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Em Sorocaba, Cine Debate relembra vida e obra de Madre Maria Cristina

Para marcar o Dia d@ Psicólog@, celebrado em 27 de agosto, como uma data de luta da categoria, o SinPsi, em parceria com o Levante Popular da Juventude de Sorocaba, iniciou os trabalhos do mês de setembro com a exibição do Cine Debate, dia 1º, na Casa da Juventude (CAJU) de Sorocaba.

Na ocasião, a série Realidade Brasileira exibiu o documentário “Pensando com Madre Maria Cristina”, que conta a história da fundadora do Instituto Sedes Sapientiae, pioneira no atendimento clínico e na aproximação da prática com os movimentos sociais.

Madre Cristina foi uma das figuras mais importantes para os movimentos progressistas no enfrentamento à ditadura. Os movimentos sociais e o movimento sindical, bem como todos aqueles que se beneficiaram das conquistas de direitos com o fim da ditadura militar, devem muito a ela, que não só acolhia os perseguidos e torturados, mas também oferecia espaço de reunião para diversos movimentos e participava ativamente do debate político próprio da época. O próprio Sedes não funcionava apenas como espaço de formação profissional, mas também promovia formações e ações políticas.

“Madre Cristina entendia que a Psicologia não podia se furtar a esses debates, e foi grande defensora da ideia de que a construção de saberes e práticas psis devem considerar criticamente o contexto social no qual se desenvolvem”, analisa Vinicius Saldanha, dirigente do SinPsi, e um dos organizadores do evento.

A obra de Madre Cristina é atemporal e inspiradora para o momento atual. Em época de forte adversidade, falava de esperança, de sonhos. Imaginava uma sociedade mais justa e igualitária, lutava para isso e teve muitos êxitos nessa luta.

Após a exibição houve debate e confraternização. O debate relembrou as conquistas da Psicologia ao longo dos tempos de ciência e profissão, mas pontuou principalmente o compromisso social firmado nas últimas décadas. A Psicologia ficou evidenciada como um instrumento e os psicólogos e psicólogas como potenciais agentes de transformação da sociedade, buscando relações justas e igualitárias, respeitando a diversidade e prezando por princípios democráticos.

“Foi um momento de diálogo e reflexão crítica sobre o contexto em que vivemos condições essenciais para boas práticas e para o engajamento ético e político próprio da profissão. O País atravessa hoje um estado de exceção, com violações de direitos humanos em larga escala. A começar pela violação do próprio direito ao voto, que abriu caminho para uma brutal retirada de direitos trabalhistas e sociais”, explica Saldanha.

Saldanha se refere ao projeto político antidemocrático que se sustenta por meio de um forte aparato repressivo judiciário, policial e midiático, que por sua vez alimenta o discurso de ódio, a perseguição, a discriminação.

“Por isso, precisamos ampliar nossa resistência e também promover um debate amplo junto à sociedade, sobre o que está ocorrendo e sobre as alternativas democráticas e populares para este cenário”, afirma.

De fato, a psicologia tem papel importante para pensar o indivíduo e a sociedade, o que impede pensar em saberes e práticas que não sejam engajados e dotados de senso crítico.

O Cine Debate valeu como um dia de defesa da Psicologia com compromisso social, já que nenhuma neutralidade é possível, ainda mais diante da barbárie. Contou com a presença, além de psicólog@s, de profissionais e estudantes de várias áreas e militantes de diversos movimentos, como o Levante Popular da Juventude, a Luta Antimanicomial, o Movimento Sindical e o Movimento de Mulheres. Havia estudantes de Jornalismo, Pedagogia, Biologia, Ensino Médio. Dentre os profissionais, assistentes sociais e professores marcaram presença no Cine Debate.

Ao final, foram sorteados exemplares do livro “Nise da Silveira: Encontros”, organizado por Luis Carlos Mello, com diversos artigos escritos pela psiquiatra militante da luta antimanicomial.

Clique aqui para ver o documentário no YouTube.

Madre mulher

Aline Martins, também dirigente do SinPsi, participou do evento e aproveitou para dialogar com a juventude presente.

“Conversar com diversos territórios nos dá possibilidade de perpassar os espaços, promover educação e reflexão. E foi isso que o Cine Debate nos proporcionou. No debate após o filme, discutimos a importância da Psicologia nos espaços sociais e de políticas públicas”, conta a jovem dirigente sindical.

O SinPsi pontua a relevância de se construir ações que respeitem a dignidade da pessoa humana, a criticidade e que integre diversos movimentos.

“Refletimos também a importância da madre como mulher, como uma figura de extrema importância no enfrentamento à ditadura e na organização da luta que possibilitou a conquista de muitos direitos que temos hoje. Apesar de ser uma das figuras mais importantes da História do Brasil, nota-se o pouco reconhecimento de Madre Maria Cristina. Ser mulher em uma sociedade machista, né?”, provoca Aline.

A represetante sindical Marcella Millano, também ligada a movimentos populares de juventude, também esteve presente e constatou que ter sido surpreendente e inspirador conhecer vida e obra de Madre Maria Cristina.

“Não tive a oportunidade de conhecer essa pensadora brasileira na minha graduação de Psicologia. Acredito que muitas lutadoras do nosso povo sejam invisibilizadas pelo patriarcado. Mas resgatar a vida e obra da Madre é de suma importância, pois ela é uma das responsáveis por difundir no Brasil a profissão como conhecemos hoje, utilizando-a como um instrumento de luta transformador da sociedade”, ressalta.

Levante firme na parceria

Parceiro nesse e em outros projetos do SinPsi, o Levante Popular da Juventude tem papel estratégico no propósito do sindicato de levar o debate sobre o mundo do trabalho para o ambiente jovem.

Para Amanda Gregório, militante do Levante, 24 anos de idade e estudante de Serviço Social, a parceria com o SinPsi se dá pelo fato de este ser um sindicato comprometido com a luta popular.

“Construímos juntos a mesma ferramenta de unidade: a Frente Brasil Popular, que tem desempenhado um importante papel nesse difícil momento que o Brasil enfrenta”, diz.

Amanda diz que o saldo do evento foi mais do que positivo.

“Muitos desconheciam a história de luta e resistência de Madre Maria Cristina. Isso renova a mística dos corações e mentes daqueles que, assim como a Madre, acreditam e constroem um novo dia. Esperamos fazer mais vezes”, finaliza.

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