Notícias

Violência contra manifestantes marca o início do governo Temer

“Não vai ter arrego!” Esse grito que ecoa das ruas da cidade de São Paulo, é um lema para a onda de manifestações contra o golpe parlamentar que se consolidou após votação no Senado Federal, em que Dilma Rousseff foi definitivamente afastada do cargo de presidenta da república. Cerca de 20 mil pessoas lotaram, hoje (31), completamente a Av. Paulista e a Rua da Consolação na capital paulista, exigindo a saída do governo golpista de Michel Temer.

A democracia esbarrou mais uma vez no fascismo e no autoritarismo da Polícia Militar do Estado, que reprimiu com violência o ato que transcorria pacificamente por seu trajeto. Centenas de militares da tropa de choque atiraram uma onda de balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio e efeito moral nos manifestantes por diversos pontos de toda a Rua da Consolação, fazendo o ato se dispersar em pequenos grupos que seguiram para pontos diferentes do centro.

Essa é a terceira vez, em três dias, que a força policial do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), aliado do golpista Michel Temer (PMDB-SP), dizima – com um imenso arsenal – as manifestações populares contra o golpe.

O maior contingente de pessoas resistiram à primeira investida e seguiram até Praça da República, onde decidiram ir para o prédio da Folha de S.Paulo e escrachar o local. A faixada do lugar foi completamente apedrejada e os muros pixados com “golpista”. Um carro da polícia civil foi destruído e diversas agências tiveram vidraças quebradas.

Mídia Ninja fez registro completo da violência em SP - Foto: Divulgação

A violência policial só aumentou nesse momento. Jatos d’água e bombas tornaram a Praça Princesa Isabel, ao lado do jornal, um verdadeiro cenário de guerra, em que os protestantes se defendiam como podiam, tentando escapar da chuva de gás lacrimogênio que dominou o céu do logradouro. Cerca de 200 pessoas permaneceram resistindo à perseguição policial.

A estratégia da PM só ficou clara depois: com o intenso bombardeio da força militar, o grupo foi sendo empurrado para a Rua Piracicaba, na região da conhecida Cracolândia, famoso ponto de drogas do centro da cidade. Recebendo jatos e bombas de um lado e muitas pessoas sendo atacadas e roubadas de outro, uma verdadeira Faixa de Gaza estabeleceu-se com vários furtos. Além dos manifestantes, repórteres NINJA e outros jornalistas que cobriam o ato foram furtados.

Em outros pontos do centro, como Rua da Consolação, Praça Roosevelt, Praça da República, Largo do Arouche e Largo do Paissandu, também se confirmaram relatos de intensa repressão da polícia militar.

O fotógrafo William Oliveira foi detido e teve sua câmera destruída pela PM durante ação injustificada, relatada por outros profissionais da imprensa que faziam a cobertura do ato. Ele foi encaminhado para a 2 DP.

Show de horrores

Uma mulher foi atropelada por um ativista de direita que passava na Av. São João. Ela teve um ferimento na cabeça e nas pernas e foi levada pelos próprios manifestantes para o hospital. Na rua Maria Antônia, outra mulher teve seu olho acertado por uma bomba.

A mobilização está só em seu início e uma nova jornada de luta contra o golpe se inicia a partir das ruas paulistas. A repressão se intensifica, sem que a mídia controlada pelos golpistas, dê a devida importância às graves violações aos direitos humanos que se repetem na atuação da polícia militar diante das manifestações.

Violência sem fim 

Em Brasília, a Polícia Militar reprimiu com extrema violência manifestação para protestar contra a confirmação do golpe. Bombas de efeito moral, gás de pimenta, prisões arbitrárias e espancamentos deram a tônica da atuação policial na noite de 31 de agosto.

A caminhada começou ao lado do Ministério da Justiça – cujo titular, Alexandre de Moraes, sugeriu investir mais em armamento do que em educação para conter os problemas sociais do Brasil – rumo à Rodoviária do Plano Piloto. Já no trajeto, a PM começou a violência gratuita. Como se tivessem dando avisos, dispararam pequenos jatos de gás pimenta nas pessoas.

Chegando à Rodoviária, a violência policial explodiu. Gás de pimenta e espancamento deram a tônica da atuação da PM numa demonstração inequívoca de despreparo e incapacidade de lidar com a população. Entre os agressores, estava o ‘Capitão Bruno’, que em 2013 agrediu manifestantes “porque quis”.

Várias pessoas passaram mal em função das bombas de efeito moral e gás de pimenta lançados. Alguns sangravam. Prisões arbitrárias terminaram de compôr a participação da Polícia Militar. Profissionais da imprensa que registravam a violência foram ameaçados pelos policiais, numa grave afronta à liberdade de expressão e ao dispositivo constitucional de levar informação à população brasileira.

No dia de sua posse, Michel Temer já mostrou a que veio: trazer de volta o obscurantismo para a sociedade e a truculência no trato com aqueles que se insurgem contra o golpe de estado consumado neste funesto 31 de agosto. Tempos sombrios despontam no horizonte. Entretanto, nossa capacidade em resistir é maior do que o ódio social e a covardia de Temer e sua turba. Manifestantes que estavam nas ruas hoje avisaram que delas não sairão.

* reportagem sobre violência em Brasília é de Renato Cortez

Deixe um comentário