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Dom Paulo foi fruto de uma grande renovação da Igreja Católica

“De esperança em esperança”, o cardeal pôs em prática a opção preferencial pelos pobres, enfrentou a ditadura e ajudou a restaurar a democracia. Seu lema é muito apropriado aos dias de hoje

São Paulo – Dom Paulo Evaristo Arns foi fruto de uma grande renovação da Igreja Católica. Essa igreja teve uma trajetória de século e séculos em que deixou de ser aquela força dinamizadora dos oprimidos e se tornou uma aliada do poder e das cortes, a ponto de ter havido grandes cruzadas para massacrar dissidentes, a reforma protestante. No início dos anos 1960, teve um papa, João XXIII, muito comparável ao atual, papa Francisco. Na história recente da igreja são esses dois papas que fazem uma sinalização para o novo, para a mudança – uma retomada da primeira mensagem evangélica que pauta a criação do catolicismo por Pedro.

Friederich Engels, companheiro de Karl Marx, idealizador do socialismo científico, tem um livro sobre o cristianismo primitivo, mostrando o que era esse cristianismo revolucionário, em que as pessoas eram capazes de morrer como mártires na arena romana, sem abrir mão de sua fé – algo importante de ser lembrado nesse Brasil de 2016 em que se fazem faz elogios diários à prática da trairagem. Em que pessoas não agem por convicção em nada, mas se vendem por qualquer coisa como mercadoria.

Na sequência dessa mudança renovadora da igreja, nos anos 1960, em que se aprovam definições de que é preciso mais do que pensar, partir para a ação, surge a Teoria da Libertação, que significa a vivência da fé cristã no meio do povo, na luta do povo, do índio, do camponês, do trabalhador, dos sem-teto, grupos vulneráveis, alvos de preconceito.

Nesse momento, dom Paulo, que já tinha um trabalho junto à Pastoral Carcerária, é nomeado cardeal arcebispo de São Paulo, em 1973. Duas semanas depois, ele celebrou na Catedral da Sé, a pedido dos estudantes, uma missa em memória do estudante de Geologia Alexandre Vannuchi Leme, meu primo-irmão, morto brutalmente sob tortura – no momento mais terrível da ditadura, durante o governo Médici.

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Ouça aqui comentário completo de Paulo Vannuchi, na ocasião da comemoração dos 95 anos de dom Paulo, completados em setembro.

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