Após reuniões regionais e internacionais durante a manhã desta quarta-feira, 10 de julho, o “III Seminário Internacional A Educação Medicalizada”, promoveu mini-cursos ao longo da tarde, ocupando simultaneamente 19 salas do campus Paraíso da Universidade Paulista (UNIP). Os temas foram dos mais variados, passando por sofrimento psíquico em crianças e adolescentes, mecanismo de trabalho com pais, esclarecimentos sobre a intervenção dos psicofármacos e o papel do professor na superação do pensamento medicalizante, dentre outras abordagens relevantes à luta contra a medicalização da educação e da sociedade.
Após os mini-cursos, no início da noite, todos os presentes seguiram para o anfiteatro da UNIP, para a cerimônia de abertura, que contou com a formação de três mesas – uma formada pela secretaria executiva do evento: Rogério Giannini, psicólogo e presidente do SinPsi; Jason Gomes, fonoaudiólogo da Associação Palavra Criativa; Lygia Viégas, psicóloga da Universidade Federal da Bahia; e Mariana Nasser, médica do Centro de Saúde-Escola Samuel Barnsley Pessoa, da Faculdade de Medicina da USP. As outras duas mesas foram formadas por entidades parceiras do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade.
“Tenho muito orgulho da participação do Sindicato dos Psicólogos neste importante evento. A nossa missão, como sindicato, é discutir a questão da medicalização e da patologização também no mundo do trabalho. Atualmente, há uma tentativa de naturalização das relações no mundo do trabalho. Quando as pessoas adoecem, se acidentam ou até morrem por acidente de trabalho, é comum ouvirmos o argumento de que elas eram desatentas. ‘Vai ver tinham déficit de atenção’, dizem. Estamos aqui também para problematizar essa questão, enfatiza o presidente do SinPsi.
A pediatra e presidenta do Seminário, Maria Aparecida (Cida) Moysés, fez um discurso em prol da legitimação de todo indivíduo como sujeito de sua história.
“Somos um movimento científico, político, ético e estético. Queremos ser movimento, queremos estar em movimento. A vida é movimento. A vida precisa estar em movimento. A vida movimenta a própria vida, senão não é vida. Queremos construir um mundo onde todos sejam acolhidos, respeitados, valorizados em suas diferenças e atendidos em suas necessidades diferentes”, disse.
O III Seminário Internacional A Educação Medicalizada acontece em um momento em que direitos e conquistas estão sendo desconstruídos com a ajuda dos processos de patologização da vida e das políticas. Para Cida, nega-se o direito de ser diferente ao defender o “direito” a um rótulo de transtorno neuropsiquiátrico.
“As políticas públicas vêm sendo alvo da medicalização. Temos hoje que nos defrontar com o retorno dos manicômios, o avanço das comunidades terapêuticas, o retrocesso da reforma sanitária, os ataques frontais ao SUS. Mas estamos aqui, avançando mais do que jamais ousamos sonhar. Estamos incomodando sim, porque estamos avançando. Crianças e adolescentes nos pedem apoio. Vamos aos desafios. Com flores, música, alegria, doçura e muita potência”, finalizou a pediatra.
Ato Médico
Representando a Federação Nacional dos Psicólogos (FenaPSI), a psicóloga e dirigente do SinPsi, Fernanda Magano, falou sobre o engajamento de entidades pela mesma causa.
“O Fórum das Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira, o FENPB, reúne hoje 22 entidades nacionais, de várias áreas temáticas da psicologia. Dentro do FENPB o tema deste seminário tem sido frequente. As entidades todas assinaram o documento do Fórum, para que, nas diversas áreas temáticas que a psicologia congrega e nessas relações parceiras, que nós possamos dar o tom crítico necessário ao tema da medicalização”, pontuou.
Aproveitando a ocasião, Fernanda mencionou a expectativa dos ali presentes em relação ao posicionamento da presidenta Dilma Rousseff ao veto do Projeto de Lei do Ato Médico, que viria a acontecer naquela mesma noite, mais tarde.
“O PL regulamenta a medicina e respeitamos isso, pois queremos de fato que todos os profissionais de saúde estejam com suas regulamentações em dia. Mas uma regulamentação profissional não pode interferir nas demais e colocá-las subalternas. Então, nós queremos de fato uma saúde pública de qualidade, a construção da saúde coletiva e que todos os profissionais se respeitem na perspectiva da interdisciplinaridade”, afirmou.
Além dessas entidades, estavam representadas na abertura do evento: UNIP; UNICAMP; Anhanguera Educacional; Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento e Empreendedorismo do Município de São Paulo; Secretaria de Saúde do Município de São Paulo; União Latinoamericana de Psicologia; Fórum Infâncias, da Argentina, Conselho Federal de Psicologia; Conselho Regional de Psicologia de São Paulo; Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro; Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional; Laboratório Interinstitucional de Estudos e Pesquisa em Psicologia e Educação; Grupo Institucional Queixa Escolar; e Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.
Em seguida, foi a vez da atividade cultural do dia, com belíssima apresentação do bloco afro Ilú Obá de Min. As atvidades culturais acontecerão todos os dias do Seminário, como forma de descontrair os debates e fomentar a cultura local, dando voz à criatividade humana.
Os trabalhos do primeiro dia se encerram com a Conferência “Viver não é Sobreviver: para além da vida aprisionada”, com Peter Pal Pelbart, filósofo, ensaísta e professor do Departamento de Filosofia e no Núcleo de Estudos da Subjetividade do Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP.