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5º Congresso Brasileiro de Saúde Mental reúne profissionais e usuários em São Paulo

Uma das entidades de apoio, o SinPsi cobriu o 5º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, realizado pela Abrasme, e traz aqui uma série de reportagens. O primeiro evento nacional de saúde mental, álcool e outras drogas após a mudança na presidência da República teve três dias cheios de atividades, trocas de experiências, ideias, deliberações, análise da atual conjuntura política e do risco que essa pode causar ao SUS.

Com a presença de figuras ilustres, como o prefeito de São Paulo, Fernando  Haddad, e o ex-coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori, militante da luta antimanicomial, o evento foi marcado por falas fortes de usuários, pela participação de profissionais de diversos estados e pela reafirmação da importância das políticas sociais de saúde em prol da Reforma Psiquiátrica.

Abertura do 5º Congresso de Saúde Mental é marcada por falas emocionadas

Um evento que reuniu profissionais multidisciplinares e usuários do serviço com direito a voz e voto. Assim aconteceu o 5º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, nos dias 26, 27 e 28 de maio, oportunamente um feriado prolongado, no campus Indianápolis da Universidade de São Paulo (UNIP).

Com o apoio de 27 entidades, dentre elas o SinPsi, e o tema “Juntos nas Diferenças: sonhos, lutas e mobilização social pela Reforma Psiquiátrica!”, o evento se tornou verdadeiro espaço de trocas de ideias, de compartilhamento de frustrações e conquistas comuns e plurais. E mostrou que superar barreiras é um dom do povo brasileiro.

“Esse congresso tinha tudo para não dar certo. Tivemos todos os obstáculos possíveis e imagináveis. Não aceitamos patrocínio da indústria farmacêutica, decisão que levamos até o fim. O CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) simplesmente fechou a página do financiamento, a CAPS (Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior) só nos respondeu anteontem, mesmo assim porque tomamos a liberdade de ligar para cobrar. Mas graças a tantos parceiros, conseguimos”, contou Walter de Oliveira, presidente da Abrasme, na abertura do Congresso, que aconteceu na noite de 26 de maio, após um dia cheio de minicursos, oficinas, rodas de conversa e intervenções culturais.

A mística de abertura ficou a cargo do grupo teatral ALA (Arte Louca da Alegria), que apresentou a encenação Casa do Delírio, uma denúncia lúdica das comunidades terapêuticas. O diálogo dos atores fazia menção à militância de Marcus Matraga, psicólogo assassinado em fevereiro na Bahia (saiba mais aqui).

Escolha política

Abrindo a mesa, Rogério Giannini representou o SinPsi e a FETSS. Após saudar a mesa, fez uma breve fala, destacando a importância da escolha da capital paulista para sediar o evento.

“Nunca foi uma escolha logística, mas fundamentalmente uma escolha política. É aqui que se confrontam duramente as forças conservadoras e progressistas da nossa sociedade, bem como é aqui que se confrontam duramente as forças manicomiais e antimanicomiais. Num ano tão importante, de tão duros ataques que estamos sofrendo, mas um ano também de muita resistência nas ruas, é aqui que se faz este enfrentamento”, disse, lembrando da importância do grito que já se ouvia na plateia: “Marcus Matraga, presente!”.

Um dos grandes momentos da abertura foi a fala do usuário dos serviços de saúde mental, Mario Moro, que fez cobertura fotográfica de todo o Congresso.

“Ocupar essa posição na mesa de abertura prova a todos vocês que sim, é possível estar incluso novamente na sociedade! Mas, apesar da Reforma Psiquiátrica brasileira, muita coisa ainda não foi posta em prática, como o processo de desinstitucionalização dos manicômios. Aqui se encontra um representante dos usuários da saúde mental, alguém que já passou por maus tratos, discriminação, preconceito, mas que um dia se submeteu a um tratamento psicossocial humanizado e qualificado, num CAPs, para passar a fazer parte das discussões sobre políticas de saúde mental do SUS”, afirmou, encerrando a fala com um grito: “Por uma sociedade sem manicômios!”

Traga números!

Também compondo a mesa, O ex-ministro e atual secretário municipal de Saúde, Alexandre Padilha, convidou os presentes a conhecer pessoalmente o projeto De Braços Abertos, que atende a usuários de drogas em situação de rua (saiba mais aqui).

“Envolvemos várias secretarias, para confrontar números. Há um mês divulgamos que, com a estratégia da redução de danos de ação intersetorial de Moradia, Assistência Social, Saúde, Educação e inclusão pelos Direitos Humanos e Cultura, o De Braços Abertos reduziu, em dois anos, 88% do uso abusivo de crack em um território estritamente vulnerável da região da Luz. E mais de 50% dos usuários retomaram contatos com suas famílias. Então, quem quiser confrontar nosso peojeto que nos traga números!”, desafiou.

Diretor de Articulação e Coordenação de Políticas sobre Drogas, Leon Garcia também foi presença ilustre à mesa de abertura do 5º Congresso da Abrasme, dada a recente transferência da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) para o Ministério do Desenvolvimento Social, sob a coordenação do ministro Osmar Terra, que propõe a hegemonia das comunidades terapêuticas, o que pode dar poder ao setor privado.

“A Abrasme e este Congresso são amostras de resistência da luta dos movimentos sociais. A política sobre drogas fala de direitos. Trata-se de um debate muito intenso, muito polarizado e que vê neste evento um grande espaço. Para mim é uma enorme satisfação retornar a São Paulo para fazer parte dessa luta aqui”, comentou.

Ao final da cerimônia de abertura, o presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), médico sanitarista e professor titular do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Gastão Wagner, proferiu conferência por mais de duas horas, que o SinPsi destrincha na próxima reportagem sobre o 5º Congresso Brasileiro de Saúde Mental.

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‘Desculpe, mas eu tô indo’

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