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Fórum Construindo Vidas Despatologizadas propõe mais escuta antes do diagnóstico

Na noite de 15 de outubro, aconteceu a abertura do fórum Construindo Vidas Despatologizadas, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com a presença de diversos professores da Universidade, incluindo Rosangela Villar, membro do Movimento Despatologiza; Rogério Giannini, presidente do SinPsi; e de Gustavo Sales, representante do CRP/SP.

O objetivo do fórum é propor que os comportamentos humanos sejam mais analisados antes de serem diagnosticados como doença, mas como personalidade do indivíduo ou sinais de sofrimento na vida pessoal, profissional ou acadêmica.

A Conferência de abertura foi feita pela deputada Maria do Rosário, pedagoga e ex-ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

A deputada citou casos frequentes em que a patologia é aplicada. Por exemplo, em crianças com dificuldades no rendimento escolar, tratamento de dependentes químicos e de presidiários e também da homoafetividade. Em todos os casos, Rosário defendeu que é necessário um acompanhamento e uma análise de cada caso, não devendo-se precipitar em diagnosticar como doença.

Rosário afirmou que a medicalização acontece sem investigação a fundo e que isso pode prejudicar o tratamento de algumas pessoas, como as que têm déficit de atenção ou hiperatividade. Para ela, esses comportamentos podem ser decorrentes de agressões físicas ou morais que a criança esteja sofrendo ou até mesmo ser característica da personalidade desta criança.

Maria do Rosário ressaltou que a homoafetividade não pode ser interpretada como doença. Alguns projetos de Lei planejam classificar os homoafetivos como doentes e o Movimento Despatologiza tem o objetivo de barrar esses projetos, uma vez que defendem como orientação afetiva e não patologia.

A Coordenadora da Saúde da Criança e do Adolescente da Prefeitura de Campinas, Tania Maria Marcucci, explicou que o aumento da medicalização ocorreu quando as escolas começaram a encaminhar crianças para psiquiatras e neurologistas, com o argumento de ser diferente das demais e de não ter concentração em sala de aula, não atendendo, assim, aos padrões estabelecidos pela sociedade.

São frequentes os diagnósticos de dislexia, dificuldade de leitura, e hiperatividade, dificuldade de se manter concentrado. Porém, o uso destes medicamentos são feitos apenas durante o período de aula, nas férias ele é descartado. Foi percebido, nesta abstinência, que a criança desenvolvia o zombie like, o raciocínio mais lento devido à ausência do medicamento.

Tania alertou que crianças que fazem o uso destes medicamentos são mais propícias a usarem substâncias psicoativas na fase adulta, ou seja, drogas de grande efeito. Rotinas corriqueiras podem contribuir para que a criança desenvolva esses distúrbios.

“Por exemplo, aquela criança que estuda de manhã, faz aulas de inglês e natação durante toda a semana, sem ter um tempo para brincar e ser criança. Brincar é o momento que não pode faltar”, disse.

Acompanhe aqui e aqui a recomendação de Tania a estudantes que fazem uso de substâncias para melhorar o rendimento em vestibulares ou trabalhos de conclusão de curso na faculdade.

O Movimento Despatologiza nasceu neste ano, com a mudança do nome de um grupo que já existia desde 2010, antes “Desmedicalização da Vida”. O nome foi mudado para melhor divulgação do movimento.

Rosangela Villar, membro do Movimento Despatologiza e militante da área há 30 anos, explica que o movimento é formado por profissionais de diferentes áreas da saúde e de educação, todos com experiência. Rosangela explica o foco do movimento. Ouça aqui.

O Movimento, em parceria com o Conselho Regional de Campinas, faz militância nos projetos de Lei e implantação de métodos que vão contra a patologização, seja na homoafetividade, na saúde infantil ou na questão do humanização do parto normal.

“Como tratar as pessoas que estão em sofrimento? É preciso internar? Ou então, a questão das drogas, é preciso colocar na comunidade terapêutica ou tenho que estar com o indivíduo em sociedade aprendendo a lidar com coisas que estimulam a necessidade desse uso?”, sugere Rosangela, como reflexão.

O Despatologiza trabalha com a preocupação do menor dano físico possível, conhecido como redução de danos, ou seja diminuir ao máximo a quantidade de medicamentos no tratamento, seja da criança ou do adulto dependente.

Para Rogério Giannini, presidente do SinPsi, o seminário Construindo Vidas Despatologizadas cumpre uma função estratégica.

“Estamos aqui para desvendar os diversos modos em que essa ideologia, a patologização, atua e as diversas dimensões em que ela tem aparecido, para além do TDAH. E é interessante ver que há uma rede despotologizada de cuidados e uma produção teórica significativa”, explicou.

O evento também contou com a apresentação do Coral Zíper na Boca. Confira o vídeo aqui.

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