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Pochmann: ‘É preciso resistir para inverter o jogo da política elitista’

Na abertura do 14º Congresso Estadual da CUT São Paulo, economista aposta na reforma do Estado

“Estamos vivendo um momento complexo, mas que a classe trabalhadora precisa se reposicionar. Temos tido dificuldade para compreender exatamente o que estamos vivendo e de um lado isso tem a ver com a herança do neoliberalismo, que nos coloca pensar pequeno e a curto prazo”. A avaliação é do economista Marcio Pochmann, professor livre docente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), nesta terça (25), durante a abertura do 14º CECUT, em Águas de Lindóia, interior paulista.

Para ele, esta herança faz com que as pessoas tenham medo, sejam mais conservadoras, características que, segundo o professor, afastam os indivíduos do processo civilizatório que está em curso, levando em consideração a perspectiva de luta da classe trabalhadora.

No cenário internacional ele avaliou que o Brasil não reuni as condições para compor o centro do capitalismo que é ter moeda de curso internacional, capacidade de difusão tecnológica e forças armadas. “Nós nunca tivemos estas características, não somos um país do centro dinâmico. Os países que não são do centro dinâmico conseguem se reposicionar no mundo, em determinados momentos, apenas quando este centro está em crise. Fizemos isso na década de 1980, momento em que combinamos uma reforma política, laboral, do regime de governo e tínhamos um projeto econômico, que naquela época era o café”, disse.

As conquistas, contudo, não ocorreram de forma gratuita, avaliou, ao citar os interesses das elites de cada período. Mas cobrou atenção dos dirigentes no Congresso, ao dizer que o país se encontra numa das mais graves crises do capitalismo dos últimos 80 anos.  “Precisamos ter clareza do protagonismo que devemos ter neste momento. Muita inteligência, paixão e sonho para não abandonar isso, já que a crise é gravíssima. Os EUA não tem alternativa para a sociedade que estamos vivendo hoje, sendo ele o centro dinâmico do capitalismo”, pontuou.

País de milhões

Sobre o Brasil, Pochmann citou como exemplo os 40 milhões de pessoas que saíram da miséria, mas que não compreendem que isso se deve a uma política dos últimos governos petistas. “Eles não entendem exatamente porque ascenderam, ou seja, trouxeram os valores do século XIX. Fracassamos na tentativa de construir uma maioria política”.

Nesse sentido, o economista orienta inverter a correlação de forças, própria da democracia. “Temos que ter um projeto viável, capaz de reconstruir a nossa maioria. Temos que construir uma perspectiva contemporânea dos nossos desafios. Se nós não cumprirmos a nossa tarefa, ninguém fará. O dirigente não é aquele que ocupa a cadeira do diretor, mas aquele que conduz”, provocou a plenária durante o congresso.

Ao se referir às falas dos movimentos sociais que os antecedeu, ele reforçou as mudanças estruturais no sistema político como perspectiva para este momento no Brasil. “Há uma certa dispersão de ações e sequestros de agendas em um momento complexo em que estamos vivendo. Eu não tenho dúvida que a questão política é a principal, já que estamos diante de um sistema político que termina desviando a representação. Que apresenta a sub-representação de jovens, negros, indígenas e trabalhadores. Isso resulta do poder econômico e do dinheiro que se expressa cada vez mais na forma eleitoral”. 

Para Pochmann, a única coisa que impede a classe trabalhadora de avançar é o que o neoliberalismo impõe diariamente. “O medo de ousar, de fazer diferente, de deixar de ser governado pelos que já morreram. Estamos diante de uma nova sociedade e é preciso dirigir o automóvel olhando pra frente e não pelo retrovisor”, finalizou.

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