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Bolsonaro e a serpente do fascismo

Comentários ofensivos em post da fanpage institucional suscitam posicionamento do sindicato

O SinPsi, entidade que tem em sua base mais de 80 mil psicólogas, numa categoria em que quase 90% são do gênero feminino, não poderia se calar frente à agressão feita pelo deputado Jair Bolsonaro à deputada e ex-ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário.

A decisão imediata do sindicato foi a de dar ampla divulgação em nossos meios de comunicação a diversas iniciativas de setores da sociedade que se posicionaram condenando os ataques, solidarizando-se com a Maria (assim a chamaremos em homenagem a tantas Marias vítimas de violência) e propondo medidas, entre elas a de exigir a cassação do deputado agressor.

Mas, a partir da repercussão que observamos em nossa Fanpage, página institucional do SinPsi no Facebook, nos muitos comentários lá feitos em matéria tratando do tema, pensamos que, para além do nosso apoio, deveríamos falar em primeira pessoa e pontuar claramente qual a posição da entidade.

Nós repudiamos os ataques de Bolsonaro, entendendo que se trata de uma apologia à violência contra a mulher e também que não se resume a simples entrevero entre pares, como muitos têm alegado, pois os fatos ocorreram durante uma discussão na Câmara Federal sobre o Dia Nacional dos Direitos Humanos. Outro fator fundamental é que vivemos em um país com estatística de mais de 50 mil estupros por ano (sem considerar a subnotificação). Um país em que a muitas mulheres estupradas o são sob a alegação de que mereciam. É tudo muito grave para se tratar com leviandade, folclorizando o ocorrido.

Quanto aos comentários que nos desafiaram a nos posicionarmos com ainda mais veemência, esclarecemos que temos adotado a política de excluir do post os que são abusivos e usam de linguagem violenta ou preconceituosa. A exceção no caso tem um sentido pedagógico e outro jurídico. Em uma análise ligeira, constata-se desde concordância explícita com Bolsonaro até falas que identificam como mal amadas as psicólogas que se insurgem contra o agressor de Maria. Temos falas que condenam o sindicato, cujo dever deveria ser apenas cuidar de pautas de reivindicação.

São comentários feitos por homens e mulheres, inclusive psicólogas. Uma rápida passeada pelos perfis esclarece, via de regra, que pensamentos e posições na sociedade comungam. O ovo da serpente parece ter chocado e o fascismo tem aparecido como ideologia e discurso aceitáveis.

 

Juridicamente estamos discutindo medidas cabíveis para esse e outros casos. Como exemplo, já recebemos comentários em posts como “Esse é um sindicato de bichonas” e “Fora ditadura gay do sindicato”.

Nossa firmeza não dispensa a ternura e por esse motivo encerramos com um trecho da poesia de Milton e Brant:

Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria.

Diretoria do SinPsi, reunida em 13 de dezembro de 2014

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