O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo repudia o conteúdo do blog do jornalista Reinaldo Azevedo, publicado em 31 de janeiro, no site da Revista Veja sob o título: Vem confusão no combate ao Crack, no qual são proferidas críticas à Reforma Psiquiátrica e à Luta Antimanicomial.
No final da década de 70, em meio ao processo de redemocratização do país, profissionais da saúde, inspirados por movimentos europeus, passaram a se organizar e propor uma forma alternativa de tratar pessoas consideradas “loucas”. O Movimento Antimanicomial defendia e segue defendendo um modelo de atenção que garanta a cidadania e os direitos das pessoas com transtornos mentais graves e que fazem uso abusivo de álcool e/ou outras drogas.
Para ser ter uma ideia, mais de 60 mil pessoas morreram no Hospital Psiquiátrico Colônia, em Barbacena (MG), durante os anos de 1903 e 1980, período de seu funcionamento. No interior de São Paulo, na região de Sorocaba, conhecida pela alta concentração de hospitais psiquiátricos, estudo realizado recentemente aponta o alto índice de mortalidade nos hospitais: entre 2006 e 2009, foi registrado um total de 233 óbitos nos quatro hospitais psiquiátricos do município. Nestes lugares, o abandono e a negligência são marcas indeléveis.
Tais informações parecem não fazer parte das pesquisas do jornalista Reinaldo Azevedo, que condena a Luta Antimanicomial taxando-a de desastre. Ora, desastre é a constante violação aos direitos humanos e a degradação cometida nestes estabelecimentos, que produziram uma população numerosa de moradores, numa declarada demonstração de sua ineficácia.
Hoje, as comunidades terapêuticas se mostram como uma versão repaginada dos hospitais psiquiátricos e seu modelo asilar. As violações seguem sendo cometidas. Em 2011, o Conselho Federal de Psicologia produziu um relatório resultante de fiscalizações em âmbito nacional no qual denuncia violências físicas e psicológicas cometidas contra internos(as) nessas instituições. É preciso enfrentar a questão de uma forma séria e coerente, por meio da implantação de uma rede de atenção psicossocial, criando novos espaços e potencializando os já existentes.
As afirmações proferidas contra a Reforma Psiquiátrica e o modelo de atenção psicossocial ignoram experiências bem sucedidas de cuidado a pessoas com transtornos mentais graves e usuários(as) de álcool e outras drogas, que foram capazes de restituir os laços sociais e a vida de milhares de pessoas antes destinadas ao confinamento em instituições asilares A plena efetivação da rede de atenção psicossocial necessita ser algo contínuo para mostrar para a sociedade que há outros caminhos que preservam e resgatam a integridade destas pessoas.
XIV Plenário CRP SP
São Paulo, 13 de fevereiro de 2014