Artigo e levantamento descrevem os diferentes tipos de narcisismo e o modo como cada subtipo se relaciona com a internet. Estariam eles mais vulneráveis ao uso compulsivo?
A melhor foto. A melhor descrição. E o status na timeline milimetricamente pensado, caractere por caractere. O ambiente controlado e calculado de redes sociais como o Facebook pode ser o ideal para alguns narcisistas se promoverem e buscarem admiração de outros? A personalidade narcísica também está mais propensa a desenvolver um uso problemático com a rede? Algumas pistas para essas questões estão em estudo publicado esta semana no Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking.
A pesquisa mostra que o estudo do narcisismo se expandiu e hoje a condição está dividida em dois subtipos particulares: os grandiosos e os vulneráveis.
1) O tipo grandioso, também conhecido como narcisismo “ostensivo”, caracteriza-se pela busca de admiração, de alta autoestima, expressão direta de exibicionismo e arrogância. Também há traços relacionados à dominância, grandiosidade, e agressão.
2) Já o narcisismo vulnerável ou “secreto”, é caracterizado por sensação defensiva e insegura de grandiosidade, baixa autoestima, vergonha, timidez e hipersensibilidade à opinião alheia.
No artigo “Grandiose and Vulnerable Narcissists: Who Is at Higher Risk for Social Networking Addiction?”, Silvia Casale, Giulia Fioravanti, e Laura Rugai, da Universidade de Florença, na Itália, sugerem que os narcisistas vulneráveis são mais propensos a se sentirem mais seguros na rede e estão mais propensos ao uso problemático. Em contraste, os narcisistas grandiosos procuram admiração mais abertamente, em vez de exclusivamente na mídia social.
Estudos anteriores mostraram que altos níveis de traços narcísicos (de qualquer subtipo) poderia levar ao vício nas redes, com consequências negativas para o bem-estar, como estresse elevado e insatisfação com as relações. Também algumas linhas de estudos especularam que indivíduos com traços narcísicos elevados podem relatar um uso compulsivo de mídia social, supostamente porque as redes seriam uma ferramenta para ganhar admiração e reforçar uma identidade idealizada.
Com base nessas pesquisas, o estudo começou com a hipótese de que traços narcísicos podem estar associados ao uso não saudável da rede. Depois de análise, no entanto, pesquisadores encontraram que a hipótese não é verdadeira para os narcisistas grandiosos, que não relataram níveis mais elevados de uso compulsivo que não-narcisistas.
Como foi feito o estudo
Para chegar aos resultados, 540 estudantes de uma universidade europeia foram abordados por 4 assistentes do sexo feminino. A coleta de dados consistiu em questionários escritos. Também informações gerais sobre os propósitos do estudo foram divulgadas. Cinco dos participantes não aceitaram participar da pesquisa. A participação foi voluntária, anônima e o sigilo foi garantido.
Oitenta participantes (14,66%) foram identificados como narcisistas grandiosos, 67 (12,41%) como narcisistas vulneráveis, e 388 (71,03%) não se enquadraram nos dois tipos. Dos 80 participantes identificados como narcisistas grandiosos, 55 eram do sexo masculino (68,75%) e 25 eram do sexo feminino (31,25%). Dos 67 participantes identificados como narcisistas vulneráveis, 24 eram do sexo masculino (35,82%) e 43 eram do sexo feminino (64,18%).
De modo geral, homens tinham uma maior probabilidade de serem classificados como narcisistas grandiosos do que as mulheres, enquanto que elas tinham uma probabilidade maior de serem classificadas como narcisistas vulneráveis.
Ambiente controlado para a autoapresentação
O estudo destaca pela primeira vez que narcisistas vulneráveis (mas não narcisistas grandiosos) foram mais propensos a se sentirem mais seguros em um ambiente on-line. As redes para esse subtipo podem ser uma ferramenta preferida para obter aprovação e admiração, enquanto que, para narcisistas grandiosos, elas podem ser apenas mais uma ferramenta.
Pesquisadores concluem que a informação limitada transmitida on-line é uma vantagem interpessoal para algumas pessoas, uma vez que avaliações verbais e outras pistas não estão presentes. A interação na rede permite maior controle sobre a autoapresentação e foram associadas com uma percepção de menor risco de avaliação negativa. Ainda, pesquisas anteriores mostraram que narcisistas vulneráveis são mais sensíveis ao “dislike” nas redes.
