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As escolhas das mulheres em ‘Minha Carne’

Documentário retrata luta de negras e indígenas por lugar de direito na sociedade. Clipe com a música que deu origem ao filme será lançado em 14 de março, marcando um ano da morte de Marielle Franco

Em outubro do ano passado, Preta Ferreira compôs a música Minha Carne para o filme Tlazolteotle, de Carla Caffé, Eliane Caffé e Beto Amaral. Três meses depois, Minha Carne virou um documentário e ganhou um clipe para ampliar a voz que fala de “corpos precarizados” e sobre o papel da mulher na sociedade. “Mas o papel em que ela escolheu estar, escolheu ser”, explica a publicitária de 34 anos.

Preta é a terceira dos oito filhos da coordenadora do Movimento Sem Teto do Centro (MTSC), Carmem Silva. Foi nessa luta por moradia digna para famílias de baixa renda que a jovem formou sua militância negra e feminista, trabalhando pelo empoderamento das mulheres que fazem parte do movimento em relação aos direitos e acessos que lhes são negados, lembra.

Além de cantora, Preta é atriz – participou do longa-metragem Era o Hotel Cambridge, também de Eliane Caffé – e dirigiu Minha Carne ao lado da líder indígena Guarani da Aldeia do Jaraguá, em São Paulo, Sonia Barbosa (Ara Mirim), e de Tarsila Araújo, cineasta que trabalha com a inclusão das mulheres no audiovisual.

A história de Erika Hilton, mulher trans negra, que saiu da prostituição e se tornou uma das nove integrantes da Bancada Ativista, que chega à Assembleia Legislativa de São Paulo com quase 150 mil votos, está em Minha Carne. Assim como as trajetórias de outras mulheres que conseguiram fugir de padrões sociais e de beleza.

“A mensagem é que toda mulher pode ser o que ela quiser”, destaca Preta. “O que queremos mostrar para as que estão por vir, que estão surgindo como liderança, é que elas saibam que estamos aqui e que podem ter referência negra no Brasil, sim. Que existem mulheres na luta que estão buscando dias melhores para elas, para que todas tenham sempre força para denunciar qualquer forma de racismo, machismo, agressão, opressão, feminicídio e que saibam que não estão sozinhas.”

A ressalva de que a obra é também uma mostra de que sororidade não é só uma palavra. “Para nós, ela é exercida na prática”, diz, explicando que tanto o clipe como o filme foram feitos na base da parceria, sem nenhum centavo. “Não tínhamos dinheiro. Toda a equipe doou seu tempo, seu material, seu amor e acreditaram nesse projeto.”

Contribuições recolhidas por um site de doações para financiar a obra serão repassadas igualitariamente a toda a equipe envolvida. Todo o processo de produção está no Instagram de Preta.

O lançamento do clipe será na Ocupação 9 de Julho (Rua Álvaro de Carvalho, 427, Bela Vista, região central de São Paulo), no dia 14 de março, quando se completa um ano da morte de Marielle Franco. “Escolhemos essa escolhemos essa data pois tem muita representatividade e queremos homenagear sua presença em nossas vidas.”

O filme será lançado no fim do ano. “Vamos fazer um show para arrecadar grana pois ainda faltam algumas cenas para serem gravadas”, diz Preta.

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