“Isso daqui virou uma guerra, o negócio tá muito feio aqui, estão matando as pessoas, estão jogando bomba dentro da tenda, tem funcionários e crianças aqui!”, dizia a voz apavorada. O áudio circulou pelo WhatsApp na tarde desta quarta-feira, 10 de maio. A mulher, que pediu para não ser identificada, estava na região da Luz, na Cracolândia, termo que evitamos usar por razões óbvias.
O áudio era sobre mais uma ação truculenta da Polícia Militar de São Paulo e da Guarda Civil Metropolitana, que tomou o local com tiros de bala de borracha, de arma de fogo e bombas de gás lacrimogênio. Um vídeo divulgado no Facebook (veja aqui) https://www.facebook.com/ACracoResiste/videos/1841810566070315/ mostra pessoas feridas e cita nome de pessoa morta. Nem trabalhadores dos programas Recomeço, do governo do Estado, e do De Braços Abertos, da prefeitura, escaparam.
“Recebi informação de que houve muitas crianças e adolescentes feridos, além de colegas do consultório de rua, que cumprem rotina diária de atendimento aos usuários de crack naquela região. Parece que para os mandatários da ação essas vidas não valem nada”, disse psicóloga que preferiu não se identificar.
A repercussão na mídia seguiu o tom costumeiro: criminalizou as pessoas que ficam pela região da luz, sem mencionar o tráfico de drogas na região.
Segundo a PM, a confusão começou após homens da GCM perseguirem e prenderem um suspeito de roubo na Alameda Dino Bueno. A GCM então pediu apoio da PM para conter a confusão, após os agentes entrarem no chamado “fluxo”, o trecho da Dino Bueno, entre a Rua Helvétia e o Largo Coração de Jesus, que é totalmente ocupado pelos usuários.
Após o ocorrido, diversas entidades e coletivos que atuam pela política de redução de danos para usuários de álcool e outras drogas, como o SinPsi, assinaram uma carta de repúdio às ações violentas e convocando para uma reunião às 18h de hoje, dia 11 de maio, em frente à Estação Júlio Prestes, para dialogar e definir medidas de resistência à tentativa de “limpeza” da população que habita a região. Leia abaixo, na íntegra:
Contra a Violência Policial na Cracolândia!
A ação repressiva dessa quarta-feira (10/5), na região da Cracolândia, é mais um episódio da sequência de momentos de extrema violência causados pela Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana (GCM). Foram pelo menos mais dois feridos por arma de fogo, muitas balas de borracha e bombas. O prefeito João Doria insiste em tratar as pessoas que vivem na região e nas ruas de São Paulo como lixo a ser varrido.
Foi mais um ataque a populações desprotegidas que estão em nas periferias e pontos de interesse do mercado imobiliário. O projeto é apenas eliminar grupos que demonstram a falência das políticas públicas. A guerra às drogas, usada como pretexto para o extermínio e o encarceramento em massa.
Os equipamentos de cuidado e proteção foram fechados pelos governos estadual e municipal, nesta quinta-feira, 11 de maio. Funcionários dos programas De Braços Abertos e Recomeço foram proibidos de virem trabalhar hoje. Há informações de que seguranças da Porto Seguro foram dispensados.
Defendemos um modelo de atenção que leve em consideração as diferenças e necessidades de cada um, diminuindo os danos causados pelo uso abusivo de substâncias.
Resistimos!
Estaremos desde a madrugada no território para enfrentar e denunciar novas agressões!
Escobar – 963258781
Roberta – 994232112
A Craco Resiste
Iniciativa Negra por Uma Nova Política Sobre Drogas
Lampud – Rede Latino Americana e Caribenha de Pessoas que Usam Drogas
Renfa – Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas
Coletivo DAR – Desentorpecendo a Razão
Aborda – Associação Brasileira de Redutoras e Redutores de Danos
Abesup – Associação Brasileira de Estudos Sociais sobre o Uso de Psicoativos
Centro de Convivência É de Lei
Coletivo sem ternos
Marcha da Maconha de SP
Bloc Feminista da Marcha da Maconha de SP
Coletivo Autônomo Dos Trabalhadores Sociais – Catso
Fórum Popular de Saúde de SP
Advogados Ativistas
Casa Rodante
Pimp My Carroça
SP Invisível
Coletivo Doe Um Ouvido
Conexões de Luta
Bem da Madrugada
Pastoral Carcerária
CMI SP
Arrua Coletivo
CasaDaLapa
Coletivo Resistência
Fórum Popular de Saúde
Frente Feminina de Esquerda
Bloco da Esquerda Socialista
V Simpósio Internacional Maconha outros saberes
Núcleos da PUCSP
Logísticas Intitucionais e Coletivas
Sã Consciência
Outros Saberes Direitos Humanos
Tulipa Negra
Água para um Irmão de Rua
Observadores Legais
Sintusp
SinPsi SP
FENAPSI
FIDDHSP – Fórum intersetorial de drogas e direitos humanos – SP
CEBRID- Centro Brasileiro de informação sobre drogas psicotropicas
ABRASME – Associação Brasileira de Saúde mental
Movimento Passe livre
Minha Sampa
Bancada Ativista
Casa Rodante
Cia Mugunza de teatro
Frente de Resistência com a Rua
Divulguem e somem com a gente!
Todo apoio ao Povo em situação de rua!
Vigília agora!