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Cidade de São Paulo fecha último leito psiquiátrico

No dia 1º de dezembro de 2016, a Secretaria Municipal de Saúde fechou o último leito em hospital psiquiátrico. Nossa cidade está livre dos manicômios, uma luta de quase 30 anos dos profissionais da Saúde Mental e da sociedade civil. Uma iniciativa em sintonia com a Política Nacional de Saúde Mental e com a Luta Antimanicomial.

Mais de 160 pacientes foram encaminhados para unidades de residência terapêutica ou leitos em hospital geral, com objetivo de reconstruir os vínculos sociais e familiares.

Hoje, a Rede de Atenção Psicossocial da Prefeitura está composta por 82 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), 39 Residências Terapêuticas, além das 16 Unidades de Acolhimento, 23 Centros de Convivência e Cooperativa e 13 Hospitais Municipais com Enfermaria de Saúde Mental.

São 18 Consultórios de Rua, o programa De Braços Abertos com reconhecimento internacional, dois pontos de Economia Solidária, além das Redinhas locais que geram condições práticas para que os usuários da Rede de Saúde Mental, tanto adultos, como crianças e adolescentes, não sejam mais submetidos à segregação e isolamento social como método de tratamento.

A Secretaria Municipal da Saúde construiu nestes quatro anos uma Rede articulada e efetiva para dar sustentação à concepção de cuidado em liberdade. Assim não se recorre mais ao Hospital Psiquiátrico. É a cidade de São Paulo livre de manicômios!

Tykanori fala ao SinPsi

Em entrevista exclusiva ao SinPsi, o psiquiatra antimanicomial e coordenador de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, Roberto Tykanori, explicou que o fechamento do último leito psiquiátrico na cidade de São Paulo foi uma esperada consequência de toda a rede construída pela reforma psiquiátrica, conforme descrita acima. 

“Isso é resultado de um trabalho de mais de 25 anos, que intensificou a cultura de que a internação não deve ser a primeira opção. A partir dessa mudança de pensamento, o leito psiquiátrico se tornou obsoleto. Fechamos simplesmente porque ele não estava sendo usado”, comemora Tykanori.

Ao ser questionado se o próximo prefeito, João Doria, pode reverter esse quadro e reabrir os leitos, o coordenador foi enfático.

“É uma decisão administrativa fechar um leito que não está sendo usado. É redução de gastos. Doria é um gestor, como ele mesmo diz. O nosso modelo (da reforma psiquiátrica) tem uma relação custo-benefício melhor que a do modelo manicomial, que tem como problema intrínseco a cronificação das pessoas. Acredito que ela vá manter”, avalia.

Ao falar sobre a conjuntura atual de retrocesso conservador em âmbito federal, Tykanori disse causar espanto a absurda fragilidade das instituições democráticas de um lado, e a constatação de como elas não estão enraizadas no cotidiano do povo brasileiro de outro.

“O campo da saúde mental é onde está o desafio de se promover direito e equidade. Fato positivo é que há um certo descompasso entre o que ocorre na saúde mental e esse retrocesso todo, pois a reforma psiquiátrica é muito conectada ao processo de democratização do Brasil. Quando as instituições democráticas são assombradas, também ameaça nosso processo de continuidade da reforma”, afirma o psiquiatra, lembrando que se aumentar a briga pela democracia, aumenta a força da luta dos profissionais e usuários dos serviços de saúde mental. “O cidadão comum muitas vezes não se dá conta de que é um cidadão. Mas para quem passou pelo lugar da anulação, ser cidadão é uma conquista”, finaliza.

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