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Com equipe tetracampeã, Copa da Inclusão consagra o espaço de voz do usuário

Foi com muito barulho e comemoração que terminou a XV edição da Copa da Inclusão, nesta sexta-feira, 16 de setembro. Todas as equipes participantes se reuniram na quadra poliesportiva do Sesc Interlagos, que sediou o evento, para a cerimônia de encerramento. 

Maior evento de saúde mental da América Latina, a Copa é marca emblemática da reforma psiquiátrica brasileira. O psicólogo, membro da Frente Antimanicomial de São Paulo e mentor da Copa, Ed Otsuka, reafirmou ser esse o grande momento em que a voz do usuário ecoa de verdade.

“Aqui direitos são reafirmados e resgatados. Aqui não há silenciamento, como já houve na saúde mental. Aqui a gente vê a luta antimanicomial sendo concretizada. E esses 15 anos de copa da inclusão, posso dizer, foram sustentados pelos usuários, que sempre exigem a realização do evento. Se não fossem os usuários, que cobram o trabalhador e o gestor, esse projeto não teria crescido nesses 15 anos, com muita luta e resistência! Viva a Copa da Inclusão!”, bradou Ed.

Uma das presenças mais eufóricas, o secretário municipal de saúde e ex-ministro de Saúde, Alexandre Padilha, sambou com os usuários instrumentistas, fez fotos com as equipes e premiou vencedores.

“Hoje é um dia muito especial, porque de manhã foi a formatura dos usuários do programa De Braços Abertos. Vim para dizer que todos vocês são campeões, tanto os usuários quanto os trabalhadores. Encontrei muita gente aqui que estava em Sorocaba (internados no Hospital Psiquiátrico de Vera Cruz – na foto) e agora está nas nossas redes substitutivas, que respeitam os direitos humanos. Isso é muito gratificante”, afirmou Padilha, emocionado. Cliquei aqui para ver vídeo do secretário com a equipe do CAPs São Matheus.

O gerente do Sesc Interlagos, Ricardo Gentil, aproveitou a ocasião para agradecer a oportunidade de sediar o evento:

“Quero agradecer por terem feito essas sextas-feiras mais alegres aqui no Sesc. Acabamos de completar 70 anos de atividades, de contribuição para a cidadania, a sociabilização, a inclusão, o convívio. O Sesc foi criado para isso e a Copa da Inclusão só reforça nosso trabalho. Obrigada por terem nos escolhido. Que essa parceria se perpetue. Esperamos vocês ano que vem”, exaltou.

Primeiro lugar no futsal infantil, o Projeto Quixote (foto) acolhe crianças e adolescentes de saúde mental, bem como alunos da região da Vila Mariana e menores em situação de vulnerabilidade, que chegam por meio do Serviço de Proteção a Vítimas de Violência. O psicólogo do projeto, João Vítor Aquino, recebeu a vitória como reconhecimento de um longo trabalho:

“O Quixote existe há 20 anos. Funciona em uma casa com outros projetos pontuais. A Copa dá uma possibilidade de interação e visibilidade incríveis. As crianças trabalham o pertencimento aqui. Ano passado fomos vice, perdemos para o M’Boi Mirim, que é vice agora. Nos revezamos”, brinca.

Com a fala os usuários

A equipe que mais se destacou foi a da CAPs São Matheus. Além de ter se consagrado tetracampeã no Futsal Chave de Ouro, ainda levou o troféu Melhor Torcida. 

Danilo Soares, 23 anos, lateral do time tetra, falou sobre a importância do esporte em sua vida e na de muitos colegas do CAPs:

“Esporte tira as pessoas das ruas, livra da violência, das drogas. Fazer esporte é a melhor coisa que a gente tem. Tenho muito orgulho de participar de um campeonato respeitado como esse. E ainda por cima ser tetra! Ainda mais que o esporte, para mim, significa deixar as drogas de lado. Sou muito incentivado a parar o uso, me ofereceram emprego já, graças ao CAPs”, comemora.

A equipe do Cecco Fó (foto), apesar de não ter levado títulos, estava radiante, com a mesma animação da cerimônia de abertura

Alif de Almeida, usuário de 23 anos, curtiu sua estreia na copa, mas fez uma ressalva:

“O time está precisando de ajuda, de técnico e de bons jogadores. Vamos atrás disso! Mas fiz muitos amigos aqui, tem gente muito humilde nesse evento”, contou.

Já Luan Rocha jogou como atacante e se orgulha por só ter perdido um gol de pênalti. 

“Fiz amigos, joguei bola, só não arrumei namorada porque tenho uma amiga lá na minha rua já”, revelou.

Com quatro gols na Copa, Ronaldo Domingues se tornou o artilheiro do Cecco Fó:

“Foi legal o desempenho do evento. Por ser dia de semana, não pude participar de outras atividades. Se fosse aos sábados, eu teria mais tempo. Mas fiquei muito feliz”, avaliou.

Ao final, Ed entregou o Troféu Inclusão, dedicado à equipe que mais se destacou pela compreensão do que é o espaço da Copa da Inclusão, a mais comprometida física e emocionalmente. Quem levou foi o CAPs Jardim Ângela.

Após as premiações, houve confraternização.

Confira os vencedores da XV Copa da Inclusão

Dominó

1º – CAPs Jardim Ângela
2º – CAPs AD Itaquera
3º CAPs São Matheus

Futsal Chave Prata

1º – CAPs Itaim Paulista
2º – CAPs Arco Íris
3º – CAPs Vila Matilde

Futsal Infantil

1º – CAPs Projeto Quixote
2º – CAPs M’Boi Mirim (foto)
3º – CAPs Guaianases

Futsal Chave de Ouro

1º – CAPs São Matheus
2º – CAPs Parelheiros
3º – CAPs M’Boi Mirim

Troféu Melhor Torcida
CAPs São Matheus

Troféu Inclusão
CAPs Jardim Ângela

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