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Dia 8, psiquiatra e psicanalista fala sobre os males da medicalização, no Café Filosófico

A busca desenfreada por medicamentos contra transtornos mentais tem como pano de fundo a procura por uma normalidade pouco questionada. Afinal, o que é ser normal hoje em dia? Quem define a ordem à qual devemos nos adaptar? Não seria essa busca cega pela adaptação à ordem justamente a razão, e não a solução, de tanto sofrimento? A quem interessa a normalização nos dias atuais?

No dia 8 de agosto, às 19h, o psiquiatra e psicanalista Mário Eduardo Costa Pereira vai dar a palestra “O que é transtorno mental?”, no Insituto CPFL/cultura (rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632, Chácara Primavera), em Campinas (SP). A entrada é gratuita, com a abertura do local às 18h.

A palestra faz parte do Módulo “Medicalização fora de controle: vivemos uma epidemia de transtornos mentais?”, do Café Filosófico CPFL ao Vivo.

Transtorno de pânico, toc, bipolaridade, transtornos alimentares, autismo, déficit de atenção…  nos últimos anos e de maneira crescente, estes e inúmeros outros termos da linguagem técnica da psiquiatria passaram a fazer parte das falas cotidianas das pessoas em geral. Estranhamente, são os próprios leigos que procuram ativamente nas referências médico-cientificas disponíveis os termos para definirem seus padecimentos psíquicos. A “fossa”, “a crise existencial”, “a dor de cotovelo”, “a dor de existir”, a angústia, o sofrimento e mesmo as “paixões devastadoras” deixam de ter importância nos processos de subjetivação das dores da vida. Espera-se cada vez mais da ciência a última palavra sobre os males emocionais, doravante descritos como “transtornos mentais”. Estes funcionariam como entidades naturais, absolutamente autônomas em relação à história do sujeito, a seus conflitos, à cultura, às relações de poder e às tradições simbólicas e culturais. Nesse sentido, o diagnóstico tem uma incidência moral maior e, de certa forma, profundamente tranquilizadora: o sujeito e a sociedade passam a ser vítimas passivas do mal objetivo e exterior que lhes acomete, representado pelo transtorno mental. Ninguém estaria implicado na posição de sujeito do próprio sofrimento.

Sob essa perspectiva, a ação indesejada de condições mórbidas naturais, logo absolutamente alheias a nossa vontade, se imporia à existência e às sociedades. Diante do caráter absolutamente autônomo das forças natureza representadas pelos neurônios, pelos genes e pelos neurotransmissores, questões relacionadas à historia, à cultura, à politica, à ética, à responsabilidade individual e social, aos conflitos humanos e às tomadas de posição subjetiva perderiam, do ponto de vista teórico e prático, qualquer sentido para a elucidação das “patologias psíquicas”.

Mas justamente a imensa proliferação atual de “transtornos mentais” como a insônia, o alcoolismo, a drogadicção, a ansiedade, os transtornos alimentares, a falta de atenção e mesmo a depressão não deveria por si só interrogar de maneira radical tanto a sociedade atual, tanto quanto os sujeitos que dela participam?

Uma consequência ainda mais perturbadora emerge dessa redução do padecimento psíquico a suas dimensões exclusivamente naturais: os diagnósticos psiquiátricos nunca funcionam como meras descrições passivas de estados mentais tidos como mórbidos. Na verdade, a linguagem médica, cada vez mais rapidamente assimilada à língua do quotidiano, termina por constituir e a formatar os destinos humanos. Disso decorrem questões algumas fundamentais: quais as incidências sobre as crianças e sobre os demais sujeitos sociais em geral, de uma medicalização desmesurada dos fatos da vida? Que efeitos têm, por exemplo, sobre uma criança e sobre sua família os diagnósticos de “transtornos de déficit de atenção” ou de “transtorno do espectro autista”? De que dispositivos intelectuais e políticos a cultura deveria poder dispor para manter uma certa distância crítica da maciça medicalização da existência verificada nas sociedades contemporâneas?

A classificação etária é de 14 anos. Transmissão online pelo cpflcultura.com.br/aovivo.

Para mais informações, ligue para o Instituto CPFL: (19) 3756-8000 ou clique aqui.

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