Por Norian Segatto
Nas Américas foram trazidos como escravos/as cerca de 12 milhões de pessoas; dessas, quase metade, cerca de 5 milhões, vieram para o Brasil, sem contar o grande número de escravizados/as que sequer chegavam por não sobreviver às condições de travessia do continente africano para cá nos chamados navios negreiros.
No Brasil, a escravidão durou oficialmente mais de 300 anos (de 1550 a 1888). Foi o último país no mundo a abolir a escravidão, mas o racismo, estrutural e congênito, e práticas análogas à escravidão persistem até os dias atuais.
Política de branqueamento
Em 13 de maio de 1888 foi oficialmente declarada a abolição da escravidão no Brasil, em um processo que resultou na marginalização da população negra. Não se estabeleceu qualquer política de inserção dos negros e negras agora ex-escravos, pelo contrário, o pensamento racista da elite branca brasileira via os negros libertos como “mercadoria sem valor” e motivo de atraso econômico e cultural do país. “Podemos afirmar que o abandono das populações egressas da escravidão, bem como de seus descendentes, foi uma ferramenta do projeto de branqueamento do Brasil, pois através desse abandono, estimava-se que o país iria se livrar dos negros”, expressa o professor Renan Rosa Santos, em artigo publicado em 2019.
Esse modelo justificou, entre outras coisas, o incentivo à imigração de brancos europeus, em especial italianos, que vieram para o Brasil com promessas de encontrar o mundo de oportunidades e enriquecimento. Enquanto isso, aos africanos oriundos das “galés negreiras” era incentivado o mesmo destino conferido aos povos originários: a extinção.
Um dos expoentes das teorias higienistas no Brasil foi o médico e antropólogo Nina Rodrigues (1862-1906), defensor da tese de que negros constituíam uma raça inferior. “Para dar à escravidão esta feição impressionante foi necessário ou conveniente emprestar ao negro a organização psíquica dos povos brancos mais cultos … qualidades, sentimentos, dotes morais ou ideias que ele não tinha e que não podia ter”, escreveu em seu livro Os Africanos no Brasil.
Racismo estrutural
Mais de 120 anos após a dita abolição, todas as estatísticas comprovam a continuidade do projeto de marginalização da população negra por parte das políticas promovidas pela elite branca brasileira.
A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), de 2017, dá uma pequena dimensão das desigualdades.
Renda média
Negros: R$ 1.570
Pardos: R$ 1.606
Brancos: R$ 2.814
Educação
Taxa de analfabetismo
Pretos e pardos: 9,9%
Brancos: 4,2%
Ensino superior completo
Brancos: 22,9%
Pretos e pardos: 9,3%
Tempo de estudo (pessoas até 15 anos)
Pretos e pardos: 8,7 anos
Brancos: 10,3 anos
Dados do Atlas da Violência, de 2021, aponta, ainda, que a possibilidade de um negro/a ser assassinado no Brasil é 2,6 maior do que um branco. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes negros no Brasil em 2019 foi de 29,2, enquanto a da soma dos amarelos, brancos e indígenas foi de 11,2. De acordo com a pesquisa, os negros representaram 77% das vítimas de assassinato no país em 2019.
Para o dirigente do SinPsi, Valter Martins, “se partirmos do sentido etimológico da palavra ‘consciência’, vemos de imediato tratar-se de um ‘senso íntimo que nos leva a preferir o certo ou o errado’. Hoje fala-se muito em consciências: de classe, política e outras… No momento específico, consciência NEGRA – um senso íntimo… Felizmente, há movimentações sociais importantes, mas ainda devemos ampliar o nosso leque de CONSCIÊNCIAS principalmente política. Através do voto em nossos reais representantes; rumo à democracia racial.
20 de novembro, dia de luta
Os movimentos negros e a consciência individual não celebram o 13 de maio. A data de luta e resistência é 20 de novembro, em homenagem a Zumbi dos Palmares.
Neste 2021, ano em que a pandemia de Covid-19 vitimou mais negros do que brancos, as organizações populares e sindicais vão comemorar a data com mobilizações em todo o país. A cada dez brancos que morrem vítimas da Covid-19 no Brasil, morrem 14 pretos e pardos. Os dados são resultados de uma análise da reportagem da CNN com base nos boletins epidemiológicos
do Ministério da Saúde. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção dessas populações no Brasil é de 10 brancos para 13 pretos ou pardos. No caso das internações pela doença, há um equilíbrio: negros representam 49,1% dos internados por Covid-19, enquanto brancos representam 49%. Mas na análise das mortes, o descompasso aparece, pretos e pardos representam 57% dos mortos pela doença enquanto brancos são 41% dos mortos.
Para denunciar essa situação, a omissão e o genocídio promovido pelo governo Bolsonoro, mais de 80 cidades no Brasil e exterior marcaram atos neste sábado, 20, Dia da Consciência Negra. Em São Paulo, a concentração será na avenida Paulista. No site da CUT é possível acompanhar o mapa das cidades que promovem atos.
“A unificação das lutas, que inclui a pauta dos trabalhadores, como a geração de emprego decente, pelo fim da fome e da miséria e contra a política econômica do governo Bolsonaro foi consenso entre as entidades que integram a Campanha Nacional Fora Bolsonaro e as que organizam, já há alguns anos, os atos de 20 de novembro. Entre elas, a Coalizão Negra por Direitos”, afirma a CUT.
Dirigentes do SinPsi estarão nessas manifestações expressando o sentimento da categoria de apoio às lutas contra o governo Bolsonaro e contra o racismo que desemprega, oprime, marginaliza e mata neste cordial e tolerante país chamado Brasil.
Fontes:
Central Única dos Trabalhadores CUT
Portal G1