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PM tucana ataca cracolândia: golpe vai mostrando a cara

Tropa de choque ocupa região central de SP e ataca políticas humanistas de saúde mental

Na manhã desta sexta-feira, 5 de agosto, um efetivo de 500 soldados da polícia militar do Estado de São Paulo invadiu a cracolândia, na região central da capital paulista, e dispersou as pessoas com jatos d’água, bombas de gás lacrimôgênio, carros blindados, escudos, cassetetes. Portas foram arrombadas, dirigentes de movimentos pela moradia presos.

Entre os “inimigos”, pessoas humildes, desarmadas, algumas usuárias de drogas mas, – e aí reside talvez o detalhe mais importante de mais essa demonstração de truculência policial – também, pessoas em franco processo de recuperação da dependência química e que já não mais ocupam as ruas, e sim habitações financiadas pelo poder público municipal, que realizam atividades produtivas e fazem parte do programa “Braços Abertos”.

A PM afirmou, aos meios de comunicação, que a operação destinava-se a prender traficantes. A presidenta da Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi/CUT), Fernanda Magano, tem outra interpretação.

“Se o objetivo é prender traficantes, isso poderia ser feito através dos serviços de inteligência, identificando os traficantes e detendo os que forem realmente envolvidos no tráfico. Não precisaria enviar a tropa de choque e dispersar todas as pessoas que estavam na área”, comenta a dirigente, militante da Frente Estadual de Luta Antimanicomial.

Faceta do golpe

Para ela, a ação desta manhã é mais uma expressão do golpe em curso no Brasil. “Isso está engendrado com o golpe porque quer destruir as políticas públicas de saúde mental que tratam os dependentes com respeito e acolhimento. A ação está afinada com a visão, já expressada publicamente, do atual ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra”, aponta Fernanda.

Terra, lembra a dirigente, é médico e, como deputado federal, apresentou projetos para enfraquecer políticas de acolhimento e recuperação de dependentes, como o Braços Abertos e os CAPS’s (Centros de Atendimento Psicossocial), e que priorizam a ação das chamadas “comunidades terapêuticas”, como são conhecidas as chácaras, sítios e clínicas de internação. “Essas entidades são privadas, não são laicas, e geram lucro. O que esse ministro pretende é retroceder nos avanços das últimas décadas das políticas de saúde mental”.

Fernanda não citou durante a entrevista, mas vale lembrar que também o atual ministro da Justiça, Alexandre de Morais, ex-comandante-em-chefe da mesma PM paulista que hoje atacou a cracolândia, deu fartas mostras de que questões sociais, na visão dele, são casos de polícia.

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