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Hypolito caiu e foi lidar com as emoções: ‘Não deixei que os tombos fossem maiores que minha vontade de vencer’

“Em Pequim, caí de bunda. Em Londres, caí de cara. Aqui, caí de pé.”

Este é o ginasta Diego Hypolito falando sobre seus desempenhos nas Olimpíadas de Pequim (2008), Londres (2012) e Rio de Janeiro (2016).

Mas ele também poderia estar falando sobre a limitação de todos os seres humanos.

O problema é que, quando ele caiu, veio junto uma enxurrada de críticas cruéis e de desconhecimento quanto a essa nossa garantia de vida: vamos cair e levar tombos na vida. Bastante.

Felizmente, o ginasta persistiu, e nos deu um baita exemplo. Muitos anos se passaram até que ele não só se reerguesse como, também, transformasse os erros em aprendizados. Neste intervalo, muito trabalho foi feito, lidando com treinamentos intensos, com dores, com críticas, com a própria noção de que nem mesmo os atletas são infalíveis e, sobretudo, com ajuda profissional para lidar com as emoções.

Diego, aquele que caiu, é também aquele que subiu ao pódio no último domingo (14) com a medalha de prata, fruto de um valioso segundo lugar após sua apresentação solo na ginástica artística.

“Foi muito difícil eu superar e acreditar que estaria aqui. Foram 10 cirurgias, duas edições de jogos caindo, depressão que eu enfrentei, coisa que eu não achava que era real”, explicou o atleta nesta segunda-feira (15), durante coletiva de imprensa.

A inspiração para todo o percurso de se levantar e tentar de novo veio do piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, da irmã, a ginasta Daniele Hypolitho, da amiga Daiane dos Santos, também ginasta, e do tenista Guga.

“O esporte não é uma briga, como muitas vezes as pessoas colocam. Não quero que o atleta se machuque ou caia para que eu vença. Quero simplesmente vencer pelos meus objetivos, porque eu consegui, porque eu trabalhei.”

E em meios aos tombos, Diego enfrentou uma dolorosa queda de perspectiva, repleta de sofrimento: A depressão. A situação se tornou insustentável no fim de 2013, quando se mudou do Rio de Janeiro para São Paulo, para treinar, explicou Diego ao UOL em 2014:

“Eu não tinha controle sobre nada. Temos o hábito de achar que somos invencíveis, mas ficava um caminhão de problemas na cabeça e não conseguia resolver nada. E nesta história, eu tinha de treinar. E é difícil ter motivação quando você está em um clube de favor, sem patrocínio, morando em um cubículo, longe da família. Eu não conseguia me acostumar à cidade. São milhões de coisas que atrapalham.”

Durante a coletiva desta segunda-feira, Hypolitho destacou o trabalho psicológico feito com os ginastas, fundamental para o desempenho dele na Rio 2016.

“Existiu um apoio muito maior. Faço parte de uma geração que no início não teve absolutamente nada para os Jogos Olímpicos. Parece hipocrisia mas não é. Tínhamos uma fisioterapeuta dedicada só para a gente, uma psicóloga em conjunto… a gente teve uma equipe que jamais imaginou.”

Se antes ele não acreditava no potencial da análise e da psicologia, agora ele tem orgulho em rever este pensamento, e é pura gratidão à profissional que o ajudou, Sandra.

“Tenho certeza que fazer análise durante esses quatro anos me ajudou muito. Não tanto pela questão motivacional, mas por me equilibrar, não deixar que os fantasmas do passado me atrapalhassem e que os medos fossem maiores que a vontade de vencer. Isso foi muito bom. Antes eu não dava valor nenhum à análise e à psicologia, e muitas vezes, por preconceito, as pessoas achavam que era coisa para gente louca. Mas descobri que é para todas as pessoas”.

Questionando sobre seu “sumiço” das redes sociais durante a competição, Diego explicou que o afastamento também teve muita importância para que ele conseguisse focar nos objetivos olímpicos.

“Todo mundo me perguntava porque não dávamos entrevista e publicávamos as coisas. E isso foi fundamental para conquistarmos a medalha… Você fica muito aberto a muitos críticos. Eu não queria que nada desfocasse meu objetivo, meu sonho de ser medalhista olímpico e ajudar a equipe. Sumi de tudo. Não olhava site, não respondia WhatsApp. Foram raras as pessoas com quem falei durante esse período. Optei por esperar até a reta final, até a classificação por equipes. Desde o fim do treinamento eu não publiquei nada em rede social. Isso me ajudou demais.”

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