A construção de um projeto político dos trabalhadores e trabalhadoras com deficiência norteou o debate do encontro nacional, organizado pela secretaria de Políticas Sociais da CUT, que reuniu cerca de 60 participantes, na manhã desta terça-feira (22), em São Bernardo do Campo/ SP. Trabalhadores e militantes da causa, vindos de diversos estados do país, relataram os problemas enfrentados pelos trabalhadores cotidianamente. O secretário nacional de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney, o Coordenador do Coletivo Estadual de Pessoa com Deficiência CUT/SP, Isaías Dias, e o coordenador do Coletivo Nacional da Pessoa com Deficiência da CUT, Flávio Henrique compuseram a mesa.
Expedito Solaney enfatizou a necessidade de engajamento e priorizou a luta como fundamental. “O nosso papel é encontrar formas de englobar 25 milhões de deficientes existentes no Brasil, e que estão segregados, escondidos em casa por falta de acessibilidade e políticas de inclusão social”, afirmou.
Vilma Brito da Silva Leal, de Mato Grosso do Sul, 40 anos, cadeirante (vítima de poliomielite), pedagoga, casada, mãe de duas filhas, atendente de creche e que trabalha com crianças de quatro meses a dois anos idade, falou um pouco das superações necessárias.
Militante há 32 anos, hoje ocupa a 3ª vice-presidência da FESSEP/MS (Federação dos Servidores Públicos Municipais de Mato Grosso do Sul) e, até assumir seu atual posto, foi remanejada duas vezes.
“As pessoas com deficiência sofrem um grande preconceito que oscila entre desprezo e medo. Houve uma vez em que eu estava conversando com uma tia em frente de casa e eu falava ao telefone quando um homem que passava pela rua ficou me observando. Minutos depois ele se aproximou e ofereceu dois reais. Eu calmamente expliquei a ele que não precisava de dinheiro e que eu estava bem. Ele ficou sem entender minha reação. Esta história exemplifica bem como os deficientes são vistos sem função social”.
Segundo Vilma, essa percepção mudou um pouco a partir da realização das paraolimpíadas, em 2008, que apresentou à sociedade o deficiente como um ser produtivo, capaz inclusive de praticar esporte de competição.
“Muitos são os problemas enfrentados. Não é apenas a exclusão, mas também alto custo de equipamentos como cadeiras de roda, próteses entre outros. É difícil para o portador de baixa renda adquirir esse material e quando consegue, é de péssima qualidade. Portanto, esta é outra luta que teremos que travar – a redução dos custos de equipamento. Esse encontro contempla nossa ansiedade e vontade de desenvolver nos municípios o debate e fazer com que estes produzam e venham fazer parte da luta”, alertou.
Enio Carajá, 47 anos, de Minas Gerais, portador de Osteocondromatose Múltipla Hereditária (OMH), desordem do crescimento ósseo, falou das dificuldades de acessibilidade.
Educador social, militante da saúde por vocação, atuava na causa sem ser deficiente. Em 2004, foi surpreendido pela doença, que o deixou com dificuldade de locomoção.
“Rampa (de acordo com as normas da ABNT), escada, ambulift (carro especial para acesso à aviões), elevador hidráulico, ônibus de piso baixo, corrimão em banheiros são alguns dos instrumentos necessários para o transcorrer do dia-a-dia de um deficiente. Raríssimos lugares possuem esta estrutura. Na realização do 9º Concut, em 2006, percebi que o movimento sindical também não tinha e que a organização do maior evento da nossa Central não priorizou os deficientes”, apontou.
Na avaliação do sindicalista, o encontro deve servir para colocar no interior da CUT a questão dos trabalhadores com deficiência. “Temos muito trabalho pela frente e a Central terá o papel de conscientizar a sua estrutura e a sociedade. Priorizar a saúde de trabalhador não é só pensar em políticas de prevenção, mas também de inclusão e acima de tudo acompanhar as transformações do mundo do trabalho na realidade dos deficientes”, enfatizou Enio Carajás.
Jayze Muniz da Silva, 45 anos, de Pernambuco, assistente social e deficiente visual analisou a conjuntura positivamente e apontou disposição para luta.
Jayze perdeu a visão aos 13 anos, devido a um descolamento de retina, após um tempo ede xclusão resolveu retomar a vida e foi em busca do seu primeiro emprego. Funcionária de telecomunicação de Recife, tomou gosto pelo movimento sindical e não parou mais.
“Não acredito em avanço de conquistas sem a participação do sindicato. A conquista de direitos sempre contou com a importante pressão do movimento sindical e para os deficientes não será diferente. As leis estão prontas, o que precisamos assegurar são as políticas públicas existentes. Nosso papel é fazer com que estas se cumpram”, enfatizou.
Na noite de segunda-feira (21), durante a abertura do evento, foi assinado o protocolo de adesão à Campanha da Acessibilidade ‘Siga essa Ideia’, do Conade (Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência), que tem como foco central a sensibilização e mobilização da sociedade frente aos problemas enfrentados como inserção na vida social.
A organização e plano de ação para o Coletivo Nacional e sua a eleição também serão definidos durante o encontro.