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Congresso da FENAPSI: ‘A bancada que propõe a cura gay é a mesma que terceiriza nosso trabalho’

”Cura gay”, projetos contra travestis e transexuais, a retirada de debates sobre diversidade das escolas, manifestações contra a “ideologia de gênero”. Quando o assunto é a bancada fundamentalista do Congresso Nacional, essas são as principais iniciativas que vêm à cabeça. Terceirização, Reforma da Previdência, desmonte das leis trabalhistas, porém, não são diretamente relacionados a esse setor do Legislativo.

“Não são, mas deveriam”, sugere o psicólogo e assessor sindical do Sindypsi PR, Cesar Fernandes na abertura da mesa “Quem somos nós? Em que contexto o conservadorismo precariza nossas vidas e trabalhos”, terceira mesa da programação do Congresso Nacional da FENAPSI.

Para chegar a essa conclusão em seu discurso, Cesar resgatou os acontecimentos do ano de 2013, quando milhões de brasileiras(os) foram às ruas com reivindicações pouco delimitadas e muito difusas. Nos cartazes, manifestações contra a corrupção e por serviços públicos “padrão FIFA”. Um novo cenário nascia nas “jornadas de junho”: sindicatos, entidades estudantis e partidos não tiveram espaço nessas ações, sendo inclusive expulsos de maneira violenta.

“A gente veria, depois, que esse processo de mobilização no Brasil foi capitalizado pela direita e ajudou a criar uma base social para o que eu chamo de golpe institucional, que é quando o ciclo de desenvolvimento dos governos petistas foi interrompido e substituído pelos projetos de outra parcela da burguesia”, refletiu.

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Fundamentalismo e onda neoliberal

Mas em que aspectos esse cenário político ajuda a explicar a LGBTfobia? Para Cesar, em todos.

“Em nome da governabilidade”, continua o psicólogo, “o ex-governo abriu portas para a agenda fundamentalista, que cresceu com um discurso fortemente moral, vinculado à família e aos bons costumes. Mas é importante pensar que esses deputados e deputadas não legislam somente sobre as vidas das minorias políticas. Não seria possível a aprovação da lei da terceirização irrestrita, da PEC do congelamento de gastos e o encaminhamento da Reforma da Previdência sem o apoio da bancada fundamentalista. Eles retiram direitos de todas e todos que trabalham”, reafirma.

Partindo desse pressuposto, Cesar, que participa do movimento sindical há cinco anos, propõe uma reflexão aos sindicatos: como debater os direitos trabalhistas se não considerarmos que a classe trabalhadora tem gênero, raça, identidades e orientações sexuais? “A Psicologia, por exemplo, é composta majoritariamente por mulheres. São as brasileiras negras que estão nos postos de trabalho mais precários. Se o movimento sindical continuar pensando que o trabalhador tem unicamente o perfil masculino, branco, heterossexual e cisgênero, não conseguiremos disseminar nossas idéias na sociedade”, opina.

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Uma ação, múltiplos resultados

“Derrotar os projetos nefastos da bancada fundamentalista e garantir um Estado verdadeiramente laico é também garantir mais direitos trabalhistas”, defende Cesar. Para o psicólogo, a luta contra o racismo, o machismo e a LGBTfobia irá inevitavelmente atingir o setor político que está rasgando a CLT e retirando de milhões de brasileiras(os) o direito à aposentadoria.

Além de reconhecer a diversidade da classe trabalhadora, Cesar propõe que as entidades sindicais disputem o sentido da Psicologia nesse contexto social áspero. “A nossa profissão tem o potencial de consolidar ou enfrentar desigualdades. Espero que, por meio  da Psicologia, possamos contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e igualitária”, finaliza.

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