A eliminação de qualquer tipo de discriminação é um dos pontos centrais da Declaração Universal das Nações Unidas”
Por Valter Martins
Mais uma vez em março, mais um dia vinte e um, dentre tantos meses e dias de lamentos que poderíamos falar em calendário das tragédias mundiais e/ou locais. Novamente nos posicionamos como porta-vozes dos(as) discriminados(as) em mais uma data dentre outras a serem comemoradas no mundo e em diversos países em que foram necessários lamentáveis episódios para que se constituíssem em datas merecedoras de destaque nos calendários.
Seguindo essa tradição, em nosso caso, teríamos várias datas a “comemorar” diante dos constantes casos de assassinatos, das mais criativas e engenhosas formas no expresso propósito de dizimação das ditas minorias, historicamente discriminadas nessa vergonhosa cultura colonial que agora herda o título, ao qual se orgulham: “cidadãos de bem” ou seriam, “hipócritas, fariseus da modernidade”.
As lamentáveis estatísticas são consultáveis e publicizadas como algo rotineiro, disfarçadas, por vezes, como balas perdidas, acidentes de percurso, retrato falado, cara de suspeito(a)… Crimes diversos sem investigações conclusivas, que se pulverizam em uma pluralidade de intenções higienizantes. Pois já se sabe antecipadamente os seus mandantes ou heroicos executores que ostentam os trajes do poder dominante.
A nós, da banda de cá, cumpre o entrincheiramento e nos mantermos alertas, objetivando o cada vez mais necessário enfrentamento, nesse mar de lágrimas, manufaturado por aqueles que bravamente ostentam o orgulho de serem brasileiros.
Somos milhões de pretos, pobres e periféricos! Sejamos aqueles que conhecem os seus direitos e lutam por eles.
Que possamos nos educar seguindo a lanterna de Paulo Freire, a que eles criticam por temerem os efeitos desse resgate ideológico. Nos espelhemos ainda em Emmanuel Kant: “O ser humano não é nada além daquilo que a educação faz dele”. Que não esperemos mais que o “sistema formal de educação”, com a conhecida decoração que confirma aquilo que nos basta saber pelo que representamos nesse triste latifúndio.
Apelamos aqui, para atrairmos os nossos algozes para um campo de batalha chamado conhecimento, por saber que nesse, eles perderão, dado ao seu caráter negacionista e perverso, por falta de prática democrática ou pela confortável desobediência que objetiva a ampliação de uma milícia de indivíduos inebriados e de curta visão política, seguidores de um flautista desumano, lacaio dos interesses burgueses internacionais e alpinista de plantão ao delirante cargo de zelador da tirania.
E nesse caminhar nos espelhamos também como protagonistas de um segmento profissional honroso pelas suas ações cotidianas em busca de uma sociedade mais próxima da valorização humana, distante das lamentáveis classificações. Essas reflexões nos aproximam de maneira gratificante de Virgínia Bicudo, mulher negra, psicanalista que fez parte da primeira gestão do Conselho Federal de Psicologia, conta sua história: “Eu me interessei muito cedo por esse lado social. Não foi por acaso que procurei psicanálise e sociologia. Veja bem o que fiz: eu fui buscar defesas científicas para o íntimo, o psíquico, para conciliar a pessoa de dentro com a de fora. Fui procurar na sociologia a explicação para questões de status social. E na psicanálise, proteção para a expectativa de rejeição. Essa é a história. Eu fui criada fechada em casa, quando saí foi para ir à escola e foi quando, pela primeira vez, na escola, a criançada começou: negrinha, negrinha. Quando eu estava em casa, eu nunca tinha ouvido. Então eu levei um susto”. Não vamos nos assustar a viver a vida no trabalho. Nós SinPsi, lutamos pela equidade a partir das diferenças e somos contra a discriminação racial!
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Valter Martins (Representante Sindical – SinPsi) – Psicólogo e Psicopedagogo.