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Tropa de choque, truculência e descaso: são as respostas do PSDB às denúncias de corrupção no governo estadual

Muita tensão, discussões, vaias e violência policial marcaram a sessão desta quarta (14) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Do lado de dentro, deputados da oposição tentavam discutir a abertura de uma CPI para apurar as denúncias de formação de cartel, pagamento de propinas e superfaturamento em contratos entre o governo tucano e multinacionais como a Siemens e Alstom.

Do lado de fora, a truculência da tropa de choque reprimindo com balas de borracha e bombas os manifestantes que, pacificamente, também cobravam a investigação dos desvios de recursos públicos.

Enquanto parte da militância cutista participava de ato na região central paulistana, outra parte, com cerca de mil representantes dos sindicatos dos municipais, da educação, bancários, químicos, metalúrgicos, escrivães de polícia e servidores da saúde, além de movimentos sociais, reivindicavam a investigação, já que os trabalhadores/as são as principais vítimas do desvio de dinheiro e da falta de investimentos em transporte público. 

A luta da CUT São Paulo por mobilidade urbana, bem como o alerta às denúncias de corrupção no governo estadual, são antigos, e a Central realizou, inclusive, ato em junho de 2012, que reuniu cerca de 5 mil pessoas na Avenida Paulista.

O confronto começou quando a Policia Militar barrava a entrada da população na Alesp e impediu até que deputados passassem pelas grades para dialogar com membros dos movimentos sociais e sindical. O deputado Adriano Diogo (PT) teve que pular um gradil na parte externa e, na porta do plenário Juscelino Kubitschek, houve empurra-empurra quando o deputado João Paulo Rillo pediu aos policiais que liberassem a entrada de convidados, como mostra este vídeo.

No fim do dia, o saldo da violência foram seis feridos, entre os quais Ednalva Franco, Manuel Otaviano da Silva, Gilson Sofia de França, Miriam Hermógenes dos Santos e Severina Amaral, todos da Central de Movimentos Populares do Estado de São Paulo (CMP). Outro foi o fotógrafo do Sindicato dos Químicos de SP, Eduardo Oliveira, ferido no rosto e na perna. 

Pouco antes das 20h, os deputados abandonaram a sessão em solidariedade aos feridos e o líder do PT, Luiz Claudio Marcolino, informou que vai pedir sindicância para apurar os abusos da tropa da choque, “inclusive o uso da bala de borracha que estava abolida pela PM , conforme o governador Geraldo Alckmin recentemente noticiou”, disse. Por volta das 23h, Marcolino informou ao plenário que a militante Severina Ramos, atingida nos olhos por uma bala de borracha, fora internada no hospital São Paulo para avaliação do ferimento.

Sem democracia, tucanos dizem não à CPI

“O governo faz movimento para restringir acesso dos movimentos sociais num momento importante como este. Queremos que seja respeitada a democracia na Alesp, para que a população participe do debate sobre a CPI”, afirmou Rillo no plenário, ao lado de outros parlamentares da oposição que defenderam, insistentemente, a entrada dos manifestantes na Assembleia.

A sessão foi suspensa duas vezes diante do bate-boca entre tucanos e oposição, enquanto o público que conseguiu chegar às galerias alternava vaias, gritos e aplausos a cada discurso.

Para impedir o acesso à galeria dos plenários, a base de Geraldo Alckmin agiu desde o início da tarde. Restringiu e limitou a entrada da população com reserva de lugares, alegando “lotação”. Depois, impediu totalmente a entrada na Casa e posicionou a tropa de choque ao redor da Alesp. Segundo o líder tucano, Carlos Bezerra Jr, havia “fortes indícios” de que os manifestantes fariam ocupação e depredações, e não atendeu aos apelos para uma ação pacífica.

Outra estratégia da base governista de Geraldo Alckmin para fugir da CPI foi priorizar a votação da PEC 01/2013, de autoria do deputado Campos Machado (PTB), que simplesmente transfere ao procurador-geral de Justiça (chefe do Ministério Público) a prerrogativa de iniciar investigações  envolvendo o governador, o vice, os secretários e deputados estaduais, membros do Poder Judiciário e do Ministério Público, além de conselheiros do Tribunal de Contas e prefeitos. 

Descaso e desrespeito com o povo paulista

Ao longo dos debates, o tom foi aumentando e, na base tucana, o discernimento diminuindo a ponto do deputado psdbista Barros Munhoz generalizar a validade das Comissões. Questionou se as CPIs “feitas aos montes no Brasil” aumentaram ou diminuíram a corrupção e completou:  “A Alesp tem comissões próprias, como a de Transportes, de Orçamento, tem todos os instrumentos para fiscalizar”. E completou: “Se for fazer CPI para ver todas as irregularidades, esse país nunca terá atividade parlamentar”.

Em mais de um discurso, Munhoz preenchia o tempo com críticas ao governo federal e chegou a cobrar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para apurar “o cartel da citricultura, que trouxe fome aos produtores de laranja do interior paulista” na avaliação do deputado tucano. 

Marcolino rebateu os tucanos e mostrou que desde 2008 o partido denuncia as fraudes envolvendo a Siemens e a Alstom, sem que qualquer medida fosse tomada pelo governo do PSDB.

Os debates seguiram até às 0h20 desta quinta (15), com a base governista insistindo na PEC 01/2013 e ignorando a proposta de abertura da CPI. Mesmo sem avanços, a propositura continuará na pauta até que haja acordo para liberação.

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