Cinthia Vilas Boas, Estela Franzin e Fernanda Magano
Nesse dia 07 de maio, comemoramos o Dia Internacional da Redução de danos, data importante em que é essencial debater políticas públicas sem moralismos e hipocrisia.
Um breve histórico do nascedouro da redução de danos na década de 1980 é a perspectiva de sua ação ser um enfrentamento pautado pelas políticas públicas a “guerra as drogas” e a criminalização de condutas, tratando o tema do comportamento aditivo como questão de Saúde Pública e não de segurança. Também o de denunciar o desmonte da Política de Redução de Danos com a criação no Ministério da Cidadania da SENAPRED – Secretaria de Cuidados e Prevenção as Drogas – que é um franco retrocesso, se vinculando as Comunidades Terapêuticas e ações que privilegiam a abstinência.
No âmbito da psicologia como ciência e profissão, a redução de danos, mais popularmente conhecida pela sigla RD, pode ser considerada um paradigma, uma abordagem ou uma perspectiva, utilizada para proporcionar uma reflexão ampliada sobre a possibilidade de diminuir sofrimento ou uma prática que cause ou possa causar a não estratégia de proteção, cuidado e autocuidado, frente à situações de vulnerabilidade.
Mas a redução de danos tem a ver com a visão humanitária, não apenas de visão política pública. Enfrentamos uma pandemia que dilacera a população idosa, nossos irmãos e irmãs, nossas e vidas. E qual o sentido damos a isto?
Neste momento histórico está sendo desrespeitada a subjetividade de cada pessoa, numa sociedade na qual os direitos humanos são fortemente atacados e não é democrático o acesso à saúde física e mental.
É preciso focar no projeto humano, em nossas inspirações, conceitos, princípios, enfim, em tudo aquilo faz nos reconhecermos como povo. Há tempos não somos um povo único, somos muitos povos. Não somente pela visão da cultura, mas pelo sentido de nação, seja qual for seu povo. Seja qual for o conjunto de indivíduos que constroem identidade a partir de gênero, raça, classe ou faixa etária, num espaço de tempo. Ou seja, vivendo em comunidade.
Temos uma pandemia de crenças, sentimentos e vírus. A maioria das crenças religiosas semeiam o amor à(ao) próxima(o), e não basta cuidar somente desta maneira, estamos nos distanciando cada vez mais desta premissa do cuidado e dos lugares de cuidado. Cada cuidado tem seu lugar e cada lugar tem seu cuidado.
Viver este momento tão singular em que a distância do próximo é tão solicitada é reinventar formas de conexão, de fala, de cuidado, de olhar. Não podemos deixar com que o chamado isolamento social, nos tire a possibilidade de saúde na integralidade.
Uma grande parcela da população julga desnecessárias as ações humanitárias, o socorro às comunidades enredadas pela miséria e tão vulneráveis em tempos pandêmicos. E sabemos que existe um recorte territorial, caracterizado por quem doa e quem recebe, quem tem e quem não tem atendimento, quem morre e quem vive. A redução de danos cabe muito bem aqui, quando pensamos, que a população negra é a mais solicitada a fazer parte desta estatística.
Divergimos em tantos pontos de vista, mas é fundamental operar pelo humano. Em prol da vida, seja na distribuição de máscaras, álcool em gel ou cachimbos, uma vez que a redução de danos visa diminuir os riscos pelo uso indiscriminado de drogas psicoativas e, ante uma população polarizada e entorpecida por suas crenças, ampliamos o sentido técnico dialogando com todas e todos.
Assistimos o número de mortos crescendo e teremos muitas outras consequências. Vamos chorar nossos mortos, nossas dívidas e tudo o que não fizemos durante a quarentena. A humanidade não será mais a mesma e sabemos disso.
Nossas bandeiras ideológicas estão à meio mastro. Hoje somos enfermeiras(os), médicas(os), faxineiras(os), psicólogas(os), somos cada um e cada uma na linha de frente e somos também quem está sem ar sendo socorrida (o). Cada morte nos dói e continuamos a exigir prevenção. Nossa esperança e luta é prevenir o “mal maior” e (R)existir!