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Bolsonaro coloca executivo do mercado financeiro como ministro da Educação

Economista com expertise em previdência privada e gestão de recursos, Abraham Weintraub diz que “é preciso vencer o marxismo cultural nas universidades” e agir para que o país pare “de fazer bobagem”

 O novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, é executivo do mercado financeiro, com mais de 20 anos de experiência, tendo atuado como sócio na Quest Investimentos. Foi diretor estatutário do banco Votorantim, presidente da Votorantim Corretora no Brasil e da Votorantim Securities no Estados Unidos e na Inglaterra, além de ter sido economista chefe por mais de 10 anos.

Ocupou assento no comitê de Trading da BM&F Bovespa, na Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord) e no Comitê de Macroeconomia da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima). Representou o banco Votorantim nos encontros do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB).

Mestre em Administração na área de Finanças pela Faculdade Getúlio Vargas, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), até ontem era um auxiliar do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que integrou a equipe de transição. Hoje (8), foi nomeado por Jair Bolsonaro (PSL) em substituição ao professor de Filosofia colombiano desconhecido no meio acadêmico Ricardo Vélez Rodríguez, demitido nesta segunda-feira após um período de fritura.

Conforme seu currículo na plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o novo comandante do Ministério da Educação (MEC) é autor de três artigos completos em periódicos. Um sobre o retorno da inflação, outro sobre reforma da Previdência e o terceiro sobre indústria de fundos mútuos e fundo de previdência privada. Entre 2007 e 2010 assinou artigos em jornais e revistas, sobre inflação e investimentos.

De 2013 a 2016 apresentou cinco trabalhos em conferências sobre previdência e gestão de recursos. Em 2014 ingressou como professor na área de Ciências Contábeis na Universidade Federal de São Paulo, campus de Osasco.  De 2015 a 2016 organizou três eventos sobre mercado de Previdência e mercado financeiro. É orientador de um trabalho de conclusão de curso de graduação, cujo tema é desempenho dos fundos de previdência privada em renda fixa.

Não há no currículo de Weintraub formação ou experiência em gestão de políticas educacionais. O que ele entende de educação é o que aprendeu com o guru Olavo de Carvalho. Defende que militantes de direita devem adaptar as teorias olavistas para vencer os embates teóricos com os militantes de esquerda. Principalmente no âmbito das universidades.

Vencer o marxismo
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ao participar de um painel sobre economia da Cúpula Conservadora das Américas, em Foz do Iguaçu, em 8 de dezembro, Weintraub afirmou que é “preciso vencer o marxismo cultural nas universidades” e trabalhar para que o país pare “de fazer bobagem” para se chegar a uma situação ideal. E afirmou também que é preciso vencer o comunismo e evitar outras ameaças, como ataques islâmicos, para que o Brasil seja um dos países mais pacíficos do mundo.

“Dá para ganhar deles. É Olavo de Carvalho adaptado”, disse Weintraub na ocasião. “E como ganhamos deles? Não sendo chatos. Temos que ganhar com humor e inteligência”, completou, para depois fazer uma explanação histórica sobre questões econômicas, mas centradas no discurso no combate ao pensamento de esquerda, conforme o vídeo a seguir:

https://youtu.be/03HdxU_OTDg

Discurso de ódio

Como tem sido regra no MEC, o novo comandante da pasta não entende nada de educação. Só de provocações, do discurso do ódio e de perseguição à esquerda.

Para o coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, Weintraub é um homem dividido. “Está entre a educação recebida de Olavo de Carvalho, que o indica para Jair Bolsonaro, e ao mesmo tempo entre o compromisso que tem com o grupo do Paulo Guedes e o ultraliberalismo defendido pelo mercado financeiro”, disse.

A tendência do Ministério da Educação, segundo ele, é continuar paralisado. Isso porque o novo ministro vai querer conciliar a relação que tem com o ministro da Economia Paulo Guedes e também com Olavo de Carvalho.

“Sempre quem chancela o ministro é o Olavo. A minha impressão é que ele (Weintraub) vai optar por trabalhar por menos investimento em educação, paralisando transferências do governo federal para estados e municípios para ajudar a financiar a educação básica. E também travar a expansão da democratização do ensino superior, que já foi travada por Michel Temer e que tende a ser mais radicalmente inviabilizada por Bolsonaro”, disse Daniel Cara.

Submisso à pauta de Paulo Guedes, o MEC deverá ser favorável à desvinculação de recursos, o que é contrário aos interesses da Educação, e  trabalhar contra a renovação do Fundeb, o fundo de financiamento da educação básica que garante substancialmente as 40 milhões de matrículas públicas no ensino infantil, fundamental e médio.

“Além do constrangimento econômico, o novo ministro vai seguir a tendência de promover no MEC a guerra cultural bolsonarista ou a guerra cultural olavista. Esse é o futuro que eu vejo para o ministério da educação, um futuro trágico, porque a área precisa na verdade de se realizar, de valorizar os professores, discutir sobre a infraestrutura das escolas, fortalecer a gestão democrática, aquilo que está posto na Constituição Federal. E que nunca infelizmente saiu do papel”.

Daniel Cara acredita também que o ministro vai travar uma pauta fundamental: a implementação do Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado inclusive por Bolsonaro quando deputado federal. Ressalvados alguns destaques, o PNE foi aprovado por unanimidade.

O PNE determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional no período de 2014 a 2024. Mas ainda não saiu do papel.

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