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Em SP, mulheres fortalecem ações no Mês da Visibilidade Lésbica

Organizativo é composto somente por lésbicas e, apesar de ter o recorte específico e limitado em relação à orientação sexual, a diversidade se dá com a presença de mulheres de diferentes etnias, classes sociais e identidade de gênero

Durante todo o mês de agosto a cidade de São Paulo recebe uma programação com temática lésbica. A agenda conta com rodas de conversa, debates, oficinas, intervenções artísticas, exposição, sarau, festas e exibição de filmes. Na última segunda-feira do mês, dia 29 – data de comemoração da Visibilidade Lésbica no Brasil -, também está previsto um ato que terá concentração a partir das 17h, na Praça Roosevelt, centro da capital paulista.

As atividades são gratuitas e realizadas em todas as regiões da cidade formando um único calendário temático. O objetivo do evento é realizar um resgate da história do movimento lésbico na luta por respeito, direitos e visibilidade.

Este ano, no intuito de fortalecer e afirmar a data, a construção do Mês da Visibilidade Lésbica foi feita de forma aberta e coletiva por mulheres. As reuniões, que acontecem desde junho, foram semanais e em todas as regiões da cidade, aumentando assim a possibilidade de participação de lésbicas das mais variadas realidades, histórias e com as mais diversas demandas. O organizativo é composto somente por lésbicas e, apesar de ter o recorte específico e limitado em relação à orientação sexual, a diversidade se dá com a presença de mulheres de diferentes etnias, classes sociais e identidade de gênero.

Luiza Coppieters, 37, professora de filosofia, conta que o mais interessante dessa organização é que grupos diferentes podem conviver, dividir espaço e somar com ideias e propostas em comum, como é o caso de feministas radicais e mulheres transexuais.

“Sou uma mulher trans. E ser uma mulher lésbica e transexual na nossa sociedade é estar numa condição social em que a transfobia é tão violenta a ponto de eu nem conseguir sofrer lesbofobia porque, ao me negarem a condição de mulher, também me negam, consequentemente, a condição de lésbica. Nesse contexto de não reconhecimento e exclusão constantes, a participação de lésbicas transexuais – e não só de lésbicas cisgênero -, significa uma inclusão extremamente importante e necessária”, explica.

A professora de sociologia Anamaria Modesto (33), que nunca havia participado de movimentos sociais ou estudantis, ingressou recentemente no movimento lésbico e feminista. Ela afirma que a existência de uma organização lésbica é fundamental e que esse grupo serve como rede de apoio e proteção para mulheres que não se encaixam dentro do padrão heteronormativo.

“Este é um momento marcante do país. Todas as mulheres, sobretudo as que não se relacionam com homens, estão sofrendo ataques frequentes de uma forte frente conservadora e intolerante, que cada vez mais cresce na nossa sociedade. Por isso é tão necessário irmos para as ruas mostrar a nossa resistência feminista e promovermos espaços de troca e partilha de experiência entre nós”, completa a professora.

Segundo os dados do relatório anual do Grupo Gay da Bahia, em 2015 foram contabilizados no país 318 homicídios por casos de LGBTfobia, sendo que 16% das vítimas eram lésbicas.

Para Fernanda Gomes (28), aluna bolsista da Fundação São Paulo do curso de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), estar na construção do Mês da Visibilidade Lésbica é um dos passos mais importantes da vida de uma mulher homossexual, para que ela possa se reconhecer nas opressões de outras e, juntas, ter mais força para lutar.

“Sou lésbica, sou solteira, sou mãe de um menino de 5 anos, sou negra, sou gorda e sou periférica. Portanto, meu corpo é alvo de vários tipos de preconceito numa sociedade machista, racista e misógina. É essencial para minha vida poder me afirmar diante da sociedade, além de escurecer mais o movimento de mulheres lésbicas, lutando contra o racismo, a gordofobia, contra o genocídio da juventude pobre e negra, contra o higienismo do Estado e pela tão sonhada emancipação da mulher preta sapatão”, conta. 

Contexto

A história do dia 29 de agosto tem início no ano de 1996, quando ocorreu o primeiro Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE) na capital carioca, promovido pelo Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro (COLERJ). Nesse encontro, o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica foi instaurado pelas ativistas ali presentes.

O organizativo do Mês da Visibilidade Lésbica afirma que todas se comprometem com a construção horizontal do movimento, pautada em muito diálogo e tolerância, e que nos eventos não será acatado nenhum tipo de posicionamento machista, racista, elitista, bifóbico, lesbofóbico, transfóbico, etarista ou capacitista. Explicam também que pretendem que o movimento se fortaleça com a chegada de mais mulheres, que siga livre de estereótipos e continue sendo verdadeiramente inclusivo.

Serviço:

O quê? Mês da Visibilidade Lésbica
Quando? Programação durante o mês inteiro de agosto, com o ato no dia 29/08
Quanto? Tudo gratuito
Mais informações e programação completa, é só clicar aqui.

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