Ativistas se reúnem hoje (25) para discutir a desmilitarização da PM
São Paulo – Ativistas de movimentos sociais liderados pelo Comitê Contra o Genocídio da Juventude Negra se reúnem hoje (25) no Sindicato dos Advogados de São Paulo para definir ações de combate à violência policial sofrida pela população pobre, negra e moradora da periferia da cidade e cobrar respostas do governo do estado de São Paulo. O encontro está marcado para as 19h.
O objetivo, segundo Douglas Belchior, da Uneafro, é barrar a escala de violência cometida por policias contra essa população. “Precisamos dar resposta às ações violentas e aos assassinatos praticados por milícias e policiais em serviço”, disse em entrevista à Rádio Brasil Atual. Ele acusa o governo do estado de São Paulo de compactuar com a truculência policial. “Exigimos que o estado tenha uma postura e termine com estas mortes. Temos de ser radicais como movimento, porque o estado está sendo radical contra a vida do povo negro.”
A desmilitarização da Polícia Militar é apontado pelo dirigente da Uneafro como a solução para acabar com as mortes da população pobre, negra e periférica, que classifica esse tipo de violência como um resquício da ditadura militar. “A manutenção da PM no Brasil é resquício direto da ditadura. Num Estado de direito democrático não é possível imaginar uma polícia como a que nós temos, que é dirigida à segurança da propriedade privada.”
Douglas lembra das diferentes posturas que a PM adquire nas regiões: a presença ostensiva nos bairros das elites paulistanas representa segurança, enquanto nos bairros periféricos representa ameaça à população. “O debate sobre a desmilitarização é muito importante. Não é possível manter a polícia com a postura militar e violenta que tem a partir do poder das armas que possui.”
A violência policial também atinge aqueles que protestam contra os abusos. Débora Maria da Silva, fundadora da Associação Mães de Maio, grupo de mães que tiveram seus filhos assassinados pela polícia em maio de 2006, em episódio conhecido como “Maio sangrento”, presenciou uma abordagem policial violenta na semana passada.
Após participar de debate sobre direitos humanos em Goiânia, a ativista e debatedores foram interceptados por uma viatura policial. “Apontaram o revólver, fizeram estardalhaço e chamaram reforço. Apareceram mais dois policiais, se apresentando como comandantes da área e nos chamaram de vagabundos, falando que todos os envolvidos com direitos humanos não têm o que fazer”, diz Débora .
A ação em protesto contra a violência policial que atinge a população das periferias foi lembrada por Douglas como um exemplo a ser seguido em manifestações que serão realizadas no mês da consciência negra. “Ocupamos o Shopping Higienópolis com uma grande marcha para dizer à classe média de São Paulo que o povo negro brasileiro tem poder de reação. Vamos pensar numa ação a esta altura para o mês da consciência negra, para dizer que não aceitamos mais perder a juventude negra nas mãos da PM, que está a serviço das elites brasileiras”, diz.
Ouça aqui a reportagem de Lúcia Rodrigues.