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Desigualdade no Brasil é a maior em sete anos e vai aumentar

Com as taxas recordes de desemprego e precariedade do mercado de trabalho, índice que mede a concentração de renda sobe há 16 trimestres consecutivos

As taxas recordes de desemprego, que em 2018 atingiram 12,2 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, segundo o IBGE, o aumento da informalidade, da terceirização e o achatamento da renda dos trabalhadores e trabalhadoras, em especial depois do golpe de 2016, contribuíram para aumentar a concentração de renda no Brasil.

No quarto trimestre de 2018, a desigualdade no país atingiu o maior patamar desde 2012, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (26) pela Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), que leva em consideração a renda domiciliar per capita.

A pesquisa mostra que o Índice Gini do rendimento domiciliar per capita (que mede a desigualdade de renda entre os domicílios) subiu para 1,7% no 4º trimestre de 2018, o maior em sete anos. Foram 16 trimestres consecutivos de aumento. O Índice de Gini é calculado de 0 a 1, e quanto mais próximo ao 1, maior a concentração de renda.

E a desigualdade vai aumentar mais ainda, alerta o Dieese. E a principal responsável por isso é a reforma Trabalhista do ilegítimo Michel Temer (MDB), que precarizou o mercado com a legalização de contratos de trabalho intermitente, tempo parcial e terceirização geral e irrestrita.

“A reforma Trabalhista contribuiu para o achatamento dos salários com esses contratos precários, em que o trabalhador ou tem remuneração média menor, como no caso dos terceirizados, ou nem sabe quanto vai receber no fim do mês, como no caso dos intermitentes”, afirma a técnica da subseção do Dieese da CUT, Adriana Marcolino.

Ela lembra ainda que outras medidas que vão contribuir para aumentar a desigualdade são o congelamento dos gastos públicos durante 20 anos, que vai impactar em especial áreas como saúde e educação porque vai reduzir investimentos públicos nessas áreas e também na a assistência.

“A falta desses serviços acaba acarretando em mais aumento da pobreza e da desigualdade e só garante uma coisa: os empregadores vão lucrar mais”, diz Adriana. 

O aumento da desigualdade

No quarto trimestre de 2018, o índice atingiu o maior patamar da série histórica iniciada no primeiro trimestre de 2012. Foi quando a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) começou a ser apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O pesquisador do mercado de trabalho no Ibre/FGV, Daniel Duque, disse ao Estadão/Broadcast, que divulgou a pesquisa com exclusividade que entre as razões para a piora na desigualdade de renda estão a dificuldade de trabalhadores menos qualificados aumentarem seus rendimentos e a dinâmica de reajustes do salário mínimo. “Na crise, a probabilidade de estar empregado e ter renda maior depende mais de o trabalhador ter qualificação”.

Além disso, o salário mínimo não tem ganhos reais desde 2015”, enumerou Duque, autor do levantamento.

Assim como o Dieese, ele ressaltou que “houve também muita geração de ocupação informal, que tem menores salários. E há um desalento muito grande ainda”.

Embora, no ano passado, o número de pessoas trabalhando tenha aumentado, a subutilização da força de trabalho segue elevada, lembrou Thiago Xavier, analista da Tendências Consultoria Integrada. São considerados “subutilizados” os trabalhadores à procura de emprego, os que não procuram uma vaga por acreditar que não encontrariam emprego ou os que estão ocupados, mas trabalhando menos horas do que poderiam ou gostariam, ganhando menos por isso.

“Precisa ter uma reação do mercado de trabalho (para reduzir a desigualdade)”, defendeu Xavier. “Precisa de geração de vagas formais, com salário médio maior, jornadas de trabalho que não fiquem aquém do desejado.”

Para isso, acrescenta a técnica do Dieese, Adriana Marcolino, o governo e a iniciativa privada precisam investir. “O que gera emprego e renda é crescimento econômico e esse crescimento depende de investimentos públicos e privados que, consequentemente, aumentam o consumo”.  

“Sem investimentos em máquinas, ciência, tecnologia e educação o país não voltará a crescer, muito menos gerar emprego decente e renda e, portanto, não conseguirá tão cedo diminuir a desigualdade”.

“A retirada de direitos só aprofunda as desigualdades e cria novos problemas para o país ter um crescimento sustentável de longo prazo mais efetivo”, diz Adriana.

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