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No I Encontro Paulista da ABRAPEE, SinPsi questiona que escola queremos

Compartilhar memórias e desafios da psicologia escolar no estado de São Paulo. Com o objetivo de fomentar o debate sobre esse tema, aconteceu o I Encontro Paulista da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), entre os dias 28 e 30 de junho, na Universidade Presbiteriana Mackenzie. O evento reuniu profissionais de psicologia e educação de diversas cidades do estado de São Paulo e até mesmo de outros estados, superando expectativas.

Na ocasião, houve troca de referências técnicas para a formação profissional, além de integração de psicólogos, professores e estudantes interessados na atuação conjunta. O SinPsi esteve representado pelo presidente Rogério Giannini, que participou da mesa de abertura, dia 28.
“Estamos falando da transformação da sociedade brasileira. Toda hora ouvimos que a culpa de todos os males sociais está na educação. Mas o que é prioridade nessa educação que queremos? De que escola estamos falando?”, questionou Giannini.
Também na mesa de abertura, a coordenadora da ABRAPEE, Roseli Caldas, abordou a necessidade da criação de espaços de discussão como esse, que possibilitam o estreitamento do diálogo entre esses dois profissionais tão importantes na formação de cidadãos.
Em entrevista exclusiva ao site do SinPsi, Roseli considera que a psicologia pode ser aliada da educação na busca de soluções para os impasses existentes na educação paulista.
“A psicologia não vai ensinar a educação, mas aliar-se. Juntos, temos mais chance de construir mudanças. E mudanças começando pela educação sem dúvida geram transformação de fato”, afirmou, ressaltando a importância de se entender o lugar do psicólogo, que, definitivamente, não é o do diagnóstico de crianças:
“Não estamos na escola para buscar culpados pelo problema no aprendizado ou pela criança violenta. Em vez disso, nossa proposta é encontrar nas relações institucionais, mais do que nas pessoas, saídas para relações melhores. Isso é fundamental para as pessoas crescerem de maneira mais saudável. E certamente essas pessoas contribuem mais para o país, para as instâncias, como cidadãs”, analisou Roseli.
Como a psicologia não está restrita à área da saúde, é urgente que se elaborem projetos político-pedagógicos que façam o psicólogo ocupar um espaço digno na educação. Assim, é comum termos sempre a educação como prioridade no debate.
Jogar a escola para fora da escola

No sábado, o presidente do SinPsi participou de mesa redonda, em que avaliou a falta de um projeto escolar no Brasil.
“A escola não é um fenômeno da natureza. Veio depois do homem e depois da criação da sociedade. O projeto da escola surgiu mesmo com a Revolução Industrial, que padronizou a produção de bens de consumo. Não é à toa que a escola que temos hoje segue esse modelo padronizador e disciplinador, reforçado pelo regime militar, após o golpe de 1964. Mas os debates sobre a escola e suas funções só foram ganhar força nas décadas de 1940 e 1950”, disse Giannini, lembrando que a escola passou a ser formação para o regime militar na ditadura dos anos de 1960.
“A meu ver, até hoje não recuperamos o debate da escola no Brasil. Os problemas estão aí por não termos ainda um processo educacional como um processo de nação. Identificamos os problemas, mas não temos um projeto. Por isso, é urgente a presença do profissional de psicologia nesse debate”, disse, enfatizando a inserção do psicólogo nas políticas públicas de educação.
Giannini reforçou a importância de se haver concurso público para psicólogos nas escolas e encerrou sua apresentação na mesa redonda sugerindo descentralizar o conhecimento do ambiente escolar.
“Os educadores poderiam ocupar outros espaços para transmitir conhecimento. Que tal jogar a escola para fora da escola? Talvez assim possamos educar para a mudança do país e para a felicidade de fato para as pessoas”, finalizou.

Medicalização não

Regulamentada em 1962, a profissão de psicólogo ainda enfrenta barreiras nos locais de atuação, como tem acontecido no ambiente escolar, que dispõe de psicólogos e psicólogas para a elaboração de diagnóstico de alunos com dificuldades de adaptação a regras e padrões impostos. Ainda mais recente é a regulamentação da profissão de pedagogo, que data de 1968. Pode ser esse o momento de maturidade para ambas as áreas caminharem juntas, no que concerne à educação.
Para Roseli, a escola é responsável pela construção de sujeitos desde a infância. Por isso, não há que se medicalizar uma criança que não quer aceitar certas determinações. Ela acredita que o caminho da medicalização seja o pior em busca de respostas.
“O remédio de fato faz diferença no comportamento da criança, mas a que preço? Quando os pais são bem informados, abrem os olhos em outra direção. A psicologia tem a função de esclarecimento sobre as responsabilidades que temos quando buscamos numa criança a resposta para o que está acontecendo num coletivo, num grupo. O que queremos ‘acalmando’ uma criança que muitas vezes está apenas se contrapondo a determinado tipo de educação, insuportável a ela?”, pergunta.
O debate contra a medicalização entende que o remédio vem para ajustar, enquadrar e adequar a criança a um modelo de educação questionável.
“É contra isso que a psicologia tem que lutar contra. A voz da medicalização é muito forte. Nós estamos numa briga de formiga contra elefante, mas estamos firmes”, finaliza Roseli.

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