esse raciocínio está de tal forma naturalizado em nossa sociedade que é usado como argumento e justificativa para as mais diversas atitudes machistas. É a partir dessa noção de que mulheres são exclusivamente sexuais e que essa sexualidade deve servir aos homens que muita violência é perpetuada, como no casos de ciúme que resultam em agressão, estupros e a lesbofobia.
O Outubro Rosa precsia ir além da discussão sobre o câncer de mama e promover mais ações para desconstruir a ideia de que seios são exclusivamente sexuais. Além de forticificar a relação das mulheres com seus corpos, iniciativas assim seriam extremamente pertinentes para o empoderamento feminino. A conscientização e a educação são as duas melhores vias para gerar equidade entre os gêneros e mais respeito pelas mulheres na sociedade. Essa responsabilidade é de todas as pessoas – incluindo as instituições envolvidas na prevenção e combate ao câncer de mama.