Central emite nota em defesa de políticas públicas para a juventude
O SinPsi reproduz abaixo o texto da CUT. Rogério Giannini, presidente do sindicato, apoia o posicionamento sobre o tema em voga.
“O movimento sindical cutista está de parabéns e mantém sua tradição ao tomar posições sociais progressistas e fazê-las chagar à suas bases, mesmo as mais polêmicas e que desafiam o senso comum”, afirma.
Leia a nota na íntegra.
A Central Única dos Trabalhadores vem a público posicionar-se contundentemente contrária a propostas de redução da maioridade penal.
Quando infrações penais graves cometidas por crianças e adolescentes ganham destaque cotidiano nos meios de comunicação de massa é natural que parentes é amigos das vítimas exijam justiça. A CUT é solidária a estas pessoas, no entanto, afirmamos que a redução da maioridade penal não é adequada, pelos motivos abaixo desatacados:
– O adolescente que comete infração penal já é responsabilizado pelos seus atos através das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e Adolescente;
– O rebaixamento da idade penal não reduz os índices de criminalidade juvenil. Ao contrário, o ingresso antecipado no falido sistema penal brasileiro expõe os adolescentes a mecanismos reprodutores da violência, como o aumento das chances de reincidência, uma vez que as taxas nas penitenciárias ultrapassam 70%, enquanto que no sistema socioeducativo se situam abaixo de 20% de acordo com o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo;
– A maioria absoluta dos delitos que levam os adolescentes à internação não envolve crimes contra a pessoa e, assim sendo, utilizar o critério da faixa etária penaliza o infrator a partir dos 16 anos, que compulsoriamente iria para o sistema penal, independente da gravidade do ato. Dados da Fundação Casa (em SP) mostram que a maioria dos internados foi detida por roubo (44,1%) e tráfico de drogas (41,8%). Latrocínio são apenas 0,9% e homicídio somente 0,6%;
– Jovens que cometem infrações penais graves são penalizados a 3 anos de internação, enquanto que um adulto que condenado por roubo ou tráfico (85,9% dos casos que levam adolescentes a internação) apesar de poder ser condenado a, no máximo, 13,3 anos, estará em liberdade depois de cumprir apenas 1/6 da pena, ou seja, em menos tempo que o jovem infrator;
– É incorreta a afirmação de que a maioria dos países adota idade penal inferior a 18 anos. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em apenas 17% dos 54 países analisados a idade penal é inferior a 18 anos;
– A juventude brasileira não é criminosa. De acordo com os dados do Censo de 2010 o Brasil tem 21 milhões de adolescentes de 12 a 18 anos, que representam 11% da população brasileira. O número de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas não chega à margem de um por cento desta população;
– É errônea a ideia de que o problema da violência juvenil em nosso país é mais grave do que da população adulta. A participação de adolescentes nas infrações penais não passa de 10% do total de crimes (Pesquisa ILANUD 2011). No Brasil, o que se destaca é a grande proporção de adolescentes assassinados, bem como o número elevado de jovens que crescem em contextos violentos;
– Não é o rigor da pena e sim, a certeza da punição associada a alternativas reais de vida que diminui a criminalidade.
A proposta de setores conservadores de nossa sociedade em reduzir a maioridade penal reforça o descompromisso destes em construir um Estado que encare a situação da violação de direitos das crianças e adolescentes. A juventude brasileira reclama por acesso à educação, cultura, esporte, saúde, trabalho decente.
A CUT defende que ao invés da redução da maioridade penal sejam reforçadas as políticas públicas da infância e juventude, através da ampliação de investimentos nessa área, com vistas à efetivação plena do Estatuto da Criança e Adolescente.
São Paulo, 21 de maio de 2013.
EXECUTIVA NACIONAL DA CUT