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Brasil tem mais de 100 projetos que violam o direito à comunicação

Constituir uma empresa pública de produção de notícias, realizar a primeira conferência sobre comunicação, outorga de novas rádios comunitárias e a escolha um modelo de TV digital que possibilite a ampliação dos canais que possam ser geridos por instituições e movimentos. Apesar de tímidas, esses poucos avanços conquistados durante os governos democráticos no Brasil no campo da comunicação sofreram desmontes após a entrada ilegítima de Michel Temer na Presidência (PMDB).

Entretanto, em meio a esses ataques, houve uma acelerada transformação na forma de se comunicar, imposta pelas novas tecnologias da informação e canais de comunicação popular e sindical. Mas há desafios a serem enfrentados, permitindo a ampliação e interação do público nas plataformas de comunicação popular. Esse foi um debates levantados durante o 3º Encontro de Comunicação da CUT-SP, realizado nesta quarta (22), em São Paulo.

“Estamos vivendo um momento de restrição das liberdades democráticas do nosso país, onde a ofensiva do capital financeiro e do setor conservador mais retrógrado avança sobre as conquistas históricas do povo brasileiro. Discutir os desafios da comunicação sindical é fazer o debate à luz desse contexto político”, disse Renata Mielli, coordenadora do Fórum Nacional de Democratização (FNDC) e do Barão de Itararé, na mesa sobre o “Panorama da Política de Comunicação no Brasil Pós-Golpe”.

Para ela, apesar da perda de hegemonia dos grandes veículos de jornalismo, a comunicação dos sindicatos ainda é tradicional e precisa ser reinventada. No entanto, a especialista alerta que existem mais de 100 projetos no Congresso Nacional que pretendem limitar a liberdade de comunicação dos brasileiros.

“Uma conquista, com a luta dos movimentos sociais, foi a aprovação do Marco Civil da Internet. Mas a gente fala pouco sobre isso, sobre saber como funciona a internet. Temos um espaço democrático que reúne muitas pessoas, responsáveis pela governança da internet e que está sendo atacado pelo governo golpista, que quer acabar com o Marco por meio de projetos que restringem a liberdade.”

Ainda no campo da internet, Renata disse que a comunicação do movimento sindical não pode ficar só no Facebook e deixar de alimentar sites. “É claro que temos de usar esse espaço, é uma importante arena de disputa política, mas a memória do movimento sindical não pode ficar só no Facebook, pois não temos garantia de backup ou portabilidade caso a rede deixe de existir”, disse a especialista.

O 3º Encontro de Comunicação da CUT-SP ocorre na sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, no Centro de São Paulo (SP). Ao longo do dia, a atividade, que reuniu dirigentes, jornalistas, secretários de comunicação e assessores de diferentes sindicatos filiados à CUT, discutiu os desafios da comunicação popular e sindical, apontando caminhos para o fortalecimento e difusão dos conteúdos produzidos pelos sindicatos.

“Nesse momento de ataque aos direitos dos trabalhadores, precisamos criar estratégias para fortalecer os múltiplos canais de comunicação que os sindicatos possuem. É necessário explorar caminhos e a criatividade para conseguir levar a nossa narrativa para mais pessoas”, disse a secretária de Comunicação da CUT-SP, Adriana Magalhães.

Agenda da diversidade

Outra mesa da manhã foi conduzida pelo professor doutor Dennis de Oliveira, chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, que falou sobre Direitos Humanos e a Comunicação Sindical. O especialista relembrou momentos importantes dos veículos de comunicação popular na história do Brasil, como nos diversos períodos de ditaduras militares e de redemocratização, destacando a importância dos jornais produzidos pelos partidos de esquerda e movimentos sindical.

Em seguida, Denis fez uma análise das notícias produzidas pelos principais veículos de comunicação do Brasil , apontando uma tendência de “opressão sobre as minorias”, o que ajuda a amplificar a desigualdade de classe. “Temos de pensar uma estratégia de politizar os pensamentos. Os comportamentos racistas, machistas e homofóbicos reforçam os preconceitos, que por sua vez são usados por empresários como forma de depreciação do valor da mão de obra. O patrão pensa, consciente ou inconscientemente, que ele pode pagar menos para o negro ou uma mulher porque a sociedade já os depreciam”.

“A luta sindical não pode tratar a luta dos direitos humanos como uma agenda a parte, como se fosse um ‘apoio’ “, disse ao citar que cabe aos sindicatos colaborar na desconstrução dos estereótipos.

O professor diz que hoje o jornalismo perdeu o monopólio da novidade, já que antes era preciso ler e assistir jornais para se informar, mas hoje, mesmo se não acessar esses espaços, a notícia chega até a pessoa.

Novo portal

Na abertura do Encontro, o secretário de Comunicação da CUT Brasil, Roni Barsbosa, falou sobre o processo de criação do novo portal da entidade, com previsão de lançamento em 2018.

O espaço irá promover maior integração das notícias produzidas pelas estaduais da CUT, as confederações e sindicatos filiados à entidade, de forma a alcançar mais trabalhadores. “Com a reforma Trabalhista, o único lugar que o trabalhador terá para se apoiar é o sindicato. Na última pesquisa CUT-Vox Populi, 57% dos entrevistados disseram confiar nos sindicatos. Então, precisamos nos comunicar melhor, chegar a mais pessoas”

Para o presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, as pessoas estão buscando outras fontes de informação, uma vez que a mídia tradicional tem perdido credibilidade. “Hoje a realidade está um pouco rompendo o processo de manipulação porque a vida do povo só piorou desde o golpe que a mídia ajudou a arquitetar. E isso tem desmascarado esses veículos”.

Já a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e anfitrião do evento, Ivone Silva também apontou o Whatsapp como uma ferramenta importante de difusão das notícias. “Você precisa atrair o trabalhador para o seu site e é isso que a gente tem tentado cada vez mais, criando listas de contatos e convidando essas pessoas e lerem o site”.

Oficina

No período da tarde, profissionais da TVT, Rede Brasil Atual (RBA) e Rádio Brasil Atual apresentaram o histórico desses veículos e sobre o processo de garantir pluralidade nas notícias, diferenciando dos conteúdos dos grandes meios. Uma oficina sobre informação para as redes sociais foi realizada com os participantes.

Estiveram presentes Luiz Parise, diretor de Jornalismo da TVT, Maurício Júnior, diretor de Tecnologia da Informação da TVT, e Glauco Faria, editor do site RBA e âncora da Rádio Brasil Atual.

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