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Técnico do Bahia faz discurso histórico sobre racismo e quebra a internet

#PraCegoVer: Roger Machado, técnico do Bahia, à esquerda e Marcão, técnico do Fluminense, á direita. Os dois vestem uma camiseta preta com uma mão desenhada e o texto “Observatório da discriminação racial no futebol”

Em vídeo de cinco minutos depois do jogo, Roger Machado fala firme sobre um problema pouco abordado no futebol brasileiro: o racismo

As redes sociais quebraram neste fim de semana após o discurso histórico de Roger Machado, treinador do Bahia, que em uma entrevista coletiva no sábado (12) deu uma aula sobre racismo estrutural no Brasil depois do jogo entre o Bahia e o Fluminense, no Maracanã.

Na linguagem da rede, quebrar a Internet significa que algum post, foto ou vídeo bombou ou viralizou nas redes sociais. É algo que todo mundo compartilha e espalha rapidamente na Internet.

Roger e Marcão do Fluminense são os dois únicos negros treinadores da primeira divisão do Campeonato Brasileiro. O Observatório da Discriminação Racial no Futebol, que propôs o encontro após o jogo, que terminou em 2 x 0 para o Fluminense,  monitora ofensas raciais no ambiente esportivo.

No vídeo, Roger centrou seu discurso histórico no racismo esportivo, denunciou o racismo estrutural, cobrou igualdade de oportunidades para pessoas negras ascenderem na carreira e refutou o mito da democracia racial no país.

“É algo que chama atenção, na medida em que a gente tem mais 50% da população negra, a proporcionalidade que se representa não é igual. Acho que a gente tem refletir e se questionar. Se não há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que dos brancos? Por que 70% da população carcerária é negra? Por que quem mais morre são os jovens negros? Por que os menores salários são para os negros. Por que  entre as mulheres, as que mais morrem são negras?”, questionou  Roger. 

A celebração na internet sobre a fala do técnico do Bahia não foi à toa. Foi a primeira vez que um técnico de futebol escancarou o racismo para a imprensa.

Ele questionou ainda a ausência de mulheres negras no esporte. “Nas conquistas pelas mulheres, por exemplo, hoje nós vemos mulheres no esporte, como você (a repórter que fez a pergunta), mas quantas mulheres negras têm comentando esporte? Nós temos que nos perguntar. Se não há preconceito, qual a resposta? Para mim, nós vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado”, opinou.

Em outro ponto da sua fala, o treinador tricolor alertou também para os casos de femicídio, educação e sobre a LGBTfobia. “Na verdade, este caso que estamos tendo agora com o crescimento do feminicídio, a homofobia, preconceito racial, é um sintoma. Porque a estrutura social é racista”.

Ele ressaltou que nos últimos 15 anos houve uma reparação histórica com implementação de políticas afirmativas para a população negra. O período coincide com os governos dos ex-presidente Lula e Dilma.

“Nos últimos 15 anos, as políticas públicas foram institucionalizadas. Resgataram a autoestima dessas populações que ao longo de muitos anos tiveram negadas as assistências básicas, e estão sendo retiradas nesse momento”, cravou.

“A culpa é do Estado”, disse Roger.

O treinador apontou também a ausência de técnicos negros no futebol, onde a maioria dos jogadores é negro.  Para ele, isso reflete o racismo estrutural na sociedade brasileira.

“Negar e silenciar é confirmar o racismo. Eu sinto que há racismo quando eu vou ao restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: ‘Não há racismo, está vendo? Você está aqui’. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui.”

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