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XVI edição da Copa da Inclusão mostra o fazer na prática

Mais uma vez a Copa da Inclusão fez história no cenário da Luta Antimanicomial. Na última quarta-feira, 23 de agosto, teve encerramento a XVI edição do evento, que reuniu usuários, familiares e trabalhadores da Saúde Mental do estado de São Paulo em um campeonato de futebol, futsal, voleibol, tênis de mesa, jogo de damas e dominó, além de show de talentos, oficinas culturais, de habilidades e feira de artesanato.

A edição deste ano teve início em 19 de julho e aconteceu pela segunda vez consecutiva no SESC Interlagos, com a participação de cerca de 80 serviços de saúde mental. A programação contou com mesa de debate, no dia 16 de agosto, sobre os desafios e possibilidades da luta antimanicomial relacionada à pauta dos direitos humanos, composta por Rogério Gianinni, presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP); Aristeu Bartelli, presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP); e Léo Pinho, presidente da UniSol Brasil. A presidenta do SinPsi, Fernanda Magano, fez a mediação e Ed Otsuka, psicólogo idealizador da Copa da Inclusão, apresentou a mesa.

Léo Pinho iniciou as falas, fazendo menção aos 30 anos da carta de Bauru, que tem por proposta uma sociedade sem manicômios, de tratamento em liberdade.

“Nessas três décadas conseguimos nos afirmar como um movimento social. Hoje o campo da saúde mental, da reforma psiquiátrica, é reconhecido como uma concordante do SUS e do SUAS. Também disseminamos a ideia de uma nova política de drogas, o que é uma conquista coletiva. E a Copa da Inclusão faz parte desse histórico. Aqui vemos algo muito além de um campeonato de futebol, de geração de renda e economia. Aqui vemos a saúde mental ocupando a cidade, os territórios”, disse.

A Lei 10.216, que a criou a Política Nacional de Saúde Mental, prevendo o tratamento em liberdade, é outra grande conquista da luta antimanicomial.

Leo Pinho aproveitou a ocasião para analisar a conjuntura atual do governo golpista, que discute agora a revisão da Política Nacional de Atenção Básica.

“Estão querendo mudar o trabalho das pessoas do Programa de Saúde da Família. Em São Paulo, p o prefeito cortou o atendimento à população de rua no período da manhã, um período em que a pessoa realmente precisa de uma abordagem social”, pontuou.

O cenário de farto é este: de retrocesso nas políticas públicas. O debate serviu como ferramenta de convocação às equipes de saúde mental, junto aos usuários e familiares, para a resistência. Afinal, há hoje mais de 800 serviços em espera de credenciamento no Ministério da Saúde.

“Os setores da sociedade quem defendem a redução de direitos têm interesses econômicos”, afirmou Leo Pinho, fazendo uma explicação didática aos presentes. “É nesse sentido que precisamos dizer que a resposta do cuidado é o esporte, a cultura, a arte, a economia solidária, a reabilitação psicossocial. Vir aqui jogar bola é uma concepção de saúde, da promoção de direitos humanos”, finalizou.

Fazendo a segunda fala da mesa, Aristeu Bartelli ressaltou a importância de fazer a boa luta, traçando um breve histórico sobre o trabalho da Defensoria Pública, seu campo de atuação como psicólogo.

“É um espaço que devemos saber ocupar. Nós precisamos sempre fazer lembrar que o espírito da Carta de Bauru tem que se manter vivo, que é ele que vai romper barreiras.

São os usuários que fazem a Copa

O direito à liberdade, ao encontro, à decidir a própria vida, são importantíssimos”, afirmou o presidente do CRP-SP.

Mas o que fazer a respeito de direitos há tanto tempo garantidos, como a aposentadoria, e agora ameaçados?

“Sair às ruas, retomar a luta, discutir, tomar a força da nossa vida em nossas mãos!”, clamou Bartelli.

Fernanda Magano complementou o pensamento: “Que possamos construir dia a dia essa realidade”, disse.

Encerrando a mesa, o presidente do CFP, Rogério Gianinni fez uma fala breve, mas não menos importante. Começou se lembrando que, no ano passado, esteve na Copa da Inclusão como candidato à presidência e agora falava em nome do Conselho.

“Os comentários anteriores apontam a necessidade de ser reafirmar o caráter democrático da luta antimanicomial, da modalidade da atenção da questão da saúde mental, mas reafirmar como um valor pra essa sociedade. A cidadania é que trata, a cidadania é que cuida”, frisou.

Giannini observou que quem luta pela democracia precisa olhar também para a Saúde Mental e fazer desta uma luta geral da sociedade brasileira.

“A Copa da Inclusão não é uma ideologia. São os usuários que a fazem. É conquista, é trabalho, fruto de um processo exitoso, funciona. É só conversar com os usuários e familiares que veremos as pessoas dizendo o quanto eram desrespeitadas, o quanto não eram cuidadas e o quanto os serviços transformaram suas vidas e as de seus familiares”, garantiu.

A Psicologia tem um papel protagonista na Luta Antimanicomial. A categoria não deve abrir mão desse lugar.

“Vamos defender as políticas e os equipamentos onde poderemos dividir a militância com os usuários e familiares”, finalizou Rogério Gianinni.

Quando a mesa abriu o debate com a plateia, houve vários depoimentos de usuários sobre períodos de internação, uso de medicamentos e mudança de percepção de cidadania a partir do tratamento em liberdade.

Segundo Ed Otsuka, idealizador do evento, membro da ONG Sã Consciência e militante da Frente Antimanicomial, a Copa da Inclusão tem um caráter libertário e de emancipação, em que a Luta Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica podem ser percebidas concretamente.

“Chegamos à esta edição genuinamente, graças aos usuários, que cobram a participação dos serviços que frequentam durante o ano todo aos trabalhadores e gestores. Apesar de todos os obstáculos e falta de apoio do poder público, continuamos fortes e compondo um grande espaço de resistência”, destacou Otsuka.

A final do campeonato aconteceu no dia 23 de agosto. O CAPS AD Capela do Socorro ganhou o prêmio de torcida mais animada. Já o CAPS Adulto Capela do Socorro ganhou o Troféu Inclusão. Todos usuários receberam medalhas.

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