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Bolsonaro, a fome e o Febeapá

Pesquisas revelam: 5,2 milhões de brasileiros passam fome — e 17 morrem por dia, em consequência

Na sexta-feira passada, Jair Bolsonaro foi a principal atração do Febeapá, o Festival de Besteira que Assola o País. A ideia do genial Sérgio Porto surgiu no contexto dos anos 1960, mas está mais atual do que nunca, como podemos constatar. Para nós, da saúde, a frase que ganhou o prêmio máximo de irresponsabilidade foi a seguinte: “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não.” Isso porque, explicou o presidente brasileiro à mídia estrangeira, “você não vê gente, mesmo pobre, pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo”. É claro que a realidade desmente o capitão reformado.

De acordo com o último relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO na sigla em inglês), aproximadamente 2,5% dos habitantes do país encontram-se em grave situação alimentar – ou seja, ao menos 5,2 milhões passaram ao menos 24 horas sem comer nada. Já segundo levantamento feito pelo Estadão no Datasus, entre 2008 e 2017, ao menos 63,7 mil pessoas morreram por complicações decorrentes da desnutrição – uma média de 17 óbitos por dia.

E não é preciso ir muito longe para encontrar histórias horríveis de fome no Brasil. No centro da capital mais rica do país, Ellen Cristina Santos passa pela pior das incertezas: há dias que consegue pão e café graças a esmolas de transeuntes. Mas não na véspera da declaração de Bolsonaro, quando passou o dia inteiro sem comer. Para maquiar a fome, ela e seu namorado, Cleyton Gean de Lima, decidiram dormir às 18h e, assim, tentar esquecer o ronco no estômago.

No mesmo dia, o mandatário recuou e concedeu que “alguns passam fome”. E Guilherme Amado, na Época, lembrou que quando pedia votos na eleição do ano passado, Bolsonaro tinha uma opinião diferente sobre o assunto. “Nunca haverá estabilidade social na presença de fome, violência, miséria e de altas taxas de desemprego”, dizia o plano de governo da campanha, protocolado no Tribunal Superior Eleitoral.

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