Notícias

Como fazer da Yoga algo sombrio e distópico

Com técnicas de “atenção plena” e meditação, empresas combatem reivindicações trabalhistas e tentam criar funcionários-modelos: focados, dóceis e submissos

Não sabemos bem quando se começaram a estudar os resultados objetivos de práticas seculares como yoga e meditação, mas o fato é que benefícios têm sido amplamente documentados. Nos últimos tempos, há um novo conjunto de pesquisas em alta: as que mostram como isso tudo transforma as pessoas em… trabalhadores melhores. A premissa é criticada por Katie Way na Vice dos EUA, que comenta especialmente um artigo publicado  em setembro no Organizational Behavior and Human Decision Processes.

A pesquisa foi feita com trabalhadores de uma companhia de seguros americana e de um centro de consultoria de TI indiano. A melhor notícia – para quem não quer ver os empregados perdendo muito tempo com isso – é que para ter bons resultados são necessários só sete ou oito minutos por dia de alguma prática da chamada atenção plena (ou mindfulness). “Para as pessoas que trabalhavam em call center, sua atividade era quando elas atendiam ao telefone e apenas respiravam profundamente três vezes”, exemplifica uma das autoras, Lindsey Cameron, professora de administração da Universidade da Pensilvânia, nesta entrevista. “Mesmo com uma intervenção única, você está obtendo trabalhadores mais suaves, agradáveis e mais úteis”, conclui.

Voltando à Vice: Katie Way desenha o quanto “a ideia de praticar a atenção plena especificamente para se tornar um funcionário mais agradável é sombria e distópica” – e mais ainda quando se sabe que o estresse relacionado ao trabalho aumenta década após década. Tem muita empresa surfando nessa distopia. A Google, por exemplo, tem programas de meditação, enquanto a maior parte de seus empregados é terceirizada e vem se unindo para reclamar das condições de trabalho. “Os funcionários não precisam respirar profunda e intencionalmente ou praticar yoga – precisamos de salários, benefícios, licença parental adequados e uma separação robusta entre vida pessoal e profissional”, escreve Way.

Deixe um comentário