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Em ‘Mutum’, Jairo Pereira prega revolução pelo amor: ‘Racistas não passarão’

Primeiro disco solo do vocalista do grupo Aláfia mistura críticas sociais com afeto e faz homenagem ao geógrafo Milton Santos

São Paulo – “Tá com medo, doutor? O pesadelo do sistema que encorpou o seu amor por aqui faz vala. O seu carinho em minha pele vara. Não passarão, não passarão. Racistas não passarão.” As estrofes de Tá com Medo, Doutor dizem muito sobre Mutum, primeiro disco solo de Jairo Pereira, vocalista do grupo Aláfia há sete anos. Lançado no início de dezembro, o álbum mistura hip hop, rock, reggae, jazz e poesia falada.

A faixa que abre o álbum começa com uma frase de Milton Santos, originalmente gravada em uma entrevista concedida pelo geógrafo em 1995: “A clarividência é uma virtude que se adquire pela intuição, mas sobretudo pelo estudo. É tentar ver a partir do presente o que se projeta no futuro”.

“Gosto demais dos caminhos que ele traçou para tentar encontrar soluções para a desigualdade social e racial que existe no Brasil. O trecho que escolhi, mesmo rápido, fala muito sobre o disco, sobre ‘focarmos’ no momento presente para que possamos ter um futuro digno”, afirma Jairo.

Mutum nasceu nos palcos e amadureceu durante dois anos antes de ser gravado no estúdio Medusa, em São Paulo. “Assim como o show, o disco trilha os caminhos do afeto como agente transformador para as prisões e embates diários, mas é diferente do que o público tem visto ao vivo. O nome do projeto e do álbum de estreia vêm de uma espécie imponente de pássaro, que vive na Amazônia e hoje encontra-se em extinção”, anunciam os produtores.

Com exceção do baterista Filipi Gomes, a banda Mutum é composta por membros da banda Aláfia: maestro e pianista Fábio Leandro, o gaitista Lucas Cirilo, o baixista Gabriel Catanzaro, o percussionista Pedro Bandeira e o guitarrista Dudu Tavares. “É um disco curto (é composto por sete faixas), feito com poucos recursos, mas também porque vai direto ao ponto de tudo que a gente quer abordar. É um abre-alas do Mutum”, declara Jairo.

A produção musical é de Gabriel Catanzaro, que uniu seu lado rock’n’roll com a pegada do rap de Jairo. “Quando o Jairo me pediu pra produzir o disco, meu desafio foi buscar fazer um recorte da figura artística dele fora do Aláfia. Ele tem dois lados muito fortes, um que aborda mais o ativismo racial e outro que discute o afeto, buscando falar abertamente sobre sexo. Para mim, as faixas que mais marcam esses dois extremos são Química, um reggae com piano, mais sensual, que aborda o sexo sem impôr gênero nem limitações, e Tá com Medo, Doutor?, rap com spoken word e uma pitada de rock, que fala sobre o genocídio da juventude negra e é muito forte”, afirma o produtor.

Os outros dois vocalistas do Aláfia, Xênia França e Eduardo Brechó, participam da faixa O Deserto Em Nós, sobre valores sociais em declínio. Candeeiro, primeira música do disco, tem participação do cantor e guitarrista Bernoldi em um rap que mistura bases e beats pesados com elementos tradicionais do rock, e Web Tribunais traz pitadas de funk e dub e participação da cantora Laylah Arruda, do coletivo Feminine Hi-Fi.

Ame é o poema que, apenas em vz e violão, fecha o álbum Mutum, cujo lema parece ser uma ode à revolução por meio do amor: “O mundo está uma loucura. Só que amar ainda é a única cura”, encerra o poema.

O álbum completo pode ser ouvido na íntegra no YouTube. Clique aqui.

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