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Espetáculo encena histórias do Juquery dentro do hospital psiquiátrico

A Rotunda era o espaço onde ficavam os pacientes em estágio mais agudo de doenças mentais no Complexo Hospitalar Juquery, em Franco da Rocha. Foi exatamente este o local escolhido pelo Teatro Girandolá para encenar Juquery – Memórias de Quase Vidas, uma peça que mergulha na história da formação das cidades que hoje integram a região da Bacia do Rio Juqueri e de pacientes que viveram e/ou ainda vivem sob tratamento naquele que é um dos maiores hospitais psiquiátricos da América Latina. A temporada vai de hoje (6) a 11 de dezembro, todos os domingos, às 17h.

Este é o quarto trabalho do grupo formado em 2007 naquela região. Suas criações procuram promover diálogos com a comunidade local e discutir assuntos que fazem parte do cotidiano da área onde atuam: Mairiporã, Franco da Rocha, Francisco Morato e Caieiras, cidades que têm histórias intrinsecamente ligadas ao Complexo Hospitalar do Juquery.

“O município de Franco da Rocha nasce e cresce em torno do hospital, desfrutando de todas as glórias, estigmas e dores desses 118 anos de história. Referência psiquiátrica no início do século 20, por volta de 1960, o hospital e seu modelo de tratamento começam a entrar em decadência; superlotado, chegou a ter mais de 14 mil pessoas internadas, rendendo ao município de Franco da Rocha, a alcunha de ‘cidade dos loucos’. Todos os integrantes do Teatro Girandolá cresceram e vivem nessa região, dessa forma, a história do Complexo Hospitalar do Juquery sempre esteve muito presente em nossas vidas”, afirma a diretora da peça Fabia Pierangeli.

Além de resgatar fatos e lembranças de pessoas que viveram, vivem e trabalham no hospital, o grupo utilizou livros, registros e prontuários médicos como base de pesquisa para criar coletivamente a peça. “Para a criação do nosso espetáculo, nos valemos de pesquisas bibliográficas, cinematográfica e de campo. Nas pesquisas de campo conversamos com moradores da cidade de Franco da Rocha, com pacientes e funcionários do hospital e eles foram essenciais para o processo criativo. Além disso, desde 2013, desenvolvemos quinzenalmente uma oficina de sensibilização e troca artística dentro do Juquery, com os pacientes que ainda hoje residem lá. As cenas e texto do espetáculo foram surgindo, em sala de ensaio, a partir de experimentos cênicos, conforme nos aprofundávamos na pesquisa”, detalha Fabia.

A diretora conta que o grupo teve contato com muitas questões tocantes, mas optou por criar cenas e personagens que agregassem todas as histórias. “O que mais nos chocou foi a constatação de que milhares de pessoas tiveram suas vidas ‘roubadas’ pela institucionalização. Milhares de pessoas passaram uma vida inteira confinadas pelos muros do Juquery. Pra gente, ainda hoje é difícil de imaginar o que significa passar 40, 50, 60 anos vivendo dentro de um hospital psiquiátrico. Tivemos contato com pessoas que chegaram ainda criança no Juquery, com 5, 6 anos de idade, e que hoje já estão chegando aos 80 anos e ainda estão lá. Esse tipo de história nos trouxe tristeza e nos fazia ficar tentando imaginar o que teria sido daquela pessoa se ela não tivesse sido internada. Muitas vezes, diante dessas pessoas, tentávamos imaginar quantos sonhos haviam ali, aprisionados, junto daqueles corpos”, lamenta.

Segundo a diretora, um dos objetivos de Juquery – Memórias de Quase Vidas é combater os estigmas ligados às doenças mentais. “Uma das principais reflexões que o espetáculo propõe é o questionamento sobre o quão tênue é o fio que separa a loucura da sanidade. Nem sempre algo que é considerado normal, é necessariamente algo são”, afirma Fabia Pierangeli.

Clique aqui para ver vídeo de apresentação do espetáculo.

Juquery – Memórias de Quase Vidas
Quando: aos domingos, de 6 de novembro a 11 de dezembro, às 17h
Onde: Prédio da antiga Rotunda, no Complexo Hospitalar do Juquery
Avenida dos Coqueiros, 300, Centro, Franco da Rocha (SP)
Quanto: grátis, com retirada de ingressos uma hora antes das sessões
Classificação: 16 anos
Lotação: 40 pessoas
Mais informações: (11) 4488-8524

Ficha Técnica
Texto: Teatro Girandolá (em processo colaborativo)
Dramaturgia: André Arruda
Direção: Fabia Pierangeli
Atores criadores: André Arruda, Mariana Moura, Meire Ramos, Roseli Garcia, Silvia Sapucaia e Shirla Pereira
Figurinos: Silvia Sapucaia
Adereços: Silvia Sapucaia, Pedro Quintanilha e Teatro Girandolá
Concepção de espaço cênico: Teatro Girandolá
Trilha sonora: Teatro Girandolá
Músicas: Mariana Moura e Naruna Costa
Iluminação: André Arruda e Fabia Pierangeli
Preparação corporal: Adriana Souza
Colaboração na pesquisa: Andréa Amorim
Produção executiva: Ôxe! Produtora Comunitária
Produção gráfica e fotos: Roger Neves
Realização: Associação Cultural Conpoema

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