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‘É Apenas o Fim do Mundo’ mostra uma sufocante despedida familiar

O canadense Xavier Dolan tem apenas 27 anos e já coleciona seis longas-metragens de peso, além de prêmios nos festivais de Cannes e no César. Seu primeiro filme, Eu Matei Minha Mãe, foi feito quando tinha apenas 20 e o mais recente, É Apenas o Fim do Mundo, chega aos cinemas de São Paulo e Rio de Janeiro amanhã (24).

Baseado na peça teatral homônima de Jean-Luc Lagarce (Juste la Fin du Monde), é a obra mais madura e uma das mais intensas do cineasta nascido na cidade de Montreal. A produção franco-canadense traz no elenco nomes consagrados do cinema francês, como Nathalie Baye, Vincent Cassel, Marion Cotillard, Léa Seydoux e o protagonista Gaspard Ulliel.

O drama psicológico que ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2016 conta a história de Louis, um renomado dramaturgo que volta para sua cidade natal depois de 12 anos de ausência para anunciar para a família que está morrendo.

O mal-estar começa desde sua chegada: a excitação da mãe, da irmã que mal conhecia e da cunhada constrastam com o mau humor do irmão Antoine. Todos parecem querer saber o motivo de sua volta repentina, mas ninguém parece querer escutar. Pode ser até que eles já pressentissem que aquela seria uma despedida definitiva. A mãe ora tem ares de vítima ora de vilã, a irmã tenta aliviar o nervosismo com maconha, a cunhada fala sem parar sobre os filhos e o irmão só consegue ser grosseiro para demonstrar que é o “macho alfa” da família.

O fato é que o desconforto e o nervosismo preenchem os ambientes da casa e, com exceção de Louis, todos falam muito, numa desesperada tentativa de não deixar espaço ao silêncio. Assim como o ressentimento vem gradativamente à tona, a sensação de sufocamento também aumenta. A fotografia de André Turpin privilegia cenas em close, o que intensifica ainda mais a sensação de claustrofobia e desconforto.

Não fica claro o motivo de Louis ter deixado todos para trás, mas a impressão é que o fato de ser homossexual tem um peso importante na história. Durante os 12 anos em que esteve fora, a família ficava sabendo de suas realizações por meio do noticiário e o máximo que o escritor fazia era mandar cartões postais nos aniversários.

Apenas o Fim do Mundo é um filme denso que evidencia um problema cada vez mais comum em todas as sociedades, seja no Brasil, na França ou no Canadá: a ausência de empatia e a falta de sensibilidade para a escuta do outro.

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