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Governo Bolsonaro prepara o fim do Mais Médicos; último edital termina essa semana

Mayra Pinheiro, que coordena o programa, confirmou a jornais que não serão mais abertos novos editais

Governo prepara o fim do Programa Mais Médicos. A informação foi confirmada nesta quarta-feira (6) pela coordenadora do programa, Mayra Pinheiro. Como já vinha antecipando, por meio da redução de investimentos em Residência Médica, Provimento e Infraestrutura – pilares do Programa Mais Médicos -, desde o golpe de Michel Temer, em 2016, agudizado com a saída de 8.500 médicos cubanos do programa federal e até agora sem o preenchimento das vagas, o governo Bolsonaro deu a estacada final, com a substituição do Mais Médicos por um novo projeto, provavelmente intitulado Mais Saúde.

De acordo com Pinheiro, secretária de gestão no trabalho e educação em saúde do Ministério da Saúde, a ideia é que o último ciclo de vagas abertas se encerre nesta semana. E, a partir disso, não sejam feitos novos editais. Os médicos que atuam pelo programa poderão continuar em seus postos de trabalho até o final de seus contratos, que tem duração de três anos.

Desde a saída dos médicos cubanos do Programa, em novembro de 2018, três editais foram lançados, porém até hoje 1.462 vagas ainda permanecem sem profissionais. A pasta da Saúde acredita que sejam preenchidas nesta semana, quando os cerca de 3.700 médicos brasileiros formados no exterior que se inscreveram no edital poderão escolher os municípios onde atuarão.

Sem vagas para cubanos
Ela também confirmou a médicos intercambistas, de acordo com reportagem do jornal El País, a informação de que não haverá novos editais e que o programa será encerrado. Com isso, os profissionais estrangeiros inscritos, que deveriam escolher os municípios nos dias 18 e 19 deste mês, não devem participar do programa. Entre eles, estão cerca de 2 mil médicos cubanos que decidiram permanecer no Brasil após o presidente Bolsonaro acenar que eles teriam asilo e poderiam ser reincorporados ao programa. Com o encerramento do Mais Médicos, o Governo estuda ajuda humanitária por meio do Ministério da Justiça para essas pessoas.

Como já vinha declarando durante a campanha, a ideia do governo Bolsonaro é substituir o Mais Médicos por um plano de carreira que torne as regiões de difícil provimento mais atrativas aos profissionais. Segundo a médica, que ficou conhecida por aparecer xingando os profissionais cubanos na chegada do aeroporto de Fortaleza em 2013, e hoje chefia a secretaria responsável pelo Mais Médicos, a decisão em substituir o programa é uma demanda das entidades médicas.

Na primeira semana de janeiro, Mayra Pinheiro enviou mensagem de áudio pedindo aos médicos que não voltaram para Cuba preencherem um formulário. O mapeamento precederia a criação de cursos preparatórios, apoiados pela Associação Médica Brasileira e o Conselho Federal de Medicina, para submeter esse grupo a um “novo Revalida”.

Histórico
Criado em 2013, pelo governo Dilma Rousseff, por meio de uma parceria com o Governo da ilha intermediada pela Organização Pan Americana da Saúde (OPAS), o Mais Médicos passou a dar respostas após a vinda de 11 mil profissionais de Medicina cubanos e cerca de 1.500 de outros países, já que os dois primeiros editais sobraram vagas, em função de desinteresse dos médicos brasileiros. O programa, a partir de 2013 possibilitou a melhoria de uma série de indicadores de saúde e fixar médicos em comunidades distantes que não tinham acesso a estes profissionais.

Relatório da OMS
No Relatório 30 anos de SUS – Que SUS para 2030?, estudo encomendado pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS) dados preliminares sobre o impacto do Programa Mais Médicos estimam que o País poderá ter 37 mil mortes de crianças menores de cinco anos até 2030 com o fim da atuação de profissionais cubanos. Caso o programa federal fosse extinto, a estimativa atingiria 42 mil mortes a mais de crianças brasileiras com até cinco anos.

O estudo foi encomendado no ano passado pelo organismo, disse o coordenador do Mais Médicos da OPAS, Gabriel Vivas, na apresentação do levantamento. Um ano antes do anúncio do fim da cooperação entre Brasil e Cuba.

Partindo da melhoria de indicadores de saúde alcançados na saúde do País desde a implantação do Mais Médicos, em 2013, o relatório indica que no primeiro ano a cobertura da Estratégia Saúde da Família passou de 59,6% para 66,9%. Em 2017, 70% da população tinha acesso ao serviços de Atenção Primária à Saúde.

Renato Tasca, integrante da Opas no Brasil, disse que, embora preliminar, a estimativa decorre da atuação dos médicos cubanos em regiões onde a carência na assistência era bastante importante. “Nesses locais, crianças morriam por diarreia, por falta de assistência básica”, completa.

Na comparação dos municípios que não participaram do Mais Médicos com os que receberam médicos em 2013 houve uma redução de 6,3% em internações, 8,2% em 2014 e 15,8% de queda de hospitalização no ano de 2015.

Ante às evidências científicas, que demonstraram êxito na combinação de programas sociais, como o Bolsa Família e a Estratégia Saúde da Família, para a redução da pobreza, a melhoria das condições de saúde e a redução das desigualdades em saúde, a Opas recomenda o fortalecimento de programas sociais e o Mais Médicos.

Outra recomendação feita no relatório é um investimento público em saúde de, no mínimo, 6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país para que se possa alcançar o acesso universal à saúde. “Esse consenso foi firmado no 53º Conselho Diretor da OPAS, em 2014, quando países das Américas concordaram ser necessário aumentar a eficiência e o financiamento público em saúde, tomando em conta que na maioria dos casos um gasto público de 6% do PIB é uma referência útil”, destaca um dos trechos do relatório.

Canadá, Costa Rica e Uruguai já investem mais de 6% de seu PIB nessa área. Já o gasto público em saúde do Brasil é de 3,8% do PIB.

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