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Nota de solidariedade do SinPsi com o movimento de ocupação das escolas estaduais de SP

A diretoria do SinPsi – Sindicato dos Psicólogos de São Paulo – vem, através desta nota, se solidarizar com estudantes, professores (as), famílias e toda a comunidade escolar que tem se mobilizado no sentido de ocupar e dar suporte às ocupações das escolas em todo o Estado de São Paulo. Aproveita, também, a oportunidade para propor reflexões sobre esse tema, de vital importância para o futuro de nossa sociedade.

É notável o fato de que os (as) estudantes estão não apenas ocupando as escolas, mas sobretudo SE ocupando delas. Zelando não só pelo direito dessas continuarem a existir, o que já é uma causa absolutamente legítima, mas também pela organização, pela limpeza, alimentação e, principalmente, pela construção de um projeto pedagógico democrático. Se ocupam também da produção e difusão de saberes, com aulas livres e com impressionante produção de arte e cultura, com poesias, cantos, rap, teatro entre outras, lendo e relendo o mundo e produzindo, por intermédio da arte, uma visão crítica e engajada da vida e da sociedade. Juventude alienada?

Assim, enterram de vez a falácia de que os jovens não se interessam pela escola. Pelo contrário, contribuem para trazer a educação ao centro do debate, fazendo um convite para toda a sociedade, qual seja, “Vamos NOS ocupar de nossas Escolas?”. Esse convite, por sua vez, decorre de um “Basta!”. Um “Basta!” a essa forma autoritária, antidemocrática, reducionista e precarizada pela qual a Educação tem sido mal tratada há décadas, no projeto político executado pelo PSDB e por outros governos de direita no Estado de São Paulo – um projeto de Escola para poucos, sem diálogo, sem cidadania, uma mera formadora de mão de obra barata, um lugar onde se sufoca sobretudo a vida, a diversidade. Vida em diversidade que se apresenta tão logo esse aparato repressivo é afastado e os estudantes e a comunidade em si se apropriam desse espaço. Não por acaso, as cadeiras enfileiradas dão lugar aos círculos, as responsabilidades passam a ser compartilhadas e surgem assembleias, oficinas sobre política, cidadania, cultura.

Ao repudiar a maneira tacanha de tratar a Educação e reconhecê-la, a Educação, como a “mais universal” dentre as políticas públicas, dada a sua transversalidade, temos muito a pensar sobre o modelo de escola que desejamos. Mais uma vez, a mobilização destes estudantes nos leva a pensar sobre a própria ideia de Escola. Ou seja, para quê queremos Escola? Como a queremos? Como podemos construí-la? Assim, é necessário pensar a Escola não apenas como estrutura física, mas também como cenário de relações sociais e de projetos de vida e de mundo, devendo ser democrática, inclusiva e emancipatória. 

Cabe lembrar que a Psicologia há tempos se atenta para essas demandas. Psicólogos e psicólogas têm trabalhado arduamente pela inserção da Psicologia na política pública de Educação, por meio de práticas comprometidas com a inclusão, com a qualidade da aprendizagem e da formação de nossas crianças, adolescentes e jovens; com a reflexão sobre o cotidiano escolar, por meio de estratégias participativas que envolvem estudantes, professores, famílias e toda a comunidade em torno deste tema.

É importante ressaltar que a Psicologia tem contribuído e que tem muito mais a contribuir nesse processo. Inclusive, tramita na Câmara dos Deputados o PL 3688/2000, que insere obrigatoriamente Psicólogas (os) e Assistentes Sociais na Rede Básica de Educação em todo o território nacional – Projeto de Lei similar para as escolas estaduais foi vetado recentemente pelo governador Geraldo Alckmin, em São Paulo.

Há muitas outras contribuições de profissionais da Psicologia nesse âmbito, onde se pode destacar o Programa Saúde na Escola e o Programa Brasil Sem Miséria, que têm contribuído para a intersecção da Educação com outras políticas, como no caso as de Saúde e as de Assistência Social, ou seja, ajudando a trabalhar a Educação em dimensões mais amplas. Há também as tentativas de inserção da Educação para o Trânsito nas escolas, de inserção da própria Psicologia como campo de saber, dentre outras iniciativas que apontam para uma Educação, enquanto política pública, cada vez mais presente e universalizada. 

O SinPsi conclama todas (os) as (os) psicólogas (os) a participar ativamente deste momento, a manifestar solidariedade a toda a comunidade escolar presente nessas ocupações, a visitar as mesmas e contribuir para o suporte necessário, a lutar pela implantação dos Planos de Educação, a defender a destinação dos royalties do Petróleo para a Educação, a lutar contra a mercantilização do ensino e contra tudo aquilo que nos distancie da Escola que queremos e a que temos direito.

Para que não se perca a utopia de uma sociedade que, por compromisso ético-político, nos dispomos a construir. Para que possamos, cada vez mais, mobilizar recursos que possibilitem a transformação e, por consequência, a justiça social. Para que mais indivíduos e grupos se ocupem daquilo que lhes é de direito!

Diretoria SinPsi

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