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SinPsi: 51 anos em defesa da categoria, da saúde pública e das lutas democráticas

22.ago Por Norian Segatto

Era uma segunda-feira fria naquele longínquo agosto de 1973, ano que via surgir um grupo musical inusitado, Secos & Molhados, tendo à frente o performático e andrógino Ney Matogrosso; ano em que Chico Buarque compõe a música Cálice, só liberada pela censura cinco anos depois; é também o ano em que o movimento popular, ainda muito ligado à Igreja Católica, começa timidamente a se organizar na luta contra a carestia. É o ano do 11 de setembro no Chile, que depõe o presidente Salvador Allende.

Foi naquela segunda-feira fria de 20 de agosto que Júlio Barata, então ministro do Trabalho – ministério que à época se denominava Ministério dos Negócios, Trabalho e Previdência Social, outorgou a carta sindical criando o Sindicato dos Psicólogos no Estado de São Paulo. O presidente ditador – o mais sombrio dos militares que sentaram na cadeira presidencial- era o general Emílio Garrastazu Médici, que foi para os braços do demo em 1985.

Carta Sindical de criação do SinPsi-SP

Retomada democrática

De sua fundação até 1979, o sindicato era um ente distante da categoria, praticamente um apêndice da política governamental. Era óbvio que esse atrelamento acrítico à ditadura incomodava muitas psicólogas e psicólogos, em especial os mais jovens, que saíam das universidades carregando dilemas da orientação social da Psicologia e esbarravam em práticas profissionais e políticas que não condiziam com seus anseios. Preocupados com tal quadro, no fim dos anos 70, jovens psicólogos que se reuniam para discutir a profissão no Instituto Sedes Sapientiae se organizaram para disputar a eleição no sindicato.

Iniciava ali uma nova fase na vida do SinPsi-SP.

1978: Ato contra a carestia se torna manifestação contra o governo (foto: W Santos CPDocJB)

O cenário político do país mudava naquele final de década; na região fabril do ABC paulista, metalúrgicos, liderados por um barbudo de voz rouca, impunham o maior enfrentamento pacífico à ditadura até então, reivindicando o fim do regime e a volta da democracia. O sindicalismo atrelado à estrutura do Estado, chamado de “pelego” (em referência à peça feita de pele e couro de carneiro que é colocada sobre a sela do cavalo para “amortecer” o impacto nas nádegas do cavaleiro), vivia seu ocaso, a partir das poderosas greves reivindicatórias dos metalúrgicos e que se alastraram para outras categorias. Fruto dessas mobilizações, em 1981 era criada a Confederação Nacional das Classes Trabalhadoras (Concat), e, em 1983, fundada a Central Única dos Trabalhadores (CUT). O Sindicato das/dos Psicólogas estava presente na fundação da maior central de trabalhadores do país, uma mudança radical de orientação política em dez anos de existência.  

1983: Mais de 5 mil trabalhadores de todo o país participam do congresso de fundação da CUT
Rogério Giannini (foto: Norian Segatto)

Em 1985 é fundada a Fenapsi – Federação Nacional dos Psicólogos; dez anos depois surge a CNTSS – Confederação Nacional dos Trabalhadores da Seguridade Social e, em 2004, a Federação dos Trabalhadores em Seguridade Social no Estado de São Paulo (FETSS), todas vinculadas à CUT e das quais o SinPsi participa e tem ou teve dirigentes em suas direções.

“Uma característica que eu considero bastante relevante é a articulação que o Sindicato sempre teve com outras entidades da área da saúde e da seguridade social, estávamos, enquanto entidade, na fundação da CUT em 1983; dentro da estrutura da Central atuamos organicamente na CNTSS, na Federação dos Psicólogos, a Fernanda [Magano], por exemplo, já foi vice-presidenta da CNTSS e presidenta da Fenapsi onde ainda continua na direção, então, temos no sindicato essa tradição de agregar com outras entidades porque nos reconhecemos como parte da classe trabalhadora”, afirma o presidente do SinPsi, Rogério Giannini, que já foi tesoureiro e presidente da FETSS.

Outros agostos virão

Campanha pela jornada de 30H

De sua fundação em 1973, e da virada de página no início dos anos 80 para cá, o SinPsi-SP foi se fortalecendo, passando por perrengues é bem verdade, mas cada vez mais se consolidando como uma entidade de luta e defesa da categoria, dos princípios de uma Psicologia inclusiva, de um país democrático e com justiça social. Ao romper mais de meio século de existência, e na semana em que se comemora o dia da/do psicóloga/o, o Sindicato renova seus compromissos de continuar a representar a categoria em todo o estado, com o olhar para o futuro, para as novas gerações, sem largar a mão de ninguém, no cuidar da melhoria das condições de trabalho, na saúde mental e física de cada um e apostando na mobilização, conscientização e luta coletiva para assegurar a manutenção da democracia e caminhar para a construção de um país com justiça social, renda e trabalho para todos, todas e todes.    

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