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CFP debate a atuação da Psicologia em caso de suicídios

O suicídio é um problema social e de saúde pública que tira a vida de um milhão de pessoas por ano, em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante da expressividade dos números e da complexidade do fenômeno, é necessário que se elabore estratégias para combater a ocorrência que, de acordo com a OMS, é evitável.  A conselheira do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Monalisa Barros, mediou o debate online Suicídio: uma questão de saúde pública e um desafio para a Psicologia clínica, realizado no dia 24 de julho.

Cabe ao governo, por meio de seus setores de saúde, social e outros, investir em recursos humanos e financeiros para a prevenção do suicídio. “Além do governo, as organizações internacionais, as organizações não-governamentais e comunidades locais tem parte a desempenhar no combate ao fenômeno e o CFP não foge à essa responsabilidade”, afirmou a conselheira.

Para a psicóloga Blanca Werlang, que integrou o Grupo de Trabalho para desenvolver e implantar Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio do Ministério da Saúde, é bastante difícil compreender o motivo de determinado indivíduo decidir tirar a própria vida, enquanto outras pessoas na mesma situação não o fazem. “Levando em conta a experiência clínica podemos dizer que não há uma única explicação para compreender o comportamento suicida. Sabemos que há fatores emocionais, psiquiátricos, religiosos, socioculturais, entre outros, que nos ajudam a entender o sofrimento de vida que essa pessoa tem e, por isso, busca a morte”, disse.

A psicóloga destacou, ainda, a importância do trabalho em rede e da compreensão por parte dos profissionais, inclusive as (os) psicólogas (os) de que existem fatores de risco como transtornos psicológicos, brigas na família, perda de emprego, ou seja, sempre há um disparador que vai dar o último “empurrão” para a pessoa cometer o suicídio.

“A princípio, o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial, no qual temos que associar os fatores precipitantes às motivações internas do indivíduo, que são encontradas na história de vida desse sujeito”, explicou a psicóloga Soraya Carvalho Rigo, que fundou e coordena desde 2007 o Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio (NEPS), um ambulatório aberto à comunidade, voltado exclusivamente ao acompanhamento psicológico, psiquiátrico e de terapia ocupacional a pacientes com depressão grave e risco de suicídio.

De acordo com ela, muitas vezes a depressão é associada como causa do suicídio, mas estudos mostram que apenas de 15 a 30% dos deprimidos tiram a própria vida.  “Depressão é fator de risco e não a causa do suicídio”, frisou. Ao tratar dos desafios para atuação na clínica, Soraya Rigo, disse que é preciso fazer com que o sujeito fale no lugar de atuar e que esse indivíduo encontre outras formas de expressar o seu sofrimento. “Temos que fazer da clínica um lugar de acolhimento e oferecer um lugar em que a pessoa possa ser ouvida”, falou.

Além disso, a psicóloga ressaltou a importância de trabalhar a prevenção nos três níveis: paciente, família e equipe de saúde, oferecendo tratamento psicológico e, no caso dos profissionais da área, capacitação para que possam identificar sintomas e fatores que podem levar ao suicídio.

O psicólogo Nilson Berenchtein Netto fez uma contextualização do suicídio ao longo da história e associou o fenômeno ao momento histórico vivenciado pelo indivíduo. “Toda e qualquer morte traz a tona algo sobre a sociedade em que ela acontece”, destacou. Para ele, os valores da sociedade capitalista precisam ser considerados quando se analisa o fenômeno.

Por fim, citou uma reflexão do psicólogo salvadorenho, Ignácio Martín-Baró, assassinado em 1989, por conta de seu envolvimento com as lutas da população salvadorenha, pelo fim da ditadura naquela País. Martín-Baró relacionava saúde mental e guerra dizendo que haveria mentes sãs, livres e criativas, a medida que fosse possível gozar de um corpo social livre, dinâmico e justo.

Netto faz um paralelo da guerra em El Salvador com a guerra da sociedade capitalista “de todos contra todos” e diz que temos que pensar em construir um homem novo e uma nova sociedade. “Não podemos centrar nossos esforços somente em garantir a sobrevivência dessas pessoas que já foram atingidas por essa guerra de todos contra todos, mas temos que fazer algo que vá em direção da mudança radical das relações estabelecidas nessa sociedade e, que as pessoas, possam se entender partícipes dessa mudança e tenham condições de transformar as condições de vida que a fazem desejar a morte”, apontou.

A transmissão do debate online alcançou 3.787 pontos conectados, ao vivo. No facebook, a interação foi em tempo real, com posts durante o debate, que atingiram 144.700 pessoas, 1521 curtidas e 153 comentários. No site do CFP, foram 693 curtidas direcionadas ao facebook e 35 ao twitter. Foram enviadas 350 perguntas aos debatedores.

Diante da enorme procura, o CFP informa que o vídeo vai estar disponível na íntegra, em breve, na página do CFP no youtube. Além disso, o conselho estuda a possibilidade de fazer uma publicação com a transcrição do debate e as perguntas anexas.

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